Em ano eleitoral discussões sobre
a violência assumem proporções gigantescas, discursos críticos se avolumam e soluções
mágicas emergem de varas de condão, mangas e cartolas. Entra ano e sai ano,
porém, nada muda a não ser para pior ante o espanto geral de uma sociedade
desinformada. Atordoada, esta sociedade então se satisfaz com opiniões
midiáticas que não guardam relação com nenhuma realidade, mas atendem a
interesses inconfessáveis de estruturas endinheiradas. Enfim, o grave assunto da
violência é sempre tratado como se fosse não mais que “tese”, enquanto é
reinventado em novas formas aceitas como “democráticas”, como assistimos nas
ruas num passado próximo os Black Blocs e recentemente os tais “rolezinhos” em
Shoppings, nos dois casos evidenciando-se a lenidade das autoridades políticas
e a deliberada omissão de subservientes burocratas empoleirados na segurança
pública, todos se deliciando das “boquinhas”.
Este é o resumo da ópera bufa que
mais uma vez assistiremos com a passividade de sempre. Aplaudiremos, enfim, e
efusivamente, o mesmíssimo estado excessivamente interventivo e falacioso, de
um lado, e, do outro, faremos coro com preguiçosa e amedrontada clientela a que
nos integramos como gado. Curioso é como esse corpo social carcomido pela
sujeira acumulada em décadas de clientelismo consegue vestir roupa nova sem se
limpar minimamente. Sim, o corpo social segue em frente a mais e mais maculado
pelas drogas e ensanguentado por crimes violentos. Incrível, mas nada disso
incomoda o passivo cidadão, porque, quando se lhe há o espanto, ele dura um
átimo, e todos imediatamente se ligam às faraônicas festas pagas com seus tributos
e tudo vai bem assim, pois tudo foi bem assim ontem, tudo está bem assim hoje,
e melhor ainda ficará amanhã...
Neste cenário de violência urbana
e rural que mata mais que muitas guerras atuais surgem os candidatos apenas
mais avelhantados, mas todos curiosamente chiques, embora jamais deixassem de ocupar
cargos políticos com salários fixos. Todos, porém, enricaram, são donos de
fazendas e boiadas; enfim, são “empresários” porque fizeram multiplicar seus
salários limitados mais que Jesus fez ao multiplicar os peixes. Sim, estão
todos ricos, milagrosamente ricos, e seus discursos enviesam conforme a situação
ou a oposição às quais se integram, sendo certo que muitas vezes mudaram de
lado só para garantir as algibeiras cheias. São eles que surgirão como arautos
da esperança. Surgirão com soluções quixotescas tão bem elaboradas e a escudar
discursos elegantes sobre como finalmente conter a onda de violência que assola
a sociedade sem qualquer pejo ou temor real. Ah, a violência corre solta por
aí...
Se a segurança pública é complexa
e mal entendida, assim permanecerá, pois enquanto a estrutura policial é
designada como “segurança pública”, quem será capaz de concluir que o vocábulo
encerra muito mais complexidade? Quem será capaz de sustentar que a segurança
pública, sujeito da ação da qual a ordem pública é objeto, deve ser
conceitualmente vislumbrada como o somatório globalístico de no mínimo os
seguintes órgãos públicos: polícia, ministério público, justiça, sistema
carcerário, defensoria pública, leis penais e processuais penais? Ora ninguém,
o preconceito semântico contra a segurança permeia esta sociedade pós-ditadura
e a moda agora é ser “de esquerda”, o que significa ser benevolente com
criminosos tidos como “vítimas da desigualdade”. E por esta via deformada
proliferam os crimes de fraude e sangue acobertados por muitos membros,
burocratas, de organismos públicos que deveriam coibi-los energicamente em
benefício da sociedade ordeira, mas não o fazem...
Cá entre nós, que candidato terá
a coragem de assumir que administrará a segurança pública como manda este
figurino? Que candidato assumirá que um menor que assalta, trafica e mata deve
receber pena de adulto? Quem terá coragem de cobrar desses subsistemas de
segurança pública isenção e cumprimento fiel da lei? Quem calará a voz dos
mentirosos? Quem será capaz de assumir o ônus de investir no sistema carcerário
e no instrumental policial para efetivamente vencer o crime? Quem cobrará o
real cumprimento da lei penal sem proselitismo, e, mais ainda, sem as
palhaçadas que assistimos atualmente, promovidas por detentores de altos cargos
públicos acobertados pelo falso discurso dos direitos humanos? Ah, nenhum candidato
terá essa coragem porque será logo tachado como “de direita” e demonizado até
ganhar o prêmio do inferno.
Confesso que me move desta vez
uma curiosidade mórbida. Porque não sei como a sociedade tomará assento para
ouvir os candidatos a não ser do modo sempre: passivamente. Imaginar outra
postura me parece mui difícil, quase que impossível, um milagre às avessas.
Pois o milagre deve ser o de sempre, aquele promovido pelos milagreiros de
sempre, que conseguem dizer que tudo vai bem diante de cabeças decapitadas em
presídios nacionais, e diante do eloquente silêncio de seus aliados “de
esquerda”... Sim, é de se esperar certa concordância entre os candidatos de
situação e de oposição, ou vice-versa, no sentido de que tudo está bem entre
eles e só precisa melhorar... Afinal, estão todos atrelados ao governo maior e
recebendo benesses por baixo e por cima dos panos, o que tornará seus discursos
uma espécie de trem cujos vagões correm na mesma velocidade, mas não conseguem
ultrapassar o que lhes vai à frente rolando rodas no mesmo trilho e numa só
direção predeterminada por quem detém o poder maior...
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