Matéria do Jornal EXTRA ON-LINE
de hoje.
“A PM deverá apresentar uma
novidade neste semestre: cada bairro da cidade terá um oficial para chamar de
seu. Inspirado em projetos implantados no Chile e na Colômbia, o comando da
corporação designará capitães para responder pela segurança de áreas
específicas, tentando, dessa forma, aproximar policiais e moradores.
O projeto será lançado — e
testado — na chamada Grande Tijuca, cujo policiamento é feito pelo 6º BPM. Além
do bairro que dá nome à região, Andaraí, Grajaú, Maracanã, Praça da Bandeira,
Vila Isabel e Alto da Boa Vista terão oficiais encarregados de traçar, com o
apoio de moradores, estratégias de segurança para cada um deles.
— Nossa intenção com essa
experiência é transformar todos os batalhões, adotando uma política de
proximidade com o cidadão. Temos um cronograma e, se tudo der certo no início
do projeto, vamos ampliá-lo logo em seguida. Queremos, num prazo de dez anos,
ter uma polícia completamente reformulada no Rio de Janeiro — disse o comandante
do Estado-Maior da PM, coronel Robson Rodrigues, acrescentando que espera levar
a ideia para o interior do estado.
AÇÕES MAIS RÁPIDAS
A expectativa do comando da PM
com a nova estratégia de segurança é proporcionar respostas mais rápidas às
ocorrências criminais. Afinal, cada capitão deverá estar acompanhando de perto
os problemas de cada bairro.
— Teremos policiais treinados
para conversar com a população, algo que vai dar mais qualidade ao nosso
trabalho. O combate ao crime será planejado por quem realmente acompanha o dia
a dia de moradores e comerciantes — afirmou Rodrigues.
Um outro projeto que deverá ser
implantado em breve pela PM será uma reformulação das 38 Unidades de Polícia
Pacificadora (UPPs) do estado, baseada num relatório, feito nos últimos dois
meses, sobre a situação de cada uma delas. De acordo com fontes da Secretaria
de Segurança, o Comando de Operações Especiais (COE) vai auxiliar no processo
de reestruturação das UPPs.
Alvissareira a notícia do Jornal
EXTRA de hoje, 07 de janeiro de 2015. Resume-se em duas informações deveras
interessantes:
1) A criação de ambientes de
tarefa, ou específicos, como nos sugere a Teoria Geral da Administração (TGA)
em seu desdobramento contingencial, que designa como imperativo às organizações
a tecnologia e o ambiente. Nesses ambientes de tarefa haverá um capitão PM
responsável por interagir com os moradores, comerciantes e demais segmentos
comunitários, de modo a que se pratique a “polícia de proximidade”, sonho
institucional que nos remete aos tempos do Cel PM Carlos Magno Nazareth
Cerqueira e à sua ideia de integração comunitária e articulação institucional,
ou seja, a interação simultânea da PMERJ com representatividades comunitárias,
que podem alcançar líderes de comunidades carentes, síndicos de prédios, segmentos
comerciais, industriais e demais instituições públicas e particulares num
delimitado ambiente.
2) A reformulação das 38 UPPs em
vista de muitas falhas e da necessidade de correção de rumo em algumas delas,
decerto priorizando a construção de instalações confortáveis e seguras, bem
como implantando sistemas panópticos (visão geral) a substituírem o olhar
humano em patrulhamentos cansativos, aleatórios e notadamente perigosos.
Claro que as medidas de
reformulação das UPPs não se limitam a esses pontos mínimos e outros virão em
razão de uma vivência que antes não existia. Hoje a vivência é intensa e até
mesmo trágica em razão da morte de muitos oficiais, graduados e praças de UPPs,
devendo-se considerar que os assassinatos de PMs lotados em UPP, mas ocorridos
fora do serviço, podem ter relação indireta ou direta com o trabalho deles.
Afinal, os traficantes não pretendem perder seus lucrativos negócios tão
singelamente, e se demonstram sem limites nos confrontos diários com tropas da
PMERJ em tudo que é canto do RJ, em menor intensidade no interior, o que não
significa nenhuma paz interiorana, mas a real probabilidade de expansão do
tráfico e de suas graves consequências.
Duas providências anunciadas,
ambas a meu ver muito boas, sendo certo que quanto à segunda (reestudo das
UPPs) muitas vezes sugeri aqui no blog a necessidade de reformulações dos
atuais métodos (até admitindo a falta deles) que estão enfiando as UPPs num
processo entrópico que precisa ser revertido urgentemente.
Quanto à subdivisão de ambientes
sob a responsabilidade de um capitão PM, nota-se desta maneira o retorno de
tese muito estudada pelo ex-comandante geral, Cel Cerqueira, que consistia em
saber que modelo de companhia de PM seria mais produtivo, tendo como foco duas
ideias: companhia especializada e companhia generalizada ou mista. Digamos que
fossem assim denominadas, não me ocorre outra lembrança a não ser a do oficial
que se dedicou com afinco ao estudo dos modelos, na época major PM lotado na 3ª
Seção do EMG, Sérgio da Cruz, posteriormente alçado ao elevado cargo de
comandante geral.
A conclusão do brilhante oficial
foi pela importância de ambos os modelos, tendo como determinante da escolha de
um ou outro o ambiente. De modo que, em sendo os ambientes diferentes uns dos
outros, demais de dinâmicos a ponto de seus problemas aumentarem ou diminuírem
em velocidade surpreendente nos dias de hoje, o ideal seria que as estruturas
se flexibilizassem proativamente no sentido de atender a todos os objetivos
específicos. A ideia então seria a de que o globalismo (o todo maior que a soma
das partes) superasse qualquer distorção entrópica, mantendo-se a homeostasia
do sistema de segurança pública, incluindo-se a certeza de que muitas desordens
se resolvem sem polícia e mais ainda se os cidadãos participarem do sistema
como importantes subsistemas a partir do lar, das escolas, dos hospitais, das
igrejas etc.
Sem qualquer dúvida, o modelo
descentralizado de policiamento a ser testado na Tijuca dará certo, pois em
muitos países a “polícia de proximidade” tem mudado para melhor a sensação de
segurança. Vi modelo semelhante nos comissariados de Montevidéu e sei que em Lisboa
o modelo vem desde muito tempo adotado, assim como em Londres, o que me faz
lembrar a visita de dois policiais da Scotland Yard ao Brasil. Numa palestra,
ambos afirmaram a importância da aproximação da polícia com o público citando
um inusitado exemplo: a polícia londrina fez certa vez uma pesquisa para saber
dos moradores de um bairro quais os crimes que mais os deixavam apreensivos. O
resultado foi surpreendente: os moradores se incomodavam bem mais com a
quantidade de dejetos de cachorro nas calçadas do que com qualquer tipo de
crime. Enfim, não era problema de polícia. Ou era?...
Apenas à guisa de informação,
cito Martha K. Huggins in Polícia e
Política: Relações Estados Unidos/América Latina – Cortez Editora:
“O uso crescente da polícia
motorizada ao invés de patrulhas a pé colocou uma distância espacial maior
entre a polícia e o público. Quando o público passa a ser conhecido pelo
policial somente através do para-brisa de um carro de patrulha em movimento, os
cidadãos facilmente se tornam objetos a serem manipulados.”
Vou mais longe com uma observação
pessoal.
Em Paty do Alferes, município no
qual temporariamente residi, anda-se mais a pé que de carro, tudo é perto, o
centro da cidade é um quarteirão, ou pouco mais, que pode ser percorrido a passos
lentos em talvez vinte minutos. Lá, bem perto do Fórum, onde fica a
indefectível pracinha interiorana (só não há coreto), postam-se duas ou até
três viaturas do DPO da PMERJ, situado nas proximidades, em distância que
poderia ser percorrida a pé. Mas os PMs das guarnições se concentram fora das
viaturas e se distraem em bate-papo entre eles, ignorando totalmente o
ambiente. E quando resolve interagir com algum transeunte, e se ele for
desconhecido, o trato não é dos melhores.
De ouvidos surdos e olhos
cansados, mesmo assim posso afirmar que a comunidade de Paty do Alferes, como
um todo, detesta os PMs, estes que, por sua vez, não fazem a mínima questão de
ser benquistos. Enfim, num lugar bucólico, onde a integração comunitária se
daria naturalmente, há, na verdade, uma relação quase que de ódio, inclusive
manifestada num dos bairros (Arcozelo), em que, depois de desastrada blitz em
que uma jovem motociclista, moradora do bairro, ao tentar furar o cerco por momentaneamente
não portar sua habilitação (ela a possuía), caiu, bateu com a cabeça no
meio-fio e morreu na hora.
A população do bairro, revoltada,
incendiou as viaturas e a sede do DPO, esta que até hoje não foi reerguida
porque o ódio entranhado em ambas as partes não permite. Ora, falo de lugar
interiorano, bucólico, onde todos se conhecem, exceto os PMs, que, ou são de
outro lugar, ou ignoram que são filhos dali e tratam todos em arrogância, como
“suspeitos”, já que há a natural ausência de autênticos suspeitos.
Fica a dica, pois imagino que
todo o interior do RJ funciona assim: repressão desnecessária, em paranoicas
blitze, sem conhecimento prévio de possíveis práticas de crime, para “mostrar
serviço”, em vez de prevenção por proximidade, como pretende agora, e em boa
hora, a PMERJ que inicia um novo ciclo de atividades focando alvos certos. Que os
acerte na mosca!
2 comentários:
Moldes da Polícia Nacional de Colômbia: polícia de proximidade, em quadrantes....
Aonde está a novidade? Manual antigo do Exército já previa a divisão em Subáreas de policiamento, compatível com uma Companhia. Quem comanda Cia? Capitão.
A PM já usa isso há anos.
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