“O mundo está
perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa
dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)
JORNAL EXTRA, de 02/10/16 13:10 Atualizado em 02/10/16
13:15
Imagem mostra grupo de traficantes se preparando para invadir Morro da Coroa
Uma foto feita durante a noite de sexta-feira retrata o terror sofrido por moradores dos bairros do Catumbi, Rio Comprido e Santa Teresa, na região central do Rio. Numa guerra entre facções rivais do tráfico, bandidos do Fallet e do Fogueteiro, reforçados com traficantes da Providência, no Centro, tentaram invadir o Morro da Coroa, também no Centro, nas proximidades do Cemitério de São Francisco de Paula, no Catumbi.
Segundo agentes da Polícia Civil que investigam o tráfico na favela, a tentativa de invasão foi uma resposta à incursão de criminosos do Morro do São Carlos, ocupado pela mesma facção da Coroa, ao Turano, no Rio Comprido, há 20 dias. O Morro da Coroa abriga uma UPP há mais de cinco anos.
Os confrontos duraram toda a madrugada de sexta e só pararam no início da tarde de sábado. A Rua Itapiru, principal via de acesso à favela, foi fechada pela PM. Assustados com o tiroteio, motoristas chegaram a voltar de ré pelo Elevado Paulo de Frontin, via que leva ao Túnel Rebouças. Entretanto, a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) informou que não havia mortos nem feridos. Após um ataque de traficantes a PMs na noite de sexta-feira, o policiamento foi reforçado no local por equipes do Batalhão de Polícia de Choque (BPChoque), 4º BPM (São Cristóvão) e de outras UPPs.
Ainda de acordo com o CPP, quatro pessoas foram presas. Três homens foram capturados e dois fuzis apreendidos no Morro da Coroa. Já no Fogueteiro, outro homem foi preso e mais de duas mil trouxinhas de maconha apreendidas, além de dois tabletes de maconha prensada.
MEU COMENTÁRIO
O
impressionante aparato bélico dos traficantes, como mostra a foto, sublinha bem
a dimensão do poder marginal no Rio de Janeiro e sua desfaçatez ante o poder
público, em especial o representado pela polícia, tanto civil como militar. Isto
no Morro da Coroa, que tem Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), o que soa
hilariante. A verdade é que os bandidos têm o domínio do tempo e do espaço e
agem como se não houvesse poder público capaz de impedi-los. Aliás, na prática
não há, mesmo, pois a foto dos bandidos antes do ataque não permite dúvida
quanto a isso.
É bem
verdade, porém, que o grosso do efetivo da PMERJ e da PCERJ, ainda reforçado
pelas Forças Armadas, estava às voltas com o processo eleitoral. Por outro
lado, isto prova que a PMERJ, principalmente, não dispõe de efetivos para
cobrir simultaneamente espaços e tempos diferentes. Vantagem para os traficantes,
que, decerto, levaram tal óbice em consideração e partiram para a sua guerra
particular contra o grupo rival, este que, por sua vez, deveria estar preparado
para o ataque. Eis o aparato policial num fogo cruzado, quase que como os
favelados...
Ora, se a
sociedade pudesse assistir a tudo isso de camarote, se não houvesse milhares de
famílias no meio do confronto bélico, até se poderia ter o fato como mais um
espetáculo gratuito de violência real, talvez mais violento que cenas de
cinema. Mas não. Entre os belicosos estão crianças e adultos que sofrem com a
miséria e ainda ficam expostos aos azares de um banditismo incontrolável, que
não se rende à repressão policial (sempre reativa) e não se renderá ao poderio bélico das Forças
Armadas, que, aliás, não existe para combater bandidos, e a insistência do seu
uso poderá descaracterizá-las e desmoralizá-las perante a opinião pública
nacional, o que a elas não interessa de modo algum.
Também não
pode uma polícia de serviços se tornar totalmente bélica por conta do poderio do
tráfico em zonas urbanas. Não pode o policial sair do asfalto e de seus
multifacetados afazeres para se dedicar com exclusividade ao combate a
traficantes, como se os demais crimes, mais ainda acirrados devido às drogas,
pudessem esperar pela oportunidade da ação policial, digamos que comum,
corriqueira, resumida naquelas inevitáveis ocorrências policiais que não deixam
sossegado o telefone 190. Como se vê, a segurança pública pátria, como modelo
estrutural, precisa ser revista com urgência, pois os problemas de descontrole
da ordem pública atingem hoje a todos os brasileiros, ricos ou pobres.
Creio que é
urgente a alteração do modelo estrutural da segurança pública a partir de ampla
discussão e reestruturação do texto da Carta Magna, de modo que suas
imperfeições e lacunas sejam imediatamente sanadas. Ideias é que não faltam,
conhecedores do problema são muitos, só é preciso vencer o corporativismo e a
sede de poder de organismos de segurança pública que mais se preocupam em
ampliar seus carcomidos poderes institucionais, estes, nossos conhecidos, que
não atingem nenhum objetivo em relação à violência e ao crime Brasil. Enquanto
isso, o país afunda a olhos vistos ante uma criminalidade urbana e rural que
desde muito tempo ultrapassou o limite da calamidade social.
Ah, quando falo em organismos de segurança pública refiro-me ao Sistema de Justiça Criminal (ou Sistema de Segurança Pública), que a Doutrina do Direito Administrativo da Ordem Pública nos costuma ensinar como sendo o somatório globalístico (o todo maior que a soma das partes) dos sistemas e subsistemas: Justiça Criminal, Ministério Público, Leis Penais e Processuais Penais, Advogados Criminais, Polícias em geral (administrativa e judiciária, federal e estaduais), Guardas Municipais, Sistemas e subsistemas carcerários etc.
Enfim, enquanto o assunto não for tratado em conjunto, em vez de se reduzir a proposições casuísticas, como as tais dez medidas propostas pelo MPF ao Parlamento pátrio como salvação da lavoura e mediante pressão midiática distanciada da técnica e voltada somente para a a ampliação particular de poder, enquanto for assim o Brasil só "avançará para trás" no controle real e globalístico da violência e do crime, este como a mais importante causa daquela.
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