(Teoria
dos Quatro As, de Raimar Richers)
Sempre foi e continua sendo intensa
a discussão intramuros da PMERJ sobre como melhorar sua imagem perante a
Opinião Pública. Uns alegam que o desempenho individual e coletivo responde
pelo principal fator de interferência; outros afirmam que a intensificação do
policiamento ostensivo seria a providência mais apropriada. O fato é que este
“senso comum” tem levado os comandantes de unidades operacionais a percorrerem as
duas trilhas com todo ardor, porém sem verificarem, a rigor, melhoria
substancial da credibilidade da PMERJ como um todo. Às vezes, uma ou outra unidade
consegue um bom nível de confiança na comunidade a que atende, deste modo detectando
falhas e maus procedimentos, chegando mesmo a neutralizá-los antes que se
tornem de domínio público pela divulgação de denúncia através da imprensa. A
par de todo esse esforço, a verdade é que basta acontecer uma distorção de
comportamento e tornada pública, por menor que seja, para que a PMERJ retome o
seu papel de “vilã da sociedade”, apagando-se de imediato todas as suas boas
ações.
O que deve ser feito para a PMERJ
melhorar realmente sua imagem? Como deve a PMERJ comportar-se para que a
confiança da população nos seus serviços seja, pelo menos, desejável? Onde estará
o cerne da questão, como identificá-lo a fim de aumentar o grau de confiança da
população na corporação? No fim de contas, que fenômeno é este? Que
negatividade é esta?...
Como se vê, considerar o desempenho como o principal fator de melhoria
da imagem seria, no mínimo, precipitado. Senão vejamos: lá pelos idos de 1990 a
PMERJ atendia em média 1200 ocorrências diárias, o que perfazia um total anual
de 440.000 atendimentos, com variações que não alteram o raciocínio. Mesmo
admitindo o aumento deste número, ano a ano, indo ao futuro, ele corresponderá
em média 5% da população do RJ. Desta maneira, pode-se verificar que o bom desempenho
é insuficiente para responder sozinho pela melhoria da imagem. Isto não
significa dizer que ele não seja importante. Pelo contrário, o desempenho tanto
pode gerar repercussões positivas como negativas, sendo que estas últimas,
infelizmente, são predominantes.
A operacionalidade também deve ser enfocada a partir de inúmeras
restrições quanto à sua real utilidade, pois ao invés de ampliar
substancialmente aquele percentual de 5% poderia prejudicar o próprio
desempenho, considerando que os meios materiais e humanos são limitados. Aliás,
este é um drama interno da PMERJ, porque a insistência nesta tese de aumentar o
policiamento ostensivo somente tem provocado o desgaste extremo do efetivo, com
sérios prejuízos ao desempenho, embora haja artifícios como a atual remuneração
de trabalho extra, instituindo um contraste resumido no cansaço versus
motivação, onde o perdedor ao fim e ao cabo é o “Corpo Dócil” do PM (vide
Michel Foucault em Vigiar e Punir).
A melhoria da imagem, como se pode depreender, depende de outros
fatores muito mais complexos, e deve ser perseguida através de outras atitudes
mais compatíveis com seu real significado no campo da Administração e da
Comunicação Social. A imprensa, nesta ótica de raciocínio, deve merecer
destaque no estudo do fenômeno da imagem. O efeito da mídia negativa contra a
PMERJ decorre de uma infinidade de motivos, muitos dos quais de nítida natureza
ideológica.
Não há qualquer exagero em afirmar que os profissionais da mídia estão
longe de conhecer seus códigos de ética, apesar de existirem. O preconceito da
imprensa contra a polícia, principalmente contra a PMERJ, é inconteste. Aliada
à desinformação e ao despreparo desses profissionais, a dinâmica da notícia
obriga-os à superficialidade do seu tratamento jornalístico. Nessas condições,
é preferível “falar mal”, sem grandes explicações, do que “falar bem”, tendo de
justificar as razões. Assim, por mais que a corporação se esforce em tentar
esclarecer à população as providências contra falhas e maus procedimentos de PMs,
sempre presentes e rigorosas, a resposta raramente alcança o leitor com a mesma
intensidade da notícia negativa. E o que é pior para a PMERJ: a nota
esclarecedora acaba acompanhada de comentários – sempre desairosos – que
ampliam o aspecto negativo de noticia vencida.
Feitas estas considerações sobre o desempenho e a imprensa, vale tentar
discorrer sobre a imagem aprofundando a reflexão. Baseio-me numa metodologia de
mercado, de Raimar Richers, para sugerir a
melhoria da imagem em novo enfoque, considerando-se que o policiamento –
entendido como o conjunto de homens e meios materiais à disposição da população
– é produto visível e pode ser comparado a qualquer outro produto que se
destine à aceitação – ou mesmo ao consumo – pela comunidade a que se destina.
Imagine uma indústria de trens resolvendo instalar-se num país que não
possui malha ferroviária. É obvio que tal iniciativa destinar-se-á ao fracasso.
Esta teoria simples de mercado, que se resume na avaliação prévia do ambiente
social é definida por Raimar Richers como “ANÁLISE/PESQUISA”, que nem sempre é
levada em consideração por muitos administradores, e as consequências são as
mais desastrosas que se pode conceber.
Aos administradores dos problemas sociais, dentre os quais se incluem
os dirigentes da PMERJ, é inadmissível a hipótese do desconhecimento do
ambiente – geral, intermediário e/ou específico – onde irá aplicar os recursos
materiais e humanos para a manutenção da origem pública. O RJ apresenta neste aspecto
uma situação bastante complexa, alternando locais com intolerável incidência de
criminalidade e outros bem tranquilos.
Há imensos e complicados conglomerados urbanos verticais e horizontais,
de difícil acesso, sem qualquer saneamento básico, principalmente nos centros
urbanos, com destaque para a Região Metropolitana do Grande Rio. Essa população
carente vive em permanente contato com as classes mais abastadas, num contraste
social que gera toda sorte de conflitos e infrações das regras de convivência
coletiva.
Há, ainda, populações carentes nas zonas não urbanizadas e rurais, com
características diferentes das anteriores. Enfim, há diversos ambientes e variadas
situações operacionais a serem vencidas no exercício da manutenção da ordem
pública. Esta diferenciação de ambientes exige flexibilidade estrutural e de
comportamento operacional que esbarram numa série de óbices que precisam ser
administrados com muita eficiência pelos dirigentes da corporação.
A real percepção dos anseios da população é de vital importância para a
orientação do emprego dos meios. Muitas são as formas de atingir tal
desiderato, tais como: pesquisa de opinião, integração comunitária, articulação
institucional com organismos públicos e privados, com universidades etc.
O passo seguinte, segundo orientação metodológica de Raimar Richers,
seria a “ADAPTAÇÃO/SERVIÇO”. Com base nas informações obtidas no ambiente
pesquisado, seriam fixados os objetivos prioritários a serem alcançados através
do emprego racional dos meios materiais e humanos disponíveis. A conjugação do
primeiro ao segundo passo corresponderia, em síntese, aos conceitos
administrativos de “eficiência (estrutura) e eficácia (resultados ótimos)”.
Entenda-se como “resultado ótimo” aquele que a população aplaude por
corresponder exatamente aos seus anseios e valores, bem como aos anseios e
valores dos PMs empenhados na missão.
O terceiro passo diz respeito à “ATIVAÇÃO/COMUNICAÇÃO SOCIAL”. Aqui
sobreleva o aspecto da imagem, com todas as suas nuances. Partindo-se de alguns
conceitos básicos de imagem, é possível imaginar a extensão de sua
complexidade: “representação que emerge na mente, fruto da percepção individual
das pessoas”, “impressão de um objeto no espírito” etc. Em suma, imagem é tudo
aquilo que se vê e introjeta no ser humano a impressão do feio e do belo, da
crença e da descrença, da aceitação ou rejeição etc. É, portanto, um fenômeno
estritamente individual, mas com alto poder de disseminação no campo
psicológico de um grupo ou da coletividade.
Este raciocínio faz ressaltar a importância do invólucro – viaturas bem
apresentadas e homens bem equipados e uniformizados. Outro aspecto relevante é
a postura do homem, isolado ou em grupo. Se for considerado o fato já descrito
de que a PMERJ atende a apenas 5% da população, é possível supor que um
percentual deveras maior observa, à distância, o comportamento e a postura do PM
de serviço nas vias públicas sem com ele estabelecer contato físico ou verbal.
Daí a importância do visual como componente formador de boa imagem. Isto se
reforça mais ainda por uma constatação interessante: uma pesquisa feita pelo
IBOPE, por encomenda da PMERJ, detectou que as pessoas atendidas pelos PMs
consideraram, em expressiva maioria, o atendimento “bom” ou “muito bom”. Mas o
grau percentual de confiança da PM foi baixíssimo. Este paradoxo somente é
explicável da forma como aqui foi abordado. Neste ponto, vale relembrar um
simples, mas fundamental ensinamento do Professor Rui Gomes Chaves,
inesquecível mestre de Ciência Política da ESPM: “A PM deve saber fazer e fazer
saber”. A “ATIVAÇÃO/COMUNICAÇÃO SOCIAL” tem, realmente, invulgar importância no
contexto deste estudo. Seria, em outras palavras, o alcance da efetividade
(eficácia com aplauso).
Segurança Pública é investimento muito caro. Por esta razão, não pode e
não deve ser aleatório, pois os recursos financeiros não são tão abundantes.
Mas isto não justifica estabelecer, num plano secundário, a necessidade de
investimentos na área da Comunicação Social. É tão poderosa a ATIVAÇÃO, que, se
bem conduzida por especialistas, ela é capaz de transformar um produto ruim em
algo de grande interesse público, mesmo contra a ética a que se obrigam os
profissionais deste campo do conhecimento humano a obedecer. Exemplo melhor do
poder da Comunicação Social não existe: as UPPs... Sem comentários...
A última e não menos importante orientação metodológica de Raimar
Richers diz respeito ao “FEEDBACK”, que, em outras palavras, significa
ACOMPANHAMENTO PERMANENTE DE RESULTADOS. Esta providência é que permitirá a
adoção imediata das correções, porque insere novos insumos no sistema e
aprimora a qualidade do produto. Neste campo destaca-se a estatística e o
emprego da informática como instrumentos de busca de eficiência e eficácia.
Traçados os objetivos, torna-se imprescindível o acompanhamento dos resultados,
a fim de se verificar a adequação entre uns e outros. Neste ponto completa-se a
teoria de Raimar Richers, conhecida como a “TEORIA DOS QUATRO As”.
Todo esse estudo aqui resumido conduz a reflexão a um só ponto: O
HOMEM. Isto porque dele depende o bom funcionamento do intrincado processo de
melhoria da imagem da PMERJ. Afinal, uma organização só é viável se for
constituída por pessoas capazes. E a PMERJ as tem em alto grau de competência
das pessoas que a integram. Essas pessoas têm condições de alterar o rumo da
Instituição na direção do ótimo. A PMERJ tem tudo isto de sobra. É só
racionalizar. É só acreditar, mas lhe falta o principal, o “quinto A”:
AUTONOMIA!...
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