segunda-feira, 26 de agosto de 2013

“À sombra da impunidade”



 (título de matéria veiculada pelo Jornal O GLOBO de 25 de agosto de 2013)

No domingo último a imprensa carioca relembrou a chacina de Vigário Geral, que completa vinte anos em 31 deste mês corrente. E se por um lado os mentores e autores das matérias se interessaram pela primeira vez em retratar apenas parte da realidade obscurecida por muitos trapaceiros que serviam ao brizolismo, rendendo-se à farsa passada, por outro alguns buscaram sabê-la de alguma forma, mesmo que superficial, admitindo-a (a farsa) como realidade. Como sou parte do problema, pois na época, na condição de deputado estadual defensor intransigente da categoria policial militar, por ser um deles com muito orgulho, fui a única voz que se insurgiu contra o sistema brizolista, formado por xerimbabos da PMERJ e da PCERJ, que, em vez de investigar o bárbaro crime por meio de técnicas universais indispensáveis, partiu pelo caminho mais fácil: a prisão disciplinar manu militari de centenas de PMs que segundo a idiossincrasia deles poderiam ter participado da matança. Critério simplório, aliás, pois bastou identificar algumas dezenas por fotos da presença deles o sepultamento de um sargento assassinado por traficantes de Vigário Geral para concluir que esses PMs eram os matadores. E como não havia foto de presença ao sepultamento de mais três PMs assassinados pelos mesmos traficantes, na mesma hora, e em iguais circunstâncias (estavam os quatro na mesma viatura policial caracterizada), nestes casos os que compareceram aos sepultamentos não foram incomodados. Sorte deles, azar dos demais que por razões naturalmente pessoais optaram por comparecer ao sepultamento do sargento.

Não é caso de relembrar fatos e nomes, trata-se de assunto notório já esmiuçado de todos os modos em processos judiciais. A questão que aqui me interessa é jorrar luz sobre o comportamento dos profissionais de imprensa que supostamente existem para retratar verdades e não falsidades, obrigação que se inclui no que eles mesmos designam como “investigação jornalística” em contraposição às denúncias fáceis e falsas tão comuns a profissionais que se reduzem a práticas ideológicas, tornando-as mais importantes que quaisquer verdades a serem anunciadas em isenção e ética. Mas não é assim, o comportamento dos jornalistas poderia ser equiparado ao lugar comum dos diversos profissionais que não primam pela verdade e pela ética profissional. Vão, em contrário, pelos escaninhos do menor esforço ou da má-fé, preferem a perfídia à verdade dos fatos e não têm pejo em danificar reputações, desde que seus instintos ideológicos sejam atendidos. São, enfim, cruéis, portanto são marginais posto a desserviço da verdade que lhes deveria ser o único escopo profissional. Afinal, estão eles formando opiniões quando transcrevem suas mentiras para leitura pelas multidões.

Eu poderia aqui nominar alguns maus profissionais que se resumem ao lodo e dele jamais sairão devido à cegueira do corpo e da alma. Poderia ainda sublinhar exemplos de matérias jornalísticas que não visam a nada além de ideologias fanáticas, burrice ou preguiça. Realmente identificar alguns desses maus profissionais seria premiá-los. Não os citar nem comentar sobre suas mentiras para desmascará-los é o melhor modo de alertar as pessoas para não acreditar em idéias que lhes são vendidas em bancas de jornais e revistas como verdades, mas que não passam de inverdades. Minha sugestão, portanto, é a de que os leitores leiam sempre todas as notícias sobre um mesmo assunto para concluir pela verdade e não aplaudir mentiras. Claro que esta sugestão prende-se ao assunto inicialmente focado e que deve ser observado, se possível, em cotejo com algumas singelas indagações: a) Se dos acusados pelo bárbaro crime, que completa vinte anos, a maioria foi inocentada por conclusão do próprio Ministério Público, quem são os verdadeiros autores e culpados, estes, que nunca foram investigados, identificados, processados e condenados pelo que fizeram? b) Se a investigação se resumiu em trapaça, quem e quantos são os trapaceiros que aprisionaram inocentes em vez de investigar o crime segundo a técnica e a ciência? Por que os jornalistas tão interessados em reclamar da impunidade não investigam jornalisticamente a investigação policial, que não houve, em vez de papagaiar vinte anos após as mesmas vozes que trapacearam lá atrás?...

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