sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

RIO EM GUERRA - CRÔNICA DO SOLDADO WESLLEY COSME

Nota de Emir Larangeira: trata-se de história real, ou fictícia, que retrata a cruel realidade enfrentada pelos PMS da PMERJ nos dias de hoje. O autor, Soldado PM com bastante vivência operacional, culmina por nos oferecer momentos de muita emoção com suas crônicas literárias de alto gabarito. Para mim é uma honra postá-las aqui!




CONTO DE FARDA III

História Real

Certa vez, trabalhando numa comunidade em Niterói, estávamos minha equipe e eu escondidos num ponto estratégico para observação da boca de fumo. Aguardávamos, o momento exato para explodir como uma “Bomba C4” para cima dos lafranhudos.

A outra parte da equipe cercava a parte de baixo, por onde uma escadaria fazia a ligação direta da rua principal com o ponto de venda que eu estava observando.

Vimos subindo pelas escadas um rapaz descolado, loiro, de boa aparência e vestindo camisa e bermuda com estilo de surfista.


O playboy, com ar de menino rico, bem tratado, andar imponente e superior, pele bem limpinha, parecia um turista com alta condição sociofinanceira e cultural.


Ele terminou de subir os degraus, aproximou-se dos bandidos, estendeu a mão com certa quantia em dinheiro e fez seu pedido como se num restaurante estivesse.
O playboy, com ar de estrangeiro, demonstrava certo nervosismo de quem está há algum tempo sem usar aquela maconha, que ele pediu ao garçom do tráfico.


Notei que os traficantes desconfiaram desse rapaz e o enquadraram. Bandidos que estavam um pouco mais distantes perceberam que seus comparsas desconfiaram do playboyzinho e logo se levantam demonstrando agressividade com suas longas armas, indo em direção ao rapaz com cara de rico.


Um traficante, de no máximo 14 anos, apontou a arma para a cabeça dele e mandou-o levantar a camisa, enquanto os outros fizeram uma boa revista nele.

 
Mandaram-no virar de um lado para o outro, abaixar as calças e até no celular desse rapaz os traficantes deram uma boa olhada! O playboy não dizia nada! Os olhos pareciam querer saltar das órbitas oculares! Olhão de Mônica mesmo.


Deu para perceber o desespero do rapaz. Exalava temor, tinha medo de ser confundido com um policial ou membro de facção rival ou talvez com algum informante da polícia. Mas ele era apenas, e unicamente, apenas um merda de viciado, como existem tantos outros merdas por aí!


Após os traficantes constatarem que ele não apresentava perigo algum, venderam-lhe a droga. O rapaz então desceu as escadas para ir embora!


Neste momento, desencadeamos a operação!



A equipe que estava comigo caiu direto em cima da boca de fumo, e a outra equipe fechou a parte de baixo da escadaria para que nenhum traficante descesse correndo por lá.


Traficantes foram presos, armas e drogas apreendidas! Até aí tudo bem, nenhum tiro fora disparado, ninguém saiu ferido, tudo ocorrendo perfeitamente como planejado!


A equipe da escadaria abordou o viciado com cara de surfista e ar de classe média super alta, que tinha acabado de comprar a sua droga.


Quando fora revistado pelos bandidos, ficou se borrando de medo demonstrando total terror dos traficantes!


Esse mesmo rapaz, tão respeitoso com os marginais que desconfiaram dele, começou a gritar com os policiais dizendo que era preconceito a polícia abordá-lo só porque estava saindo da comunidade!


Disse ainda que era filho de advogado, que não era qualquer um, que era morador da Região Oceânica de Niterói, que tínhamos que prender políticos e não ficar subindo morro para colocar a vida dos outros em risco!


Desacatou a equipe, agrediu um policial e resistiu à prisão! Foram necessários quatro policiais para conseguir imobilizar esse merda de viciado.


Lembrando que bandidos apontaram armas para a cabeça desse playboy, e alguns desses traficantes não passavam de 14 anos de idade, agora vejam só: um bandido de 14 anos, idiota, merda, playboy, maconheiro safado, respeita e se caga de medo. Mas agora, com os PMs trabalhando, ele quer ser valente? Não quer ser abordado nem revistado? Aí desacata, desobedece, resiste e agrede os policiais?


Claro que ele não ficou muito tempo com essa valentia toda! Lógico que não!
Após uma boa conversa, ele conseguiu assimilar e respeitar nosso trabalho. Não poderia ser diferente, trabalhador tem que ser respeitado!


Entenderam porque o viciado não presta pra porra nenhuma? Viciado é isso aí! Seja ele pobre ou rico, ele é isso aí que vocês leram no texto!


Eles sempre irão respeitar os bandidos! Mas não vão respeitar a polícia nem você, cidadão de bem, que está lendo esta história do nosso cotidiano de combate ao crime!

         Soldado Weslley Cosme






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