quarta-feira, 25 de março de 2015

RIO EM GUERRA XXXIII

“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)


"Do G1 Rio

24/03/2015 10h22 - Atualizado em 24/03/2015 11h18
Teleférico do Alemão, no Rio, para após confronto na comunidade

Interrupção ocorreu por volta de 9h20 e permanecia pelo menos até 10h45.
Confronto aconteceu em região conhecida como Chuveirinho, segundo UPP.



Teleférico do Alemão teve serviço interrompido na manhã de terça (Foto: Luiza Reis / Governo do Rio)

Um tiroteio provocou a interrupção do serviço do Teleférico do Alemão e assustou moradores na manhã desta terça-feira (24) no conjunto de favelas da comunidade, na Zona Norte do Rio. A Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) descreveu o evento como mais um ataque a policiais. Durante patrulha na localidade conhecida como Chuveirinho, traficantes teriam se deparado com policiais e efetuado disparos. Houve confronto, mas os suspeitos fugiram. Não há informações sobre feridos.

Nesta madrugada, após registrar mais um confronto, um morador desabafou em redes sociais: "Acho que vou me mudar para o Iraque, lá está mais tranquilo [do] que aqui no morro", escreveu.
De acordo com a Supervia, concessionária que administra o transporte, a interrupção do teleférico aconteceu por motivos de segurança pública por volta das 9h20. O transporte voltou a funcionar por volta das 11h10.

Morte por bala perdida

Considerada "pacificada" pelas autoridades, a região tem registrado intensos tiroteios. Na quinta-feira, uma
 mulher de 38 anos foi baleada na porta de casa e morreu. No sábado (21), um novo confronto foi ouvido por moradores.

Vanessa Aparecida Abcassis morava no Alemão desde criança, era casada e tinha dois filhos. Um deles com paralisia cerebral. Segundo a irmã da vítima, Vanessa e vizinhos conversavam no portão quando ouviram alguns disparos. Vanessa foi atingida na perna e na barriga. chegou a ser levada para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas não resistiu."



Foto constante da matéria do G1 Rio

MEU COMENTÁRIO

Às vezes digo coisas que parecem ter saído de minha fértil imaginação, como foi caso, outro dia, em que falei sobre o Teleférico do Complexo do Alemão e do falso glamour midiático em relação a uma realidade cruenta que, por mais que a tentem ocultar, aflora como tumor maligno. E mesmo que os por ele acometidos insistam em se dizer curados, depois de inútil quimioterapia ele explode e vaza em realismo inelutável, assim como contamina outros corpos para iniciar novo ciclo de destruição. E por culpa deste falso glamour as pessoas ficam crendo em sua própria ilusão de que está tudo bem e tombam mortas em espanto. Ora, o Complexo do Alemão não está pacificado porque não foi pacificado. É grave problema desde o dia da “conquista” pelas Forças Armadas somadas às Forças Policiais, com direito até a ultimato promovido pelo então comandante da PMERJ em vibrante empolgação.

Entusiasmo compreensível, sem dúvida, porém longe de uma realidade mais que cruel: o Complexo do Alemão é, de fato, a mais poderosa fortaleza urbana do CV, e também concentradora do entusiasmo fundamentalista dos bandidos, que são muitos, e armados até os dentes com fuzis de última geração e outras armas de guerra não menos letais, sem falar das armas consideradas comuns, todas, porém, excelentes ceifadoras de vidas. Nem considero o fato, óbvio, de que os bandidos conhecem palmo a palmo o terreno, o que torna a missão da PM naquele lugar muito difícil, senão impossível, a ser mantido o formato operacional vigente...

Apesar disso, há os chamados “especialistas” do mundo acadêmico que apostam na derrocada da PM como credo ideológico, e os políticos a eles ajustados apertam o cerco com novas leis visando à anulação da força policial ante um poderio bélico em virtude do qual, como insinuou a moradora na matéria em comento, sua comunidade está pior que o Iraque. Sim, a alegoria serve, pelo menos quanto à constância dos embates e aos altos índices de letalidade policial naquele complexo favelado que abriga o CV e possui espantosa capacidade regenerativa, muito superior à demonstrada pelo Estado do RJ ao longo dos anos, malgrado o heroico esforço do seu aparato policial a tentar em vão destruir um tumor que se alastra em metástase.

Eis a realidade! Parece, todavia, ficção hollywoodiana! Coisa de cinema! E muitas outras exclamações poderiam ser inseridas para despertar do torpor principalmente aqueles que têm responsabilidade com a difusão de notícias para a população, como foi a recente ufania da mídia com a diminuição dos índices de homicídio no RJ inteiro, mas atribuindo tudo ao sucesso de algumas UPPs sediadas na Capital, com um desses “especialistas” especulando uma paz irreal e aproveitando, claro, para reclamar da reação policial a produzir morte de civis. Enfim, o “especialista” ignorou solenemente o absurdo número de policiais feridos e mortos durante serviço em localidades com UPPs, ou fora do serviço, mas por conta de serem lotados numa delas. Para ele, decerto, morte de PM é “normal”, ele vê a farda do PM como um “caixão”...

Não se trata de jogar a toalha! Porque sei, também, que o aparato policial se regenera, a imobilidade social garante mão de obra bastante para os dois lados da eterna contenda entre o Bem e o Mal, se é que existe uma coisa e outra no atual contexto, que se caracteriza não por duas nítidas trincheiras, mas por uma mistura quase homogênea de saúde e doença no corpo social, tal como ocorre no corpo humano tomado por células leucêmicas. Elas entram em luta contra os glóbulos vermelhos e os vencem, tornando o sangue nada mais que pus em fatal hiperviscosidade.

Eis o problema que vem tendo sua solução adiada, se é que existe solução local para um problema cuja retaguarda é internacional e multimilionária. Porque sobram ao narcotráfico gentes, aprestos e dinheiro para a imediata realimentação do seu sistema situacional criminoso. E o retorno é garantido por muitos países “amigos”, hoje cortejados por um sistema político que não almeja mais que tornar o Brasil uma “democracia hisperviscosa”. E estão conseguindo a partir da leniência com o crime e do rigor extremo contra aguerridos policiais que saem de casa sem direito a um “até logo” endereçado à família. Só podem dar um “último adeus” a cada serviço, e quando voltam é festa da vida prolongada até o próximo e inevitável confronto com os traficantes.


Claro que não há como evitar o ferimento e a morte de civis, como ocorreu com a dona de casa Vanessa Aparecida Abcassis, de 38 anos, morta porque cria no sonho da pacificação e pôs o corpo fora do seu lar por apenas um átimo. Mas bala perdida não necessita de mais tempo, basta-lhe um átimo, ou menos, e lá se esvai mais uma vida em vão. Sim, Vanessa morreu por nada, não se dedicou mais que à família, e isto lhe deveria bastar e permitir vida longa. Mas ela não gozava deste direito, era “minhoca da terra”, e à terra foi devolvida por um balaço dentre muitos que ainda haverão de haver naquela comunidade nada conquistada nem muito menos pacificada.

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