quarta-feira, 15 de abril de 2015

RIO EM GUERRA LV

“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)

"G1 Rio

13/04/2015 18h49 - Atualizado em 14/04/2015 08h51

Pezão admite erro da PM em ação que matou Eduardo no Alemão

'Foi uma atuação errada', disse o governador nesta segunda-feira (13).

PM suspeito de ter dado o tiro renovou licença médica e não depôs.



O governador Luiz Fernando Pezão admitiu nesta segunda-feira (13) que a Polícia Militar confirmou que houve erro na ação que resultou na morte do menino Eduardo de Jesus, de 10 anos. A criança foi  baleada na cabeça no Conjunto de Favelas do Alemão, Zona Norte do Rio.

“Foi uma atuação errada. A PM apresentou os policiais e viu pela localização que tinha tido um erro ali. Quem investigou, quem viu, e quem fez esse trabalho foi a polícia. Agora está se apurando”, declarou Pezão após participar de um evento na Câmara de Comércio Americana do Rio (AmCham Rio), em Copacabana.

Pezão disse que o caso é “lamentável”. “É muito triste ver um garoto de 10 anos perder sua vida ali, assim como a dona Elizabeth”, destacou o governador, lembrando também da morte da dona de casa Elizabeth Alves de Moura, baleada dentro de casa durante operação policial no Alemão.

“Isso mostra que cada vez mais temos que treinar melhor, capacitar melhor os nossos policiais”, destacou Pezão, que ressalvou as particularidades das favelas que compões o Alemão. "Eu sei que as condições ali no alemão são muito difíceis, principalmente nas duas localidades onde a gente estava reforçando policiamento", acrescentou.

O governador, no entanto, voltou a enaltecer a política de pacificação, enfatizando que o estado não irá retroceder neste processo. “Acho que [a pacificação] vai melhorar cada vez mais. A PM tem 208 anos. Estamos entrando em áreas que o estado não entrava há 30 ou até 40 anos”, disse.

PM renova licença médica

Nesta segunda-feira (13) estavam previstos na Divisão de Homicídios os depoimentos de cinco PMs envolvidos na morte de Eduardo. Um eles é o principal suspeito de ter disparado o tiro de fuzil que atingiu o garoto.

O depoimento seria na semana passada, mas seu advogado apresentou atestado médico alegando que seu cliente estava emocionalmente abalado. A licença acabaria nesta segunda, mas foi renovada por mais oito dias, segundo a Polícia Militar, e o PM novamente não apareceu para depor.

'Arrependimento é falso', diz mãe de Eduardo

Após a divulgação do laudo da Polícia Civil, ficou confirmado que o tiro que matou o menino 
partiu de um fuzil e foi divulgado que os policiais responsáveis estão supostamente abalados, inclusive de licença médica. A mãe do garoto Terezinha Ferreira resolveu desabafar. Para ela, "esse arrependimento é falso".

"A distância que ele estava do meu filho era muito pequena e dava para ele perceber se era um adulto ou uma criança. Ele foi muito covarde", falou Terezinha. No início das investigações, ela relatou que o tiro havia sido dado por um policial e a versão foi agora confirmada através do laudo da perícia.

Dois policiais militares envolvidos na operação, que confirmaram ter efetuado disparos de fuzil perto do local onde o estudante foi morto, estão de licença médica supostamente abalados pelo disparo que matou o menino. Após admitir em depoimento que pode ser o autor do tiro, um dos PMs chegou a ser internado no Hospital Central da PM, com sintomas de um surto psicótico.

Um dos agentes afirmou ainda que efetuou disparos após uma queda, e o outro admite que fez três disparos. Os soldados da UPP serviam de guias para homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope).

Terezinha contou ao G1 os momentos da morte do filho no Complexo de Favelas do Alemão. Ela considerou que o que ouviu não apenas um tiro, mas um 'grande estouro'. Terezinha contesta ainda o arrependimento dos policiais sobre a morte do filho.

"Na hora eles não tiveram nenhuma reação de arrependimento, nenhum dos dois policiais. Pelo contrário, ele ainda apontou o fuzil no meu rosto e me ameaçou. Eu marquei a cara dele. Eu nunca vou esquecer o rosto do PM que acabou com a minha vida", disse.

"Tudo o que eu mais quero é que a justiça de Deus seja feita, porque ela nunca falha. E eu verei: ele vai pagar pela morte do meu filho. Ele vai penar. Nunca vou perdoá-lo. Ele tirou a vida do meu filho, de uma criança. Ele não terá mais sossego", disse.

Dia 17 de abril os pais de Eduardo voltam para o Rio de Janeiro para ajudar a Polícia Civil nas investigações. A Divisão de Homicídios da Capital (DH) vai realizar a reconstituição da morte do garoto ainda sem data marcada. Os investigadores esperam a volta da família de Eduardo ao Rio de Janeiro."

MEU COMENTÁRIO


Não há como negar o “erro da PM”, como asseverou o governante Pezão empurrando o elevador para o subsolo. Mas é preciso sublinhar: quem põe o fuzil nas mãos dos PMs é o último andar do poder, e nenhum PM em sã consciência premeditaria matar uma criança, isto foge a qualquer lógica. Portanto, reduzir a desastrosa morte de inocentes a “erro da PM” não soluciona o problema, que, ao fim e ao cabo está no uso indiscriminado do fuzil, erro maior que não é da PM, mas de quem um dia decidiu banalizar o uso de fuzis por guarnições normais de policiamento em todo o RJ, diga-se de relance para não se instituir uma falsa ideia de que somente na capital a PM permite o uso de fuzis no cotidiano patrulhamento.

Ora, fuzil não é arma de boa maneabilidade em locais apertados e/ou acidentados. Menos ainda em zonas populosas, como é caso das favelas. Mas nem pensar retirar do PM esta arma, embora a maioria não a saiba usar com a desenvoltura de um infante. Na verdade o fuzil, além de sua alta letalidade, é um estorvo dentro das viaturas e deveras perigoso se disparado em locais cujas características não garantam que o tiro limitar-se-á ao alvo. Mas ai de quem agora tentar mudar este cacoete do PM! Melhor então deixar o fuzil e descartar o homem que o utiliza indevidamente e mata alguém. Afinal, a fila de jovens desesperados (desempregados) sonhando ser PM é de perder de vista.

O uso generalizado de fuzis pela PM lembra a história do ovo e da galinha. Porque bastou o bandido aparecer com fuzis para o sistema imitá-lo. Não houve grandes avaliações, apenas os fuzis foram brotando nas mãos dos traficantes e dos policiais (civis e militares), não se sabendo qual teria sido a lógica da segurança pública para imitar o bandido, este que pode até usar granadas, tanques de guerra etc. Porque sua irresponsabilidade é imperativa, a vida à margem da lei é sua única cultura. Mas a polícia deveria imitar menos os bandidos e decidir com racionalidade sobre que armas se adaptam melhor ao labor policial. No específico caso das favelas, o uso do fuzil não vem trazendo bons resultados nem evitando a morte de PMs. Pior ainda, vem desgraçando a vida de alguns empolgados jovens que culminam matando crianças por não saberem usar o fuzil. E muitas vezes não sabem usar arma alguma, falta-lhes treinamento intensivo, que custa tempo e dinheiro.


O jeito então é jorrar PMs nas favelas armados com fuzis (dificilmente ocorre troca de tiros de fuzil entre PMs e marginais no asfalto. Já perceberam isto?....) No fim de contas, em pouco tempo ninguém mais se lembrará do menino de dez anos, um dentre muitos meninos e meninas atingidos e mortos por balas perdidas. Se essas balas saírem do fuzil dos bandidos, o assunto morre na origem. Se, porém, se comprovar que o tiro foi disparado por PM, aí não tem essa de acidente, e sobre ele desce o porrete da lei penal, já que ele é o único alvo da sanção porque portava o fuzil, não importando a ninguém quem o pôs na sua mão. E assim a vida segue seu curso, e o Batalhão Especial Prisional (BEP) se vai entupindo de homicidas que não queriam mais que um emprego estável e aventurar-se a prender bandidos, isto na melhor hipótese. 

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