segunda-feira, 27 de junho de 2016

VIOLÊNCIA URBANA III – A IMAGEM DA PM


 (Teoria dos Quatro As, de Raimar Richers)

Sempre foi e continua sendo intensa a discussão intramuros da PMERJ sobre como melhorar sua imagem perante a Opinião Pública. Uns alegam que o desempenho individual e coletivo responde pelo principal fator de interferência; outros afirmam que a intensificação do policiamento ostensivo seria a providência mais apropriada. O fato é que este “senso comum” tem levado os comandantes de unidades operacionais a percorrerem as duas trilhas com todo ardor, porém sem verificarem, a rigor, melhoria substancial da credibilidade da PMERJ como um todo. Às vezes, uma ou outra unidade consegue um bom nível de confiança na comunidade a que atende, deste modo detectando falhas e maus procedimentos, chegando mesmo a neutralizá-los antes que se tornem de domínio público pela divulgação de denúncia através da imprensa. A par de todo esse esforço, a verdade é que basta acontecer uma distorção de comportamento e tornada pública, por menor que seja, para que a PMERJ retome o seu papel de “vilã da sociedade”, apagando-se de imediato todas as suas boas ações.

O que deve ser feito para a PMERJ melhorar realmente sua imagem? Como deve a PMERJ comportar-se para que a confiança da população nos seus serviços seja, pelo menos, desejável? Onde estará o cerne da questão, como identificá-lo a fim de aumentar o grau de confiança da população na corporação? No fim de contas, que fenômeno é este? Que negatividade é esta?...
Como se vê, considerar o desempenho como o principal fator de melhoria da imagem seria, no mínimo, precipitado. Senão vejamos: lá pelos idos de 1990 a PMERJ atendia em média 1200 ocorrências diárias, o que perfazia um total anual de 440.000 atendimentos, com variações que não alteram o raciocínio. Mesmo admitindo o aumento deste número, ano a ano, indo ao futuro, ele corresponderá em média 5% da população do RJ. Desta maneira, pode-se verificar que o bom desempenho é insuficiente para responder sozinho pela melhoria da imagem. Isto não significa dizer que ele não seja importante. Pelo contrário, o desempenho tanto pode gerar repercussões positivas como negativas, sendo que estas últimas, infelizmente, são predominantes.

A operacionalidade também deve ser enfocada a partir de inúmeras restrições quanto à sua real utilidade, pois ao invés de ampliar substancialmente aquele percentual de 5% poderia prejudicar o próprio desempenho, considerando que os meios materiais e humanos são limitados. Aliás, este é um drama interno da PMERJ, porque a insistência nesta tese de aumentar o policiamento ostensivo somente tem provocado o desgaste extremo do efetivo, com sérios prejuízos ao desempenho, embora haja artifícios como a atual remuneração de trabalho extra, instituindo um contraste resumido no cansaço versus motivação, onde o perdedor ao fim e ao cabo é o “Corpo Dócil” do PM (vide Michel Foucault em Vigiar e Punir).

A melhoria da imagem, como se pode depreender, depende de outros fatores muito mais complexos, e deve ser perseguida através de outras atitudes mais compatíveis com seu real significado no campo da Administração e da Comunicação Social. A imprensa, nesta ótica de raciocínio, deve merecer destaque no estudo do fenômeno da imagem. O efeito da mídia negativa contra a PMERJ decorre de uma infinidade de motivos, muitos dos quais de nítida natureza ideológica.

Não há qualquer exagero em afirmar que os profissionais da mídia estão longe de conhecer seus códigos de ética, apesar de existirem. O preconceito da imprensa contra a polícia, principalmente contra a PMERJ, é inconteste. Aliada à desinformação e ao despreparo desses profissionais, a dinâmica da notícia obriga-os à superficialidade do seu tratamento jornalístico. Nessas condições, é preferível “falar mal”, sem grandes explicações, do que “falar bem”, tendo de justificar as razões. Assim, por mais que a corporação se esforce em tentar esclarecer à população as providências contra falhas e maus procedimentos de PMs, sempre presentes e rigorosas, a resposta raramente alcança o leitor com a mesma intensidade da notícia negativa. E o que é pior para a PMERJ: a nota esclarecedora acaba acompanhada de comentários – sempre desairosos – que ampliam o aspecto negativo de noticia vencida.

Feitas estas considerações sobre o desempenho e a imprensa, vale tentar discorrer sobre a imagem aprofundando a reflexão. Baseio-me numa metodologia de mercado, de Raimar Richers, para sugerir a melhoria da imagem em novo enfoque, considerando-se que o policiamento – entendido como o conjunto de homens e meios materiais à disposição da população – é produto visível e pode ser comparado a qualquer outro produto que se destine à aceitação – ou mesmo ao consumo – pela comunidade a que se destina.
Imagine uma indústria de trens resolvendo instalar-se num país que não possui malha ferroviária. É obvio que tal iniciativa destinar-se-á ao fracasso. Esta teoria simples de mercado, que se resume na avaliação prévia do ambiente social é definida por Raimar Richers como “ANÁLISE/PESQUISA”, que nem sempre é levada em consideração por muitos administradores, e as consequências são as mais desastrosas que se pode conceber.

Aos administradores dos problemas sociais, dentre os quais se incluem os dirigentes da PMERJ, é inadmissível a hipótese do desconhecimento do ambiente – geral, intermediário e/ou específico – onde irá aplicar os recursos materiais e humanos para a manutenção da origem pública. O RJ apresenta neste aspecto uma situação bastante complexa, alternando locais com intolerável incidência de criminalidade e outros bem tranquilos.

Há imensos e complicados conglomerados urbanos verticais e horizontais, de difícil acesso, sem qualquer saneamento básico, principalmente nos centros urbanos, com destaque para a Região Metropolitana do Grande Rio. Essa população carente vive em permanente contato com as classes mais abastadas, num contraste social que gera toda sorte de conflitos e infrações das regras de convivência coletiva.

Há, ainda, populações carentes nas zonas não urbanizadas e rurais, com características diferentes das anteriores. Enfim, há diversos ambientes e variadas situações operacionais a serem vencidas no exercício da manutenção da ordem pública. Esta diferenciação de ambientes exige flexibilidade estrutural e de comportamento operacional que esbarram numa série de óbices que precisam ser administrados com muita eficiência pelos dirigentes da corporação.
A real percepção dos anseios da população é de vital importância para a orientação do emprego dos meios. Muitas são as formas de atingir tal desiderato, tais como: pesquisa de opinião, integração comunitária, articulação institucional com organismos públicos e privados, com universidades etc.

O passo seguinte, segundo orientação metodológica de Raimar Richers, seria a “ADAPTAÇÃO/SERVIÇO”. Com base nas informações obtidas no ambiente pesquisado, seriam fixados os objetivos prioritários a serem alcançados através do emprego racional dos meios materiais e humanos disponíveis. A conjugação do primeiro ao segundo passo corresponderia, em síntese, aos conceitos administrativos de “eficiência (estrutura) e eficácia (resultados ótimos)”. Entenda-se como “resultado ótimo” aquele que a população aplaude por corresponder exatamente aos seus anseios e valores, bem como aos anseios e valores dos PMs empenhados na missão.

O terceiro passo diz respeito à “ATIVAÇÃO/COMUNICAÇÃO SOCIAL”. Aqui sobreleva o aspecto da imagem, com todas as suas nuances. Partindo-se de alguns conceitos básicos de imagem, é possível imaginar a extensão de sua complexidade: “representação que emerge na mente, fruto da percepção individual das pessoas”, “impressão de um objeto no espírito” etc. Em suma, imagem é tudo aquilo que se vê e introjeta no ser humano a impressão do feio e do belo, da crença e da descrença, da aceitação ou rejeição etc. É, portanto, um fenômeno estritamente individual, mas com alto poder de disseminação no campo psicológico de um grupo ou da coletividade.

Este raciocínio faz ressaltar a importância do invólucro – viaturas bem apresentadas e homens bem equipados e uniformizados. Outro aspecto relevante é a postura do homem, isolado ou em grupo. Se for considerado o fato já descrito de que a PMERJ atende a apenas 5% da população, é possível supor que um percentual deveras maior observa, à distância, o comportamento e a postura do PM de serviço nas vias públicas sem com ele estabelecer contato físico ou verbal. Daí a importância do visual como componente formador de boa imagem. Isto se reforça mais ainda por uma constatação interessante: uma pesquisa feita pelo IBOPE, por encomenda da PMERJ, detectou que as pessoas atendidas pelos PMs consideraram, em expressiva maioria, o atendimento “bom” ou “muito bom”. Mas o grau percentual de confiança da PM foi baixíssimo. Este paradoxo somente é explicável da forma como aqui foi abordado. Neste ponto, vale relembrar um simples, mas fundamental ensinamento do Professor Rui Gomes Chaves, inesquecível mestre de Ciência Política da ESPM: “A PM deve saber fazer e fazer saber”. A “ATIVAÇÃO/COMUNICAÇÃO SOCIAL” tem, realmente, invulgar importância no contexto deste estudo. Seria, em outras palavras, o alcance da efetividade (eficácia com aplauso).

Segurança Pública é investimento muito caro. Por esta razão, não pode e não deve ser aleatório, pois os recursos financeiros não são tão abundantes. Mas isto não justifica estabelecer, num plano secundário, a necessidade de investimentos na área da Comunicação Social. É tão poderosa a ATIVAÇÃO, que, se bem conduzida por especialistas, ela é capaz de transformar um produto ruim em algo de grande interesse público, mesmo contra a ética a que se obrigam os profissionais deste campo do conhecimento humano a obedecer. Exemplo melhor do poder da Comunicação Social não existe: as UPPs... Sem comentários...

A última e não menos importante orientação metodológica de Raimar Richers diz respeito ao “FEEDBACK”, que, em outras palavras, significa ACOMPANHAMENTO PERMANENTE DE RESULTADOS. Esta providência é que permitirá a adoção imediata das correções, porque insere novos insumos no sistema e aprimora a qualidade do produto. Neste campo destaca-se a estatística e o emprego da informática como instrumentos de busca de eficiência e eficácia. Traçados os objetivos, torna-se imprescindível o acompanhamento dos resultados, a fim de se verificar a adequação entre uns e outros. Neste ponto completa-se a teoria de Raimar Richers, conhecida como a “TEORIA DOS QUATRO As”.

Todo esse estudo aqui resumido conduz a reflexão a um só ponto: O HOMEM. Isto porque dele depende o bom funcionamento do intrincado processo de melhoria da imagem da PMERJ. Afinal, uma organização só é viável se for constituída por pessoas capazes. E a PMERJ as tem em alto grau de competência das pessoas que a integram. Essas pessoas têm condições de alterar o rumo da Instituição na direção do ótimo. A PMERJ tem tudo isto de sobra. É só racionalizar. É só acreditar, mas lhe falta o principal, o “quinto A”: AUTONOMIA!...


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