terça-feira, 2 de agosto de 2016

VIOLÊNCIA URBANA — A PMERJ e seu PM



“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)


UMA RELAÇÃO DE UNIÃO OU DE DISSENSÃO?



Segundo nos ensina Idalberto Chiavenato, mestre em Teoria Geral da Administração respeitado mundo afora, na sua edição compacta sobre Recursos Humanos (Ed Atlas S.A. – São Paulo - SP, 1983) Capítulo 3 (As Pessoas e as Organizações), “o relacionamento indivíduo x organização nem sempre é um relacionamento cooperativo e satisfatório”.



Nem é preciso muito aprofundar para sabermos que se trata de dicotomia corriqueira no mundo capitalista, especialmente, claro, no mundo civilizado e democrático, mas que, enfrentada e vencida em muitas organizações, ela está longe de ser posta na mesa da PMERJ. E aqui indago: até que ponto a assertiva serve aos militares estaduais? Fechando a mais e mais o zoom, repito a pergunta: até que ponto dicotomia é reinante na PMERJ?



Ora bem, não há resposta para as indagações porque a PMERJ, da última vez que resolveu indagar numa pesquisa, com amostragem distribuída conforme os postos e as graduações, qual a “qualidade que mais admirava em seus superiores”, oferecendo como respostas fechadas diversos adjetivos positivos, como: inteligência, cultura, honestidade, competência, educação etc., mas culminado com a resposta “nenhuma” como complemento, esta ganhou com mais de 70% dos votos. A maioria dos entrevistados, claro, era de graduados e praças, do que se infere uma preocupante dissensão entre oficiais, graduados e praças.



Na época (1983), eu era major e respondia interinamente pela chefia da 5ª EM, responsável por Relações Públicas e Assuntos Civis. Ao assumir tal incumbência, dei com o resultado da pesquisa encomendada ao IBOPE pelo então comandante-geral, Cel PM Carlos Magno Nazareth Cerqueira, enfiada numa gaveta. Analisei-a e com ele comentei o absurdo, depois de perscrutar ponto por ponto toda a pesquisa, inferindo de cada pergunta e das respostas o pensamento predominante na tropa, claro que colhido anonimamente.



Mas a questão da “nenhuma qualidade” me espantou. Bem, nem tanto, mas fez com que eu me reportasse ao comandante para saber dele que faria diante de tão absurda constatação decorrente duma pesquisa de natureza científica. Ele reagiu me mandando assinar para assumir individualmente a minha inferência e difundi-la para todos os comandantes, chefes e diretores. Como quem diz: fez, então assuma. Fiz e assumi.



E recebi dos agraciados com uma cópia, curiosamente, a mesma reação anotada naquela pergunta: “nenhuma reação”. Enfim, todos se lixaram para a pesquisa e seguiram em frente utilizando os mesmos métodos tacanhos de relacionamento entre superiores e subordinados, sendo certo que cada qual, dos andares de baixo, apenas torcia pelo escorrer do tempo e pela chegada da inatividade, todos sonhando por ser verem livres dos grilhões disciplinares. Já os de cima, apenas esperam, ainda hoje, o seu momento de topo da pirâmide para maltratar aqueles do topo que antes os ignoraram e/ou maltrataram-nos, não se cuidando aqui de amizades individuais, porque não refletem a regra do círculo vicioso histórico, mas apenas exceção.





 

Como já fui soldado PM, depois tenente-coronel comandante de Unidade Operacional, tendo passado por todos os concursos e cursos, gozo por meu comportamento amistoso e solidário com a tropa certa credibilidade individual e coletiva. Claro que não falo de unanimidade, tive problemas insanáveis com alguns poucos subordinados, mas enfrentei problemas especialmente com superiores. Daí não me ser difícil apostar que atualmente o grau de credibilidade do superior em relação do subordinado, — e me refiro a postos e graduações, — se insere como luva na máxima de Idalberto Chiavenato.



Mas, para provar o que afirmo, haveria de haver alguém, — que poderia ser uma entidade que se diz “representativa” da tropa, tanto faz se de oficiais, de praças ou mista, — alguém que se arriscasse a patrocinar uma pesquisa deste quilate sem temer o resultado. Não precisaria de muitos desdobramentos, é fácil selecionar um rol de perguntas e de respostas, mantendo-se o anonimato do entrevistado. Nem é preciso autorização para tanto, pois a pesquisa pode alcançar a tropa de serviço nas ruas em abordagens seguras e anônimas. Melhor seria difundir antes, via imprensa, que a pesquisa seria feita, para que os PMs não se recusassem a responder a medo de seus superiores.



Olha, gente, creio que o desfecho seria assustador, e mais ainda o seria se a pesquisa percorresse as residências dos PMs e seus familiares fossem a voz deles. Aí é que o bicho iria pegar e a organização PMERJ teria de se enfiar num buraco para sair no Japão. Isto no mínimo. Mas se a própria organização PMERJ ousasse repetir a mesma pesquisa, que deve estar arquivada na 5ª EM, se não a jogaram no lixo, haveria uma forte probabilidade de marcar o mesmo resultado avassalador (a probabilidade aqui é sem plágio do uso corrente deste vocábulo junto com outro – possibilidade – formando uma espécie de binômio avaliador de atentados terroristas).



Aguardemos... A provocação está no ar. Que os presidentes de entidades de oficiais e praças que me leem pensem no assunto. Poderiam até indagar dos entrevistados o que eles pensam das próprias entidades, além da PMERJ. Pode ser que o resultado seja tão aterrador que seu destino mais uma vez seja a lixeira e o esquecimento. Mas se for aterrador, é fácil concluir que tipo de homem está nas ruas para proteger os cidadãos, mesmo morrendo como patos nas mãos assassinas dos impunes facínoras.



Quem vai pagar pra ver?...







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