sábado, 16 de janeiro de 2016

RIO EM GUERRA - POLÍCIA OSTENSIVA: VER OU SER VISTA - O GRANDE BLEFE

“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)

Lembro os meus românticos tempos de tenente da antiga PMRJ. Lá pelos anos 70 era comum aos comandantes dos batalhões, em Niterói ou em outros municípios a sediar batalhões, determinar que seus comandados, mais aquartelados que nas ruas, formassem duplas de cosme-e-damião (assim para não confundir com os santos gêmeos) e fossem espalhados em locais nobres (bairros chiques e centros comerciais). Ficava bonito o cenário, o povo elogiava os garbosos PMs com os braços para trás, capacetes de fibra lhes esquentando os miolos. E os pequenos delinquentes, armados só com boas pernas, fugiam à vista dos PMs.

A lógica daqueles distantes anos resumia-se à máxima de que bastava a polícia ostensiva ser vista e tudo se resolvia: vista pelo povo satisfeito e pelos pequenos e quase inofensivos delinquentes que não se arriscavam a bater uma carteira com medo da imediata repressão de PMs, estes, que ainda conseguiam correr porque ficavam no quartel se exercitando ao sol para preencherem seu tempo aguardando o final do expediente.

Esta lógica de distribuição do policiamento mais para ser visto que para ver venceu os tempos e chegou aos dias de hoje, porém bastante deformada ante a violenta mudança do ambiente. Porque hoje as favelas estão dominadas por enormes quadrilhas armadas com fuzis de última geração, enquanto nos quartéis se nota a decadência material, física e moral por razões que não precisam ser explicadas, todos sabem. Então, os comandantes de hoje, sem mais alternativa que agir com os meios de que dispõem, limitam-se a postar seus efetivos em poucas viaturas, com seus tanques pela metade ou menos da metade, em posições que lhes permitam receber máxima visibilidade. E em alguns casos, para chamar ainda mais a atenção, esses efetivos se movimentam no mesmo lugar empacando o tráfego em blitze “pra inglês ver”.

Quem passa por essas vias mais movimentadas fica então com a falsa impressão de grandeza da polícia ostensiva, sem atentar para o fato de que nas ruas dos bairros onde mora não há nenhum policiamento circulando. Quando muito, vê-se uma viatura parada em local que mais permita ampliar a falsa impressão de quantidade a serviço da segurança pública. Tudo blefe!

Pois enquanto a polícia ostensiva finge que previne o crime, os criminosos saem em grupos nos seus carros roubados para novamente roubar o povo, mas agora com violência e muita letalidade das vítimas, mesmo que não reajam. Sim, os facínoras saem armados de fuzis e agem onde a polícia ostensiva não pode estar porque não possui efetivo nem viaturas abastecidas para circular e aumentar a frequência no ambiente hoje infestado de marginais desenvoltos e certos de que não serão apanhados, bastando-lhes, no caso de serem vistos por uma patrulhinha, entrar rápido numa favela guarnecida o suficiente para inibir a reação policial. Afinal, nem todos são loucos de se arriscarem à morte...

Mas, para não ser tão pessimista, digo que às vezes ocorre a sorte de a polícia ostensiva vislumbrar um flagrante de crime, como foi o caso do ilustre Coronel PM e Professor Jorge da Silva, que perdeu tudo no assalto (carro, joias, documentos, dinheiro etc.), mas a providencial aparição dos PMs lhe salvou a vida. Ela estaria irremediavelmente perdida se a sorte não o alcançasse a tempo; ele seria o quarto dos seus irmãos, três, todos PMs, assassinados a tiros.

Eis o blefe com todas as letras! Ainda piorado, cá entre nós, pela concentração de grandes efetivos nas fracassadas UPPs, recordistas em morte de PMs em serviço, mas que têm o apoio de uma mídia interessada nos lucros da Copa do Mundo que passou de maneira vergonhosa e nos das Olimpíadas que estão próximas. Sim, muito dinheiro em jogo, e a PMERJ só faz, em subserviência jamais vista, o que o mestre político manda fazer...

Daí é que não há outra maneira de blefar que não seja uma incursão aqui, outra ali e mais outra acolá, para apreender um “kit imprensa” e salvar as aparências por um dia, isto quando tudo dá certo e nenhum PM morre ou é encarcerado porque matou uma criança durante a incursão exigida para “mostrar serviço”. Mas como essa movimentação é onerosa, ela é forçosamente limitada. Porém, é até bem direcionada aos locais que são sabidamente mananciais a garantirem o sucesso do “kit imprensa”. Tal como o pescador que sabe onde está o cardume e vai até ele pegar sem esforço seus bagres e baiacus, não se arriscando a ir além atrás de tubarões. Enfim, tudo blefe!

Portanto, leitores e leitoras, quando virem a polícia ostensiva nas situações aqui descritas, não se iludam, é blefe! Quando virem nas primeiras páginas dos jornais ou nos noticiários televisivos sensacionalistas os “kit imprensa”, não se iludam, é blefe! E quando souberem pelos jornais que a PMERJ está incluindo milhares de PMs novatos, isto significa piores salários, mais morte de PMs, e mais viúvas chorosas amargando pensões mirradas.

Quanto aos que não morrem e alcançam a aposentadoria, muitos com perda de membros e/ou funções orgânicas, esses inativos, dentre os quais me incluo, que mesmo assim ainda descontam para o Rio-Previdência, têm de ouvir as abobrinhas do governante estelionatário que não lhes paga em dia os proventos conquistados a ferro e fogo e risco, diferentemente dos subsídios dele, que são cheios de mistérios, enquanto ele finge que ainda nos presta favor.


Enfim, tudo blefe!

2 comentários:

  1. Parece não restar dúvida de que o problema é estrutural, conforme se verifica na análise do cristalino texto acima.
    No caos instalado (como verificamos hoje), a moral da tropa e a devida motivação de Policiais no combate ao crime deveria ser a linha mestra de atenção dos Oficiais e da Instituição.
    Os Oficiais deveriam "dar exemplo" de retidão e apoio incondicional ao "bom Policial" para alimentar boas ações por parte da tropa (que essencialmente é boa consoante verificamos nas vivências diárias).
    Infelizmente, um fato em particular rachou COMPLETAMENTE as tentativas de alinhar a tropa no caminho do bem e do ético, ao menos ai no RJ: o suposto desvio de dinheiro no FUSPOM.
    Não dá pra acreditar que Oficiais supostamente se envolvam em desvios de dinheiro que "salvaria" vida de subordinados hierárquicos!
    O maior "crime" e apunhalada que poderia ser dada na tropa foi esse fato, se isso for verdadeiro como divulgado!
    Como coibir Policiais em "pequenas" corrupções se eles "olham prá cima" e verificam supostos desvios de milhões....ai fica difícil.....
    A "cabeça" do Policial corrupto, aliás, é essa: "se roubam....eu também tenho de me garantir!".....
    Aproveitando a acidez de análise do Sr para 2016, "estoco a barriga" com esse tema!!!!!!

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  2. Emir disse: infelizmente, companheiro, a PMERJ está por aqui à bancarrota, culminando com esse episódio de depravação extremo, ainda piorado por tornar impune um dos ladrões por meio desta excrescência denominada delação premiada, que dá liberdade ao delator-traidor que deveria, entes, ser fuzilado. Só num país como este, e num Estado como o RJ, metido a glamouroso, mas totalmente sem identidade, ou melhor identificado com a criminalidade máxima, impune e letal, acontece esses extremos. Os valores aqui estão invertidos e subvertidos, e não apenas na briosa, mas no geral. É sacanagem para todo lado, tudo em nome do que eles mesmos, os ladrões, chamam de "democracia conquistada pelas esquerdas". Aonde tudo isto vai parar, não sei. Só sei que a entropia por aqui está avantajada. Abraços.

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