terça-feira, 12 de julho de 2016

VIOLÊNCIA URBANA - FIM DA LINHA




[12:14, 12/7/2016] +55 21 96408-9266: 03h da manhã.
Estou deitada na cama de um quarto de plantão.
Trabalhei por 20h e mesmo assim não consigo dormir.
Só chorar.
Mas pra você, talvez hoje seja uma boa noite.
Você que está na sua cama quentinha, na sua casa, bem alimentado, com algumas frustrações normais do dia a dia porém, vivo.
Talvez seja uma boa noite para os políticos que têm 50 seguranças garantindo a paz do sono deles. Que têm helicóptero à disposição para os deslocamentos, assim não estão sujeitos a arrastões, assaltos, sequestros...
Políticos que não vivem nossa realidade de medo, insegurança, instabilidade... E por não serem atingidos pela podridão da sociedade, simplesmente não estão nem um pouco preocupados com os milhões que são atingidos todos os dias. Simplesmente não pretendem fazer nada para mudar o cotidiano de terror que vivemos.
Hoje deu entrada neste hospital um policial militar.
Atingido por um tiro na cabeça.
Chegou ainda com vida, trazido por quatro outros policiais que, desesperados como quem transportassem seus próprios pais ou irmãos, gritavam tentando mantê-lo acordado.
"Estamos contigo, parceiro. Você vai ficar bem. Nós estamos aqui com você."
E assim o entregaram aos cuidados da equipe.
Tudo foi feito.
Em perfeita sincronia a rotina de trauma foi realizada e em pouquíssimo tempo estávamos na sala do centro cirúrgico com um neurocirurgião a postos para o procedimento.
A anestesia trabalhando firme, a cirurgia atuando com rapidez e precisão.
Terminou o procedimento. Mas ele faleceu.
Não, essa história não tem um final feliz.
E sim, eu chorei.
Fiz um sinal da cruz no peito dele e saí da sala de cirurgia aos prantos, soluçando... E ainda estou chorando.
Porque não me conformo em perder um policial.
Não me conformo viver numa sociedade tão doente que trata esses homens como bandidos, corruptos.
Fico revoltada de ver como esses caras morrem sem um mínimo de dignidade, com um tiro dado por um marginal, mequetrefe, sem vergonha.., um filho de chocadeira.
Não consigo aceitar a desvalorização dos policiais militares.
Esses caras são heróis!!!!!
Eles botam a farda e sobem o morro pra catar bandido. Pra prender, pra matar.. Não importa.
A função deles é tirar o bandido de circulação pra que VOCÊ não seja assaltado.
Pra que VOCÊ não seja sequestrado.
Pra que SUA ESPOSA não seja estuprada.
Eles arriscam a vida deles por VOCÊ!!!!!!
Por um salário de merda, com um treinamento de merda, com equipamento de proteção pessoal de merda e armamento de merda, eles sobem o morro por VOCÊ.
E como a sociedade retribui???
Rotulando que todo policial militar é bandido.
Todo policial militar pratica abuso de poder.
Todo policial militar é corrupto.
NÃO!!! ELES NÃO SÃO!!!!
Eles são filhos de alguém. Irmãos de alguém. Amigos de alguém. Pais de alguém.
E, repito, saem todos os dias de casa, arriscando a própria vida POR VOCÊ.
É inadmissível o que vêm acontecendo.
Bandido pode matar policial com tiro nas costas que não acontece nada.
Ele é uma pobre vítima da sociedade... E o bandido tava só se vingando do policial malvado que incitou ódio quando deu dura no bandido de forma ultrajante. Coitado do bandido. Ele é gente. O policial não podia tê-lo tratado assim. Policial malvado! A culpa é sua que despertou o ódio num pobre menino de comunidade que nunca teve acesso à nada e foi discriminado por você.
NÃO!!!!
Meu Deus, NÃO!!!!!
Enquanto isso, se um policial atira num bandido, é afastado da corporação, responde à sindicância, perde o direito de atuar.
A polícia está coagida.
Não tem mais um pingo de autonomia.
Resultado?
Policiais morrendo a 3 X 4.
O de hoje, foi só mais um.
Uma estatística. Um número. Um qualquer.
Fazem um enterro bonito, com honras militares e tá resolvido. Vida que segue.
Político falar sobre morte de policial não dá voto.
Falar sobre morte de meninos negros da favela é que dá.
Porque a população odeia policial. Eles são uns babacas corruptos mesmo.
É com os meninos negros que a população se identifica.
PAREM, PAREM, PAREM, PELO AMOR DE DEUS!!!!
Não pode um homem que arrisca sua vida pela sua, morrer tão anônimo, tão indignamente, tão desprezado.
Não pode, Meu Deus. Não pode.
Até quando eu vou ter que ouvir os gritos de desespero das mães dos policiais ecoando nos corredores dos hospitais quando dou a notícia que o filho delas faleceu???
Até quando eu vou ter que consolar uma mãe que diz "como eu vou viver sem nunca mais ver meu filho?"
Até quando eu vou ter que escutar "o filhinho dele de 2 anos é tão apegado com o pai... como vai ser agora??"
Escutar "como eu vou aguentar ver meu filho de 24 anos num caixão?"
Até quando, Meu Deus, até quando????
Parafraseando meu grande amigo e brilhante médico Leandro Cacciari que atuou comigo na sala de trauma hoje, lavando minha farda, plena de sangue do policial, eu pensava: "sempre que eu lavar minha farda suja de sangue, esse sangue nunca vai ser o meu. mas sempre vai ser de algum militar. e eu sinto um puta orgulho de ter escolhido prestar assistência a esses homens que me defendem, te defendem, nos defendem."
E peço a Deus que esse orgulho dos militares alcance outras pessoas...
Porque quando eu disse para a mãe dele hoje "seu filho morreu como um herói. lembre-se dele sempre com muito orgulho. nunca deixe que te digam o contrário sobre ele.", eu estava falando de coração.
Descanse em paz, Eric.
Eu tenho muito orgulho de você.

[12:14, 12/7/2016] +55 21 96408-9266: Médica que atendeu o SD Erick no Marcílio Dias.



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NÃO DÁ MAIS!

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