REVISTA VEJA ON LINE
BLOG DO REINALDO AZEVEDO
04/09/2013
Às 5:17
Numa ditadura, usar máscaras significa um ato de resistência. Não é certo, não é necessariamente assim, mas é possível que os que lutam contra uma tirania queiram uma democracia. É
bom não esquecer que, na Síria, por exemplo, há terroristas combatendo
um carniceiro. Mas sigamos: não há como censurar os que usam máscaras
para se opor a facínoras. Mas respondam aqui a este jornalista que é
cotidianamente torturado pela lógica: por que alguém usa máscaras numa
democracia?
Os
rapazolas e as moçoilas que andaram sendo molestados ideologicamente
por professores que nunca leram Marx, mas que se apresentam como
especialistas no pensamento de um delinquente como Slavoj Zizek, dirão
que o direito à rebelião acompanha o homem como o ar que ele respira.
Alguns outros que se querem liberais em economia, mas libertários nos
costumes e valores, pensam mais ou menos como Zizek. No fim das contas,
os dois lados acreditam que podem chegar a resultados opostos recorrendo
aos mesmos instrumentos e valores. Há uma boa chance de que os dois
lados estejam errados, então…
Enquanto
isso… Bem, enquanto isso, não é aceitável que delinquentes,
adicionalmente covardes, recorram a máscaras para sair por aí quebrando
tudo. Em nome de quê? De quais valores? Então eles acham que os
políticos são trapaceiros e ladrões e, por isso, quebram bancos? Então
eles acham que os serviços públicos são ruins e, por isso, quebram lojas
de departamentos ou concessionárias de carros? Então eles acham que o
capitalismo é um erro histórico e, por isso, resolvem impedir o direito
que têm as pessoas de ir e vir? Então eles acham que a imprensa não é
boa e, por isso, querem censura?
Ora, ora…
É
claro que eu apoio a decisão da Justiça que confere à polícia o direito
de obrigar que manifestantes mascarados se identifiquem. Se, com
efeito, for posta em prática, acaba essa folia. Eu detesto gente
covarde. Olhem aqui: eu não me arrependo das ideias que tive, do que
pensei, do que defendi. Mas me arrependo, sim, do que, hoje, me parece
besteira. Invadi reitoria e prédio administrativo da universidade etc. e
tal. O Brasil, formalmente, ainda era uma ditadura — “A Ditadura
Esculhambada” (o livro que Elio Gaspari não escreveu…), mas, mesmo
assim, não usei máscara. Apanhei com a cara que eu tinha. Nessas e em
outras circun
stâncias.
Esse negócio de usar máscara para quebrar prédios públicos e privados é uma mistura de pós-marxismo mal digerido, ministrado por alguns professores universitários do miolo mole, com o que chamo geração Toddynhyo & Sucrilho
pós-construtivista. Jamais diga “não” ao monstrinho, ou ele começa a
quebrar a casa… Qual é? Mostrem a cara, corajosos! O que querem? Fazer
revolução quebrando banco de dia e dormir na caminha quente arrumada
pela mamãe à noite? Trotski, já lem
brei aqui, era filho de um latifundiário. Quando decidiu que queria pôr
fim ao czarismo e ao capitalismo nascente na Rússia, renunciou a tudo e
foi morar no casebre de um jardineiro.
Eu
não gostava da ditadura. Lutei contra ela e arquei com as
consequências. E era uma ditadura. Os mascarados não gostam da
democracia? Pois que lutem contra ela, então, mas arcando com as
consequências. Num regime democrático, costuma ser apenas a aplicação de
Leis, também democraticamente pactuadas.
E
aproveito o ensejo para, mais uma vez, lastimar a militância da OAB-RJ,
que vem tendo um posicionamento lamentável. Em vez de se portar como
babá de baderneiro, deveria se aplicar à defesa do estado de direito. E
eu quero saber qual é o dispositivo legal que permite que pessoas usem
máscaras para sair barbarizando por aí. A eventual truculência da
polícia não serve de desculpa.
Não!
Eu não gosto de Sérgio Cabral. Não! Eu não estou entre os que admiram a
suposta “genialidade” de José Mariano Beltrame, o secretário de
Segurança Pública. Fui quase um monopolista da crítica a ambos durante
um larguíssimo período. Mas eu os reprovo nos marcos da democracia.
Cabral foi eleito pela população do estado do Rio de Janeiro e só pode
ser apeado do poder segundo as regras do regime democrático. Não havendo
um processo judicial que o justifique, vocês terão de esperar ou a sua
renúncia, que é ato volitivo, ou as eleições. E fim de papo!
Os
mascarados têm todo o direito de lutar pela anarquia ou por uma
ditadura. Mas a democracia tem o direito e o dever de se defender. O
resto é uma soma indigesta de submarxismo delinquente com libertarismo
de manual.
PS – Se,
hoje, todos os mascarados fossem identificados, vocês ficariam
espantados ao descobrir a quantidade de professores universitários que
há entre eles. “Pobres da periferia e dos morros?” “Vítimas da violência habitual da polícia que decidiram reagir?” Uma ova!
Já fui muito pobre. Pobreza não é categoria de pensamento, eu sei. Mas
também sei quais são as suas urgências. Só sai quebrando tudo por aí, de
caso pensado, quem acredita que os bens materiais nos desviam, como é
mesmo?, da verdadeira “essência
” do ser. Para ser idiota a tal ponto, é preciso não ter ou jamais ter
tido qualquer dificuldade com… os bens materiais. Não é o caso dos
pobres. Estes podem até se revoltar quando são maltratados por serviços
públicos, como o transporte urbano precário, por exemplo. Mas não criam
uma estética e uma ética da violência. Isso, com raras exceções, é um
traço de classe, típico dos filhos dos endinheirados. Assim, poucas
coisas são tão tipicamente “burguesas” quanto ser um antiburguês!
Texto publicado originalmente às 21h38 desta terça
Por Reinaldo Azevedo
COMENTO:
Está tudo aí muito bem colocado minudentemente pelo jornalista Reinaldo Azevedo, da Revista VEJA.
O
mais é conversa fiada da OAB, do Ministério Público e até mesmo da
Polícia Civil do Rio de Janeiro, que ao invés de olharem para as suas
próprias mazelas, fabricam factóides e desviam o foco da verdadeira discussão.
Paulo Fontes- TENENTE CORONEL PMERJ
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