quinta-feira, 3 de novembro de 2016

VIOLÊNCIA URBANA NO RJ - "RIO TEVE 3.087 MORTES DE PMS EM 22 ANOS"

“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)

"Coronel diz que, no mesmo período, houve 13.735 feridos

POR ELENILCE BOTTARI E MÁRCIO MENASCE

03/11/2016 4:30 / atualizado 03/11/2016 8:54



RIO - Um levantamento feito pela PM mostra que 3.087 policiais militares foram mortos de 1994 a 2015 no Estado do Rio. Segundo o chefe do Estado-Maior do Comando de Policiamento Especializado, coronel Fábio Cajueiro, em termos percentuais, o número de mortos na corporação é maior que o de baixas nas Forças Armadas dos Estados Unidos em qualquer guerra de que o país participou, incluindo a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais.

— Nestes 22 anos, 90 mil homens serviram na PM e morreram 3.087, uma taxa de 3,43%. Na Primeira Guerra Mundial, a taxa de mortalidade dos militares americanos foi de 2,46%. Ou seja, é muito mais perigoso ser policial no Rio do que fazer parte do Exército americano — diz Cajueiro.

MORTES NA HORA DA FOLGA

Segundo a deputada estadual Marta Rocha (PDT), ex-chefe da Polícia Civil, os agentes morrem mais quando estão de folga do que em serviço. Foi o caso do policial civil Alexandre Corrêa, morto anteontem em São Cristóvão.

— Quando o policial está de folga e presencia um crime, ou é vítima, ele precisa intervir, não pode fingir que não vê. Isso está na natureza dele, na sua vocação. Ele não é policial apenas no momento em que está na delegacia ou no batalhão. Além disso, se ele deixar de intervir e alguém o identificar como policial, com certeza ele vai ser cobrado — disse a deputada.

Para a delegada Marta Rocha, é preciso que o governo do estado faça um estudo mais aprofundado sobre o que provoca a morte de tantos policiais nas ruas do Rio:

— Falta um estudo real para demarcar dias, horários e locais dessas mortes, para que seja feito um mapeamento, uma análise mais completa sobre o que está atingindo esses homens. É preciso conhecer melhor esse fenômeno. Apenas assim, será possível tomar medidas eficazes para resolver o problema."

MEU COMENTÁRIO

Com todo respeito à deputada estadual e delegada de polícia Martha Rocha, as razões para tantas mortes são mais que óbvias, assim como se sabe com acerto onde elas ocorrem, é só acompanhar miudamente o noticiário policial para se afirmar sem erro que o grosso das mortes situa-se no Grande Rio, com predominância da Capital nesta sangrenta estatística. Também sobre o que está atingindo esses policiais civis e militares é fácil depreender: a violência impune de bandidos armados com fuzis de última geração fabricados mundo afora. Também não é difícil traçar o perfil dos matadores: anônimos quadrilheiros ligados a facções criminosas que traficam drogas em todas as favelas do RJ, geralmente menores de idade e jovens que não ultrapassam os vinte anos.

Dentro desta linha de raciocínio, também não é difícil afirmar que, embora o esforço de investigação da PCERJ seja hercúleo, a quantidade de assassinatos de policiais e de cidadãos civis não permite aos investigadores alcançar todo o seu universo, ficando muitos crimes sem elucidação e logo esquecidos, eis que atropelados por outros acontecimentos criminosos que se lhes superpõem em tempo, modo e lugar. Quanto ao modo, nem tanto, o que mais se vê é bandido matando quem não cumpre a sua ordem de parar o veículo, como foi o caso da jovem dentista ocorrido na semana passada. Ou quando um policial, sem alternativa, já sabendo que será executado, tenta como medida derradeira reagir depois de surpreendido. Mais cruciante ainda é quando o policial está acompanhado da família, o que naturalmente inibe sua reação, tornando-se ele alvo mais fácil da sanha assassina desses malfeitores que se lixam para punição legal e não temem a morte. Tais como soldados em guerra... Por fim, como causa maior deste absurdo, basta lembrar aqui o Marquês de Maricá e seu célebre aforismo: “A ordem pública periga onde não se castiga.”

Sim, o policial morre reativamente porque a polícia em geral não consegue ser proativa, não se antecipa aos acontecimentos criminosos desde quando as drogas e as armas penetram no nosso “queijo suíço” denominado Brasil. Também responde pelo absurdo a facilidade com que um assassino desses que infestam feito peste bubônica o ambiente social do RJ entra e sai da cadeia mesmo sendo reincidente contumaz. Nem vou mais longe porque, se o fizer, estarei reduzindo o meu discurso ao chavão “bandido bom é bandido morto”, que bateu recorde em pesquisa de opinião junto à sociedade brasileira há poucos dias. Não chego a tanto, mas não posso deixar de reclamar que os formadores de opinião que ocupam largo espaço nos noticiários tendem a se desviar da realidade por conta de ideologias baratas e de proselitismos que agradam à mídia em geral divulgar para poder anunciar o absurdo sem sair da coluna do meio, o que eles costumam chamar de “neutralidade”.

Em tempo:

"Querem prevenir os crimes? Fazei leis simples e claras, e esteja a nação inteira pronta a armar-se para defendê-las, sem que a minoria de que falamos se preocupe constantemente em destruí-las." (Cesare Beccaria, in Dos Delitos e Das Penas)

É o que basta!

http://oglobo.globo.com/rio/rio-teve-3087-mortes-de-pms-em-22-anos-20403440

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