RIO EM GUERRA - EXTRA - CASOS DE POLÍCIA
EM 01/05/16 06:00
Favelas com UPPs registraram um tiro a cada 12 minutos em março
Em 18 de março deste ano, 18 policiais lotados em três UPPs diferentes
subiram o Morro do Fallet, no Rio Comprido, com uma missão: recuperar a viatura
que havia sido abandonada por PMs em meio a uma troca de tiros na favela. Duas
horas e 304 disparos de fuzil e pistola depois, o grupo saiu do morro — onde há
uma Unidade de Polícia Pacificadora há cinco anos — de mãos vazias. A troca de
tiros com traficantes foi apenas uma entre as 112 registradas no mês de março
em delegacias de áreas que cobrem UPPs. É o equivalente a um confronto a cada
sete horas. Um levantamento feito pelo EXTRA revela que pelo menos 3.693 tiros
foram dados nessas favelas, uma média de um a cada 12 minutos.
O tiroteio no Fallet está no topo do ranking de disparos por confronto.
Completam o pódio uma troca de tiros no Jacarezinho, também na Zona Norte, no
dia 13, em que PMs apertaram o gatilho 214 vezes, e uma terceira na Cidade de
Deus, na Zona Oeste, no dia 21, que teve 192 disparos dados por policiais. O
número total de tiros, no entanto, é ainda maior: dos 112 registros de
confrontos contabilizados, 49 não possuem informações sobre o número de
disparos dados por cada policial, embora deixem claro que os PMs revidaram os
tiros dos bandidos.
Ao longo do mês, 30 das 38 UPPs registraram confrontos. As duas unidades
onde houve mais tiroteios são as do Jacarezinho, com 13, e a de Manguinhos, 11,
ambas na Zona Norte e vizinhas à Cidade da Polícia, sede das delegacias
especializadas da Polícia Civil. Na outra UPP da área, Arará/Mandela, foram
sete confrontos. Somando-se as três unidades, ocorreram ali 31 trocas de tiros
em março. Uma por dia, em média.
Numa dessas trocas de tiros, na linha do trem, no Jacarezinho, o
comandante da UPP Arará/Mandela, capitão Carlos Henrique Barrim perseguia
bandidos que vendiam crack na plataforma e ficou encurralado. Só conseguiu se
desvencilhar dos bandidos após pedir apoio de PMs das unidades Manguinhos e
Jacarezinho pelo rádio.
O confronto, às 17h, não foge à regra da maioria dos tiroteios,
ocorridos à luz do dia: 59 dos 112 confrontos foram de manhã ou de tarde. Em
outros 40, a troca de tiros foi à noite ou de madrugada — 13 registros não têm
horário especificado. Um dos tiroteios que aconteceu após a meia-noite
interrompeu um baile funk no Mandela. Às 2h do dia 20, “de modo a impedir a
realização do evento”, PMs entraram na favela pela Avenida Leopoldo Bulhões e
foram recebidos com pedras e garrafas. Não demorou até o grupo ser alvo dos
disparos de traficantes de Manguinhos, respondidos com 162 tiros.
Cidade de Deus lidera disparos
A favela onde mais disparos foram feitos ao longo de março foi a Cidade
de Deus. Ao todo, 666 tiros foram dados por policiais na comunidade, uma média
de 21 por dia. Entretanto, juntas, as três comunidades mais próximas da Cidade
da Polícia — Jacarezinho, Manguinhos e Mandela — são responsáveis por um terço
do total de disparos: 1.295, média de 41 a cada dia.
Confrontos aconteceram, inclusive, em áreas consideradas pela
Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) como “bandeira verde”,
classificação que indica risco mínimo de ações criminosas, como as favelas
Santa Marta, Chapéu-Mangueira e Tabajaras, todas na Zona Sul. Os registros de
ocorrência também revelam a expansão da área de influência dos criminosos para
locais antes considerados tranquilos. Na tarde de 14 de março, PMs da UPP
Providência e traficantes que haviam saído da favela trocaram tiros próximo à
uma área de lazer no Morro do Pinto, no Centro. Ao todo, 14 tiros foram
disparados. De acordo com o próprio policial que fez o registro, “a criminalidade
aumentou em escala desproporcional na comunidade do Morro do Pinto”.
Dez confrontos num dia
O dia 3 de março, uma quinta-feira, registrou o maior número de
confrontos do mês: dez ao todo, sendo sete à luz do dia. Num deles, na
Providência, um soldado foi ferido. Na ocasião, os policiais dispararam 77
vezes. Dois dias depois, no dia 5, houve mais nove confrontos, sendo dois na
Cidade de Deus, onde foram disparados 324 tiros.
Perguntada sobre a avaliação que faz sobre o número de confrontos nas
unidades, a CPP se limitou a responder que “a Polícia Militar continuará com o
policiamento preventivo em todas as comunidades, combatendo todos os tipos de
crime nessas regiões”.
Sobre o caso específico da recuperação da viatura abandonada em meio a
um tiroteio no Fallet, a CPP alegou, em nota, que “durante uma operação de
fiscalização de motocicletas na comunidade, bandidos atiraram contra uma equipe
policial, que deixou a viatura para se abrigar em local seguro”. Ainda segundo
a coordenadoria, “após o reforço do policiamento, outra equipe esteve no local
para resgatar o veículo”.
MEU COMENTÁRIO
Faz bom tempo que não posto minhas ideias aqui no blog, na
verdade porque entendo que há material bastante para a reflexão dos meus amigos
que me visitam. Também ando ocupado no Facebook defendendo o interesse maior
dos aposentados e pensionistas do RJ (sou um deles), pegos em covarde tocaia
pelos atuais governantes desde o mês de dezembro de 2015, quando nos parcelaram
o 13º salário e depois chegaram ao calote do não pagamento dos proventos e pensões em março, relativos a fevereiro. Refiro-me a governantes no plural porque o reflexo de hoje se
reporta ao passado recente de dois períodos de desgoverno do senhor Sérgio Cabral, mais o
período de desgovernança do senhor Pezão, e que agora atinge seu ápice na
figura do senhor Francisco Dornelles, que nem sei se sabe que não governa, mas
pensa que governa, se é que ainda consegue pensar.
Mas o assunto que vou comentar é outro, e muito
conhecido de todos: o fracasso das UPPs. Porque, por mais que torçamos pelo seu
sucesso, em homenagem não a quem inventou a má ideia, mas aos valorosos PMs que
são obrigados a doar suas vidas em desvantagem diante de uma criminalidade a
mais e mais crescente, as UPPs fracassaram de modo retumbante, o que para mim não se constituiu em novidade.
Sim, passou a boa fase em que as autoridades
inventoras das UPPs eram aplaudidas em restaurantes; esvaiu-se em vergonha a
euforia midiática interessada em Copa do Mundo e Olimpíadas, e todos que
firmaram um aperto de mãos bancando as UPPs estão agora vermelhos de vergonha
diante do que chamamos realidade. Porque não há como negá-la, como se infere da
apurada matéria veiculada pelo Jornal EXTRA. E o pior de tudo é que se
materializa o que especulei lá atrás sobre a derrota de Napoleão na Rússia:
seus exércitos não puderam avançar nem recuar e feneceram no estranho ambiente
para o qual não estavam devidamente preparados para sobreviver.
Os acadêmicos defensores e até apologistas das UPPs
silenciaram. Não conseguem mais inventar discursos eufóricos como antes o
faziam. As autoridades também silenciaram diante do esgotamento de suas
posturas otimistas sobre a pacificação. Sobrou a funesta realidade dos mortos
de um lado e do outro, dentre os quais muitos inocentes jovens PMs e favelados, incluindo crianças. Nem vou criticar a morte dos bandidos, já morreram tarde. Só que o
custo/benefício de tudo isto a matéria do EXTRA revela e eu não preciso ser
redundante neste caso.
Só sei de uma coisa: a concentração de efetivos em
UPPs prejudica o todo do patrulhamento preventivo que deveria se manter em máxima frequência no
ambiente social em todo o RJ. A concentração de efetivos em UPPs vem
funcionando como prisão para aqueles empolgados inocentes úteis, jovens PMs
denominados “espartanos”, que, cansados, não conseguem tornar aos seus lares
distantes. Sobrou-lhes a cruel realidade da morte de muitos colegas dele,
homens e mulheres, que doaram sua juventude tal como nos tempos da barbárie em
que soldados iam à linha de frente para morrer e permitir que seus companheiros
de retaguarda os fizessem de caminho seguro contra minas terrestres e recarregamento das armas inimigas. Apenas
“buchas de canhão”. Mas não estamos em guerra, e alguém deveria responder por
essa espécie de suicídio coletivo de PMs mediante ordem, que, cá entre nós, tem
contornos de genocídio.
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