“O mundo está perigoso para se viver! Não por
causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta
de que não viram.” (Albert Einstein)
Mais PMs sendo assassinados, e também bombeiros, e
policiais civis, e agentes penitenciários!... E nós culpamos o pico da pirâmide
esquecendo que não somos unidos na base. Há mil e uma entidades representativas de PMs,
de PCs, de BMs, de Agentes Penitenciários, de GCMs, o que, contrário senso, só demonstra
desunião. As categorias jamais se reúnem em vista de objetivos comuns, e me parece
que o temor principal dessas entidades ditas “representativas” é o de perder o
dígito e não ter mais o pinga-pinga dos descontos nos milhares de contracheques
que ao fim e ao cabo soma milhões. Cá entre nós, o pinga-pinga funciona como a
arrecadação de um isolado ponto de jogo do bicho, que pode ser de centavos, mas se somados alcançam fortunas, pois são muitos os pontos e muitos os jogadores
esperançosos de acertar no burro e salvar o mês, ou até comprar um carro.
Tudo quimeras de desesperados à espera da morte,
sempre submetidos à mesma vida de “gado de rebanho”: sem vontade. E por ser a
maioria sem vontade, fica na fila do abate sem forças para reagir. Esta imensa
maioria resigna-se facilmente, entrega-se ao conformismo e não se reúne a não
ser em situações extremas, e quando o faz reage erradamente, em descontrolada
revolta de poucos que enlouquecem e partem para uma violência suicida.
Enfim, a maioria absoluta não possui iniciativa própria
de se reunir sem a interveniência de um "líder de ocasião", que num
instante de desespero consegue convencer poucas gentes, que, curiosamente, se sentem muitas em relação ao todo, mesmo sendo pequena parte. Mas
como o todo é numericamente monumental, institui-se a falsa impressão de que a
pequena parte fala a linguagem dos muitos ausentes. Mas não
fala! Só faz um barulho de cometa que se destrói ao tocar a atmosfera;
não se faz ouvir como o som do Universo; não consegue nem mesmo que o seu
silêncio represente-o num tal estrondo que repercutiria no mundo e faria
estremecer os arrogantes que decidem por todos como o dono da boiama decide
quando e como enfileirará o gado para o abate.
Tal situação de inércia, hoje até um pouco vencida
pelas chiadeiras virtuais, torna essas fortes categorias nada mais que massas enfraquecidas,
conformadas, submissas, porque ficam todos esperando o som de uma só voz que as
represente no mundo real, que é injusto e cruel, tal como são cruéis os matadores de gado
dos quais dependemos para também comermos nosso churrasco, e aí fica tudo bem.
Não sei se me faço entender, mas tentarei me comunicar
por meio de poemas. O primeiro deles, pequeno, de Cecília Meireles, diz muito
ou quase tudo:
“Vede os pequenos tiranos
Que mandam mais do que o Rei
Onde a fonte do ouro corre
Apodrece a flor da lei.”
E assim caminham as supracitadas categorias, ou seja, ausentes
e submissas aos “pequenos tiranos”, que não querem perder o dígito do Rei e as
benesses do Reinado. Mas haverá o dia em que um galho seco quebrará no pasto
pela força do vento, e a boiama reagirá, e a tragédia se repetirá como em
Vigário Geral, por meio de poucos que darão a vida e a liberdade a troco de
nada, pois não conseguirão reverberar com seu barulho o som do Universo, que é
o do poderoso silêncio a avisar sobre a obra de Deus.
Mas como reunir todos senão em mirrados rebanhos
controlados pelos “pequenos tiranos”, com todas as cabeças a olharem o chão
enquanto pastam apertados nos piquetes doados pelo Rei?...
Não sei!...
Mas sei que um dia haverá o Estouro da Boiada, como
desenhou o poeta Antônio Miranda Fernandes, e se sobrarmos permaneceremos
pastando e esperando a morte em outro "estouro":
Foi numa tarde junina de sol suado!
Vinha emergindo a boiada profusa...
Surgindo sobre passos arrastados,
Despontando da poeira ocre difusa.
Saía a boiama confusa e cadenciada
Ruminando e olhando para o chão...
E de sinos dispersos, as badaladas,
Iam tocando a massa em procissão.
Em balada profética de triste agouro...
Com pegadas de sofrimento no sertão,
Caminhando resignada ao matadouro
Mugindo! Entoando, estranha oração.
Por vezes... Uma rês cheirava o vento
Com olhar incendiado de condenado,
Bramia profundo e mórbido lamento
Mas ia, indiferente ao destino traçado...
Volvia à marcha da sorte derradeira...
Entrecortando a lamentação chorada
Tangida pelo “tocador” da bandeira;
Vermelha... Manchada e esfarrapada!
E os chocalhos na poeira dispersos...
Entoavam canto lúgubre e intrigante!
Desalentos, de uma nota só, em verso,
Mais tristes com o tanger do berrante.
Do peão que com esporas prateadas,
Montava cavalo de suor e salgado olhar
Que escorria pó pelas ventas molhadas
E ferraduras faiscando fagulhas no ar...
Quando quebrou em instante preciso
O galho de árvore que cai estalando...
Em cima de uma rês que... sem aviso,
É assustada e escoiceia disparando...
Outras que mugem, tropeçam e rolam;
Alando chispas braseiras num clarão!
Cabeças e chifres confusos se tocam...
O sangue jorra vermelho para o chão!
Chifram entranhas e solo encarnado,
Quente. Portas do inferno apartando...
Cavalos e bois de olhos arregalados
Que se chocam e os ossos estalando.
Cheiro de sangue, excremento e suor;
Corpos jogados no ar se contorcem!...
Bulício de cães feridos ganindo de dor
E, de mugidos ruminantes que morrem.
Homens que deixam viúvas distantes;
Fica frágil o valente, entregue à sorte...
O destino silencia mais um berrante!...
O forte sabe quando é hora da morte.
Filhos que vão crescer órfãos de pai...
Da desgraça farão história de valentia!
O mundo gira... Sob patas... E não cai
Com certeza, serão boiadeiros um dia
Vinha emergindo a boiada profusa...
Surgindo sobre passos arrastados,
Despontando da poeira ocre difusa.
Saía a boiama confusa e cadenciada
Ruminando e olhando para o chão...
E de sinos dispersos, as badaladas,
Iam tocando a massa em procissão.
Em balada profética de triste agouro...
Com pegadas de sofrimento no sertão,
Caminhando resignada ao matadouro
Mugindo! Entoando, estranha oração.
Por vezes... Uma rês cheirava o vento
Com olhar incendiado de condenado,
Bramia profundo e mórbido lamento
Mas ia, indiferente ao destino traçado...
Volvia à marcha da sorte derradeira...
Entrecortando a lamentação chorada
Tangida pelo “tocador” da bandeira;
Vermelha... Manchada e esfarrapada!
E os chocalhos na poeira dispersos...
Entoavam canto lúgubre e intrigante!
Desalentos, de uma nota só, em verso,
Mais tristes com o tanger do berrante.
Do peão que com esporas prateadas,
Montava cavalo de suor e salgado olhar
Que escorria pó pelas ventas molhadas
E ferraduras faiscando fagulhas no ar...
Quando quebrou em instante preciso
O galho de árvore que cai estalando...
Em cima de uma rês que... sem aviso,
É assustada e escoiceia disparando...
Outras que mugem, tropeçam e rolam;
Alando chispas braseiras num clarão!
Cabeças e chifres confusos se tocam...
O sangue jorra vermelho para o chão!
Chifram entranhas e solo encarnado,
Quente. Portas do inferno apartando...
Cavalos e bois de olhos arregalados
Que se chocam e os ossos estalando.
Cheiro de sangue, excremento e suor;
Corpos jogados no ar se contorcem!...
Bulício de cães feridos ganindo de dor
E, de mugidos ruminantes que morrem.
Homens que deixam viúvas distantes;
Fica frágil o valente, entregue à sorte...
O destino silencia mais um berrante!...
O forte sabe quando é hora da morte.
Filhos que vão crescer órfãos de pai...
Da desgraça farão história de valentia!
O mundo gira... Sob patas... E não cai
Com certeza, serão boiadeiros um dia
Nenhum comentário:
Postar um comentário