Nota
de Emir Larangeira: trata-se de história real, ou de ficção, que retrata a cruel realidade enfrentada
pelos PMS da PMERJ nos dias de hoje. O autor, Soldado PM com bastante vivência operacional,
culmina por nos oferecer momentos de muita emoção com suas crônicas literárias de alto gabarito. Para mim é
uma honra postá-las aqui!
CONTO DE FARDA IV
Instinto animal, selvagem e único!
Todos nós possuímos, mas nenhuma profissão desenvolve tão bem o instinto de
sobrevivência como a profissão Policial Militar!
Temos que viver, sobreviver,
vencer o inimigo, derrotá-lo e não ser derrotado! Somos o bem e eles estão do
lado do mal!
De um lado o traficante
desesperado, temendo ser preso ou morto! Em contrapartida, do outro lado, eu,
louco pela vitória, mas morrendo de medo de morrer!
Engana-se quem pensa que policial
não tem medo! Todos nós sentimos, uns menos e outros mais! A diferença está
justamente na forma que administramos esse medo misturado com um coquetel
monstruoso de adrenalina, coragem, aventura, perigo e realidade, que explodem
em nossas veias, corações e pensamentos, e ativam ao máximo todos os sentidos
durante o combate!
Para manter-se vivo é preciso, muitas vezes, fazer com que pessoas ruins não vivam mais! É cruel de escrever, de falar e, acredite, pior ainda de fazer!
Para manter-se vivo é preciso, muitas vezes, fazer com que pessoas ruins não vivam mais! É cruel de escrever, de falar e, acredite, pior ainda de fazer!
Não é glória nenhuma matar uma
pessoa! Porém o meu psicológico deve estar preparado para tudo, inclusive para ceifar
a vida, sem remorso e pena, de um bandido que possa atentar contra minha vida!
Não importa se o lafranhudo possui
10 ou 150 anos de idade, se ele apontar a arma para mim, sem sombra de dúvida
alguma vou rasgar seu corpo na base da bala, até que não reste nele um pingo de
vida humana! Irei fazer de seu corpo uma peneira profissional com tantos furos
que colocariam inveja em telas protetoras de mosquito!...
Não sou cruel e não sou psicopata!
Sou trabalhador e trabalho muito! Se alguém tem que morrer, que seja o maldito
bandido!
Já são 17hs e o nome da comunidade
que vamos incursionar chama-se "Favela Da Pulga".
Recentemente, um bandido chamado "Cachorro" feriu um
policial durante um assalto! O policial está bem, afastado para tratamento, mas
está bem.
Por semanas fizemos diligências à
paisana, contatamos informantes moradores da favela, monitoramos seus passos no
facebook, vigiamos sua namorada, descobrimos sua casa e locais onde ele sempre
lanchava!
Hoje, mais cedo, na hora do
almoço, um dos nossos policiais à paisana, que não parece policial de jeito
nenhum, pelo contrário, parece até bandido, subiu a comunidade!
O colega disfarçado subiu as
ladeiras, escadas e vielas indo em direção onde o nosso alvo estaria almoçando!
Imediatamente o policial reconheceu o bandido dentro da pensão, juntamente com
sua namorada!
Antes que o PM entrasse no
estabelecimento, dois traficantes mirins, de no máximo 15 anos, desconfiaram do
agente! O traficante Cachorro fica observando seus comparsas durante a “abordagem
feita no policial" pelos bandidos.
Em tons agressivos e com pistolas
apontadas para as suas costas, os traficantes ordenam que ele levante a camisa!
Ele obedece, vira-se para eles e um único disparo acontece!
O bandido portava uma pistola
calibre 45mm, uma arma poderosa, capaz de quebrar ossos! O barulho ecoa por
toda favela como se fosse um trovão nos piores dias de tempestade!
Um único tiro, barulhento, poderoso e ensurdecedor, que
inundou todo o ambiente com forte cheiro de pólvora.
Pessoas que passavam próximo da
pensão se jogam no chão! O traficante Cachorro engasga-se com a comida, tosse
cerca de seis vezes, levanta-se da mesa derrubando tudo em cima de sua
namorada, vai na direção do bandido que atirou, retira a arma do traficante
mirim e desfere-lhe um poderoso tapa em sua face esquerda! Tapa tão forte que
facilmente seria confundido com um tiro de calibre menor pelo barulho causado.
Cachorro ordena que o bandidinho
vá embora e imediatamente volta para a pensão, furioso pelo tiro acidental que
quase acertou o policial. Adentrou a pensão e atingiu a vitrine de bebidas,
espalhando refrigerantes por toda a pensão.
O policial abaixa a camisa (sua
arma estava no tornozelo e por isso não foi identificado ) e entra na pensão
para fazer seu pedido!
O traficante, furioso ainda, pede
desculpas ao policial e diz que ele pode pedir o que quiser que o mesmo faria
questão de pagar!
Cachorro não imagina que horas
mais tarde iria morrer!
O bandido não percebeu nada;
afinal, até para os mais experientes esse policial conseguia enganar, caso não
soubessem sua real identidade!
Ele é um artista, trabalhou mais
de 20 anos no setor de inteligência e coleciona milhares de disfarces!
Cachorro estava sentado na pensão de 5x5 metros quadrados, com
duas portas verticais de ferro que funcionava como a única entrada e saída.
O telefone do bandido grita
avisando que alguém está ligando! Ele parece ansioso, atende rápido demais!
Parecia que ele estava esperando essa ligação por muito tempo!
Ele está à vontade e por isso não se preocupa em falar baixo
ou disfarçar o conteúdo da conversa!
O policial rapidamente consegue entender o teor da conversa, alguém
do outro lado da linha adverte o bandido para tomar cuidado, porque circula na
impressa e nas redes sociais o retrato falado dele.
Ele agradece e diz que vai passar
um tempo na casa da pessoa que estava do outro lado da linha. Desliga o
telefone e fala para a namorada arrumar as coisas na casa dele que às 17h ele
vai partir para outra favela como abrigo.
Era tudo que o policial precisava
saber. O agente levanta-se, vai em direção ao caixa para efetuar o pagamento.
Momento esse que Cachorro esbraveja:
– Porra coroa! Já não disse que eu
vou pagar esse caralho aí? Tá tranquilo, pode ir, tá tudo suave. É tudo comigo!
O policial pede desculpas e aperta
a pata do cachorro! Olha nos olhos e agradece com um "muito
obrigado".
Poucas profissões no mundo serão
capazes de provocar toda essa tensão. Quase nenhuma!
O policial desceu a favela e foi
em nossa direção. Já estávamos todos reunidos esperando a hora exata de agir!
Já planejamos tudo e cada um sabe exatamente o que vai fazer!
A hora chegou! Oramos juntos antes
de prosseguir, um costume da nossa equipe. Todos de mãos ou ombros dados,
pedindo para Deus abençoar nossa operação!
Terminamos de pegar nossos
equipamentos e conferir tudo: Fones de ouvido para Comunicação; pistolas PT 840
calibre 40mm com 5 carregadores; fuzil FAL calibre 7.62 com 4 carregadores; placas
balística de kevlar, frontal e traseira; placas balística de cerâmicas, frontal
e traseira; rádio portátil da polícia; faca tática; joelheira; reservatório de
água.
Embarcamos e cortamos a cidade indo na direção
da comunidade da Pulga.
Vai começar a brincadeira de gente
grande! Brincadeira que vai mostrar para aquele matador de policial que ele é
PittBul para os outros, mas para nós não passa de uma Lassy!
Não adianta abanar o rabo, latir, uivar,
deitar, rolar ou se fingir de morto!
Ou ele se entrega e vai para o
canil ou, de fato, vai fingir-se de morto para sempre!
Eu desembarquei na principal, no
acesso as escadas que dariam acesso à casa dele, de onde o mesmo sairia com
suas malas fugindo para outra comunidade!
Na minha cobertura tem mais dois
policiais! O restante da equipe progrediu pela parte de trás, que é uma espécie
de mata!
Não tem tráfico nessa parte, mas
se Cachorro correr vai ser por essa parte que ele vai tentar fugir! Só tentar
mesmo!
A casa do informante fica próxima
da casa do bandido, e o informante está falando comigo no fone de ouvido que
ele ainda está dentro de casa.
Pela janela ele consegue ver Cachorro pegando umas mochilas de
roupas e pondo sobre a cama!
Ele senta-se e abaixa para amarrar
o tênis; veste a camisa, olha-se no espelho, faz o sinal da cruz, abraça e
beija a namorada!
Ficam abraçados por três minutos,
até que ele pega a mochila e vai em direção à porta de saída!
A namorada parece que sente a
tormenta que o pobre “cãozinho” dela está para passar! Segura o seu braço e
insiste para ele não sair! Ele a beija novamente e diz que vai ficar tudo bem.
Ela insiste, chora e implora pelo
amor de Deus para ele não sair por aquela porta. Ele força a mão e se
desvencilha de sua amada.
O Informante avisa que ele está
saindo, está chegando á porta! O informante começa esbravejar que ele já saiu:
– Ele saiu! Ele saiu, saiu!!!
Desligo o fone de ouvido e o
informante se esconde em casa, sabendo que o mundo vai acabar em bala e vai
mesmo!
Fatio a parede para a direita com
uma precisão cirúrgica de colocar inveja nos melhores cirurgiões. Bem lentamente
vou fatiando, meus olhos cada vez enxergam mais a visão da escada!...
Continuo fatiando com precisão e cuidado,eu tenho que vê-lo e não o contrário! Ainda nao! Tenho meu primeiro contato visual com o cachorro! Ainda não terminei de fatiar a parede e só consigo vê sua perna!
Continuo fatiando com precisão e cuidado,eu tenho que vê-lo e não o contrário! Ainda nao! Tenho meu primeiro contato visual com o cachorro! Ainda não terminei de fatiar a parede e só consigo vê sua perna!
Canela fina, andar desenvolto e
malandreado! Um tênis branco com os cadarços bem amarrados...
Fatio mais ainda e minha visão
torna-se cada vez mais privilegiada.
Já consigo ver todo o seu corpo.
Ele desce as escadas parecendo político em época de eleição acenando para todos
nas janelas dizendo que em breve estará de volta! Pelo menos é o que ele acha.
Realmente o filho da puta é muito
querido pela comunidade, mas, para azar dele, não é nem um pouco querido por
mim!
Ele desce segurando sua pistola,
uma Glock de rajada com carreador alongado.
Ótima arma, uma das melhores pistolas do mundo! Ela é feita
com material espacial e quase nunca falha.
Se a arma que está com ele quase
nunca falha, eu que não posso cogitar a ideia de falhar. Senão estou morto, ele
fatalmente iria despejar todos os tiros possíveis em minha direção!...
Estou a 40 metros de distância do
cachorro brabo e ele ainda não me viu...
Decido que chegou a hora. Avanço um
metro. Ele está completamente na minha mira.
Meu fuzil está como um touro de rodeio dentro do cercado,
esbanjando energia, pronto para dissipar todo poder de que ele é capaz.
Minhas sobrancelhas praticamente
caem nos olhos... A minha cara é de colocar medo mesmo, cara de tigre,
imponente, mostrando para ele que só eu vou sair vivo caso ele tente algo!
Estou mirando exatamente em seu peito, um pouco abaixo da
garganta, sem margem para erro!
Mas nem toda intimidação que provoco
é suficiente para que Cachorro desista de um embate.
Ao mesmo tempo em que miro o seu
tórax, minha visão periférica acompanha suas mãos como fanáticos acompanham o
Big Brother Brasil...
Para alguns vagabundos, a morte
não é nada. Eles preferem morrer que serem presos! Com Cachorro é assim!
Seus músculos contraíram, seu olhar
era de medo, e agora tinha o mesmo olhar que o meu...
Nos encaramos. É inútil ordenar que ele largue
a arma! Não existe mais esta possibilidade. O desafio está lançado! Um racha,
não de carros, mas de bandido e polícia, os dois lutando pela vida e um só
lutando pela liberdade...
Sua mão direita, empunhando a
pistola, começa a levantar! Ele sabe que por mais rápido que ele seja jamais
conseguirá atirar primeiro... Atitude suicida!... Ele desafiara-me e eu não o decepcionaria...
O Cachorro quer?... Então o Cachorro vai ter!
Meu dedo contrai e o gatinho
começa a ser pressionado! Todo o mecanismo do fuzil pronto para funcionar! Exerço
mais força no gatilho, estou de olhos bem abertos, quero ver o peito dele
explodindo igual bomba com o impacto do poderoso projétil calibre 762,
simplesmente o que há de mais devastador!
Ele continua a erguer o braço! Ele
vai me matar se eu bobear!Cachorro! Segura, que é de graça! Pega essa totó!... Disparo
contra ele!
O projétil calibre 762, imponente
e destruidor, atinge seu peito! Faz um buraco de entrada do diâmetro de uma tampa
de garrafa pet, atravessa e sai pelas costas com diâmetro de manga Tomy, aquela
bem grande!
Antes que seu corpo caia ao solo
seus pulmões são expulsos de seu corpo com o deslocamento de ar do projétil. Estão
espalhados pela escada junto com fragmentos de ossos da coluna e de costelas!
Sua coluna parte em vários
pedaços! Para onde quer que ele vá, inferno ou céu, ele vai paraplégico!
Foi assim, que Cachorro morreu! Morreu sem proferir seus últimos latidos e uivos! Morreu como um verdadeiro cachorro: com a língua para fora, de boca aberta, e mostrando os caninos!
AU! AU! AU!...
Foi assim, que Cachorro morreu! Morreu sem proferir seus últimos latidos e uivos! Morreu como um verdadeiro cachorro: com a língua para fora, de boca aberta, e mostrando os caninos!
AU! AU! AU!...
Esse não morde mais ninguém!
Soldado Weslley Cosme
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