quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Capitão PM comandará policiamento de bairros na Grande Tijuca



Matéria do Jornal EXTRA ON-LINE de hoje.



“A PM deverá apresentar uma novidade neste semestre: cada bairro da cidade terá um oficial para chamar de seu. Inspirado em projetos implantados no Chile e na Colômbia, o comando da corporação designará capitães para responder pela segurança de áreas específicas, tentando, dessa forma, aproximar policiais e moradores.

O projeto será lançado — e testado — na chamada Grande Tijuca, cujo policiamento é feito pelo 6º BPM. Além do bairro que dá nome à região, Andaraí, Grajaú, Maracanã, Praça da Bandeira, Vila Isabel e Alto da Boa Vista terão oficiais encarregados de traçar, com o apoio de moradores, estratégias de segurança para cada um deles.

— Nossa intenção com essa experiência é transformar todos os batalhões, adotando uma política de proximidade com o cidadão. Temos um cronograma e, se tudo der certo no início do projeto, vamos ampliá-lo logo em seguida. Queremos, num prazo de dez anos, ter uma polícia completamente reformulada no Rio de Janeiro — disse o comandante do Estado-Maior da PM, coronel Robson Rodrigues, acrescentando que espera levar a ideia para o interior do estado.


AÇÕES MAIS RÁPIDAS


A expectativa do comando da PM com a nova estratégia de segurança é proporcionar respostas mais rápidas às ocorrências criminais. Afinal, cada capitão deverá estar acompanhando de perto os problemas de cada bairro.

— Teremos policiais treinados para conversar com a população, algo que vai dar mais qualidade ao nosso trabalho. O combate ao crime será planejado por quem realmente acompanha o dia a dia de moradores e comerciantes — afirmou Rodrigues. 

Um outro projeto que deverá ser implantado em breve pela PM será uma reformulação das 38 Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) do estado, baseada num relatório, feito nos últimos dois meses, sobre a situação de cada uma delas. De acordo com fontes da Secretaria de Segurança, o Comando de Operações Especiais (COE) vai auxiliar no processo de reestruturação das UPPs.

Alvissareira a notícia do Jornal EXTRA de hoje, 07 de janeiro de 2015. Resume-se em duas informações deveras interessantes:

1) A criação de ambientes de tarefa, ou específicos, como nos sugere a Teoria Geral da Administração (TGA) em seu desdobramento contingencial, que designa como imperativo às organizações a tecnologia e o ambiente. Nesses ambientes de tarefa haverá um capitão PM responsável por interagir com os moradores, comerciantes e demais segmentos comunitários, de modo a que se pratique a “polícia de proximidade”, sonho institucional que nos remete aos tempos do Cel PM Carlos Magno Nazareth Cerqueira e à sua ideia de integração comunitária e articulação institucional, ou seja, a interação simultânea da PMERJ com representatividades comunitárias, que podem alcançar líderes de comunidades carentes, síndicos de prédios, segmentos comerciais, industriais e demais instituições públicas e particulares num delimitado ambiente.

2) A reformulação das 38 UPPs em vista de muitas falhas e da necessidade de correção de rumo em algumas delas, decerto priorizando a construção de instalações confortáveis e seguras, bem como implantando sistemas panópticos (visão geral) a substituírem o olhar humano em patrulhamentos cansativos, aleatórios e notadamente perigosos.

Claro que as medidas de reformulação das UPPs não se limitam a esses pontos mínimos e outros virão em razão de uma vivência que antes não existia. Hoje a vivência é intensa e até mesmo trágica em razão da morte de muitos oficiais, graduados e praças de UPPs, devendo-se considerar que os assassinatos de PMs lotados em UPP, mas ocorridos fora do serviço, podem ter relação indireta ou direta com o trabalho deles. Afinal, os traficantes não pretendem perder seus lucrativos negócios tão singelamente, e se demonstram sem limites nos confrontos diários com tropas da PMERJ em tudo que é canto do RJ, em menor intensidade no interior, o que não significa nenhuma paz interiorana, mas a real probabilidade de expansão do tráfico e de suas graves consequências.

Duas providências anunciadas, ambas a meu ver muito boas, sendo certo que quanto à segunda (reestudo das UPPs) muitas vezes sugeri aqui no blog a necessidade de reformulações dos atuais métodos (até admitindo a falta deles) que estão enfiando as UPPs num processo entrópico que precisa ser revertido urgentemente.

Quanto à subdivisão de ambientes sob a responsabilidade de um capitão PM, nota-se desta maneira o retorno de tese muito estudada pelo ex-comandante geral, Cel Cerqueira, que consistia em saber que modelo de companhia de PM seria mais produtivo, tendo como foco duas ideias: companhia especializada e companhia generalizada ou mista. Digamos que fossem assim denominadas, não me ocorre outra lembrança a não ser a do oficial que se dedicou com afinco ao estudo dos modelos, na época major PM lotado na 3ª Seção do EMG, Sérgio da Cruz, posteriormente alçado ao elevado cargo de comandante geral.

A conclusão do brilhante oficial foi pela importância de ambos os modelos, tendo como determinante da escolha de um ou outro o ambiente. De modo que, em sendo os ambientes diferentes uns dos outros, demais de dinâmicos a ponto de seus problemas aumentarem ou diminuírem em velocidade surpreendente nos dias de hoje, o ideal seria que as estruturas se flexibilizassem proativamente no sentido de atender a todos os objetivos específicos. A ideia então seria a de que o globalismo (o todo maior que a soma das partes) superasse qualquer distorção entrópica, mantendo-se a homeostasia do sistema de segurança pública, incluindo-se a certeza de que muitas desordens se resolvem sem polícia e mais ainda se os cidadãos participarem do sistema como importantes subsistemas a partir do lar, das escolas, dos hospitais, das igrejas etc.

Sem qualquer dúvida, o modelo descentralizado de policiamento a ser testado na Tijuca dará certo, pois em muitos países a “polícia de proximidade” tem mudado para melhor a sensação de segurança. Vi modelo semelhante nos comissariados de Montevidéu e sei que em Lisboa o modelo vem desde muito tempo adotado, assim como em Londres, o que me faz lembrar a visita de dois policiais da Scotland Yard ao Brasil. Numa palestra, ambos afirmaram a importância da aproximação da polícia com o público citando um inusitado exemplo: a polícia londrina fez certa vez uma pesquisa para saber dos moradores de um bairro quais os crimes que mais os deixavam apreensivos. O resultado foi surpreendente: os moradores se incomodavam bem mais com a quantidade de dejetos de cachorro nas calçadas do que com qualquer tipo de crime. Enfim, não era problema de polícia. Ou era?...

Apenas à guisa de informação, cito Martha K. Huggins in Polícia e Política: Relações Estados Unidos/América Latina – Cortez Editora:


“O uso crescente da polícia motorizada ao invés de patrulhas a pé colocou uma distância espacial maior entre a polícia e o público. Quando o público passa a ser conhecido pelo policial somente através do para-brisa de um carro de patrulha em movimento, os cidadãos facilmente se tornam objetos a serem manipulados.”


Vou mais longe com uma observação pessoal.

Em Paty do Alferes, município no qual temporariamente residi, anda-se mais a pé que de carro, tudo é perto, o centro da cidade é um quarteirão, ou pouco mais, que pode ser percorrido a passos lentos em talvez vinte minutos. Lá, bem perto do Fórum, onde fica a indefectível pracinha interiorana (só não há coreto), postam-se duas ou até três viaturas do DPO da PMERJ, situado nas proximidades, em distância que poderia ser percorrida a pé. Mas os PMs das guarnições se concentram fora das viaturas e se distraem em bate-papo entre eles, ignorando totalmente o ambiente. E quando resolve interagir com algum transeunte, e se ele for desconhecido, o trato não é dos melhores.

De ouvidos surdos e olhos cansados, mesmo assim posso afirmar que a comunidade de Paty do Alferes, como um todo, detesta os PMs, estes que, por sua vez, não fazem a mínima questão de ser benquistos. Enfim, num lugar bucólico, onde a integração comunitária se daria naturalmente, há, na verdade, uma relação quase que de ódio, inclusive manifestada num dos bairros (Arcozelo), em que, depois de desastrada blitz em que uma jovem motociclista, moradora do bairro, ao tentar furar o cerco por momentaneamente não portar sua habilitação (ela a possuía), caiu, bateu com a cabeça no meio-fio e morreu na hora.

A população do bairro, revoltada, incendiou as viaturas e a sede do DPO, esta que até hoje não foi reerguida porque o ódio entranhado em ambas as partes não permite. Ora, falo de lugar interiorano, bucólico, onde todos se conhecem, exceto os PMs, que, ou são de outro lugar, ou ignoram que são filhos dali e tratam todos em arrogância, como “suspeitos”, já que há a natural ausência de autênticos suspeitos.

Fica a dica, pois imagino que todo o interior do RJ funciona assim: repressão desnecessária, em paranoicas blitze, sem conhecimento prévio de possíveis práticas de crime, para “mostrar serviço”, em vez de prevenção por proximidade, como pretende agora, e em boa hora, a PMERJ que inicia um novo ciclo de atividades focando alvos certos. Que os acerte na mosca!

2 comentários:

Anônimo disse...

Moldes da Polícia Nacional de Colômbia: polícia de proximidade, em quadrantes....

Anônimo disse...

Aonde está a novidade? Manual antigo do Exército já previa a divisão em Subáreas de policiamento, compatível com uma Companhia. Quem comanda Cia? Capitão.
A PM já usa isso há anos.