quarta-feira, 20 de março de 2013

VIOLÊNCIA NO RIO DE JANEIRO – RETROSPECTO (CAPÍTULO II)

ANOMIA A SERVIÇO DO CRIME


No dia 31 de agosto deste ano de 2013 serão completados vinte anos da chacina de Vigário Geral, data que poucos querem lembrar, especialmente as famílias das vítimas faveladas. Também os PMs injustamente acusados pelo tenebroso crime tentam por todos os meios apagar da memória os sofrimentos a que foram impostos pelo sistema situacional da época, este sim, não somente gerador do primeiro fato (por deliberada omissão), mas também do segundo (por deliberada ação): a imolação de inocentes. E das vítimas moral, física e psiquicamente danificadas, – e em número maior que os 21 mortos em Vigário geral, – pouco se sabe, isto não interessa à sociedade, a maioria era PM, que é tudo igual, sem eira nem beira, insignificantes “soldadinhos de chumbo” a serem derrubados por qualquer criança numa guerra de brinquedos.

Esses vitimados pelo sistema situacional são, porém, de carne e osso, e ainda sofrem horrores até os dias de hoje, pois o sistema situacional é eterno na sua cultura de retaliação, precisa manter intacto o seu prestígio, e jamais assumirá seus erros pela mera razão de que sabe não ter errado inconscientemente. Sim, cada ato do sistema situacional foi muito racional na resposta dada ao clamor público a partir dos 21 cadáveres enfileirados em latas do IML no chão paupérrimo de Vigário Geral, cena fotografada, filmada, e assim mantida viva, e capaz de cegar e ensurdecer as pessoas, todas, que não tinham e não têm interesse em desvelar a verdade da violência anterior e posterior ao massacre de civis na favela na noite de 30/31 de agosto de 1993: a violência policial que vinha estimulada por desmandos governamentais em vista do momento de poder de uma esquerda que acabara de tornar às terras tupiniquins, vinda do exílio, e se instalara no Rio de Janeiro para disputar e ganhar as eleições a qualquer preço (inclusive acobertando criminosos contumazes e enaltecendo próceres do CV)...

Sim, a qualquer preço... Esta turma instalada na facção política denominada PDT viajou em 1982 até o Presídio da Ilha Grande (Instituto Penal Cândido Mendes – IPCM) para se entender com a cúpula do Comando Vermelho, jorrando luz sobre a nojosa relação de presos comuns com políticos intramuros dos presídios estaduais. Segredos à parte, já o CV crescera e florescera nas barbas da ditadura, esta que, para facilitar, juntara presos políticos com bandidos comuns, advindo daí o “coletivo” exaltado pelos presos (“companheiros”) enquadrados na Lei de Segurança Nacional (LSN).

A cultura insurgente dos apenados de classe média foi absorvida pelos criminosos comuns, forjando deste modo insólito uma nova seita a embolar política e criminalidade. E foi deste concerto de más intenções que emergiu o partido vitorioso nas urnas, no mesmo ano de 1982, alçado ao Poder Executivo em 1983, ano em que ambos, – bandidos do CV e políticos do PDT, – festejaram uma retumbante vitória. Mas o preço desse conluio foi assertivamente cobrado nos bastidores dos contatos permanentes entre um lado e outro: o governante eleito proibiu ações policiais nas favelas do Rio, inclusive o voo de helicópteros sobre elas.

Já então com a polícia raivosamente desqualificada, os bandidos ampliaram seus domínios, que antes eram discretos e exclusivamente de submundo. Mas, ao ocupar o mundo oficial, o CV passou a politizar seus atos criminosos comandando eleições e dando vitória a muitos amigos políticos que conheceram na Ilha Grande, ou premiando outros xerimbabos com votos favelados controlados pelo terror das armas. Sim, tudo começa em assumida anomia como parte do grande acordo entre criminosos ferozes e políticos sem compromisso com moral, ética e leis. Eis como o jornalista Jorge Pontual prefacia o livro Comando Vermelho: a história secreta do crime organizado / Carlos Amorim, 4ª ed., Rio de Janeiro, Editora Record, 1994:

Palavra de Leitor

Jorge Pontual*


Poucos sairão deste livro intocados. Espera o leitor desavisado um relato extraído da crônica policial: muita ação, personagens fascinantes, um bom entretenimento. Aqui encontrará tudo isto, mas levará um susto.

Todo mundo já ouviu falar no Comando Vermelho. Engraçado, de tanto se falar nele, até deixou de ser notícia, virou pano de fundo, um dos fatos da vida no dia-a-dia do Rio de Janeiro. Terrível engano.

A reportagem de Carlos Amorim revela o que realmente é o Comando Vermelho: um filhote da ditadura militar. Criado na cadeia onde a repressão jogou, juntos, presos políticos e comuns, cresceu no vazio político e social ao qual o capitalismo selvagem relegou a grande massa, o povo das favelas, da periferia. Filho da perversa distribuição de renda, da falta de canais de participação política para esse povo massacrado, o Comando Vermelho pôde parodiar impunemente as organizações de esquerda da luta armada, seu jargão, suas táticas de guerrilha urbana, sua rígida linha de comando. E o que é pior: com sucesso.

A cada capítulo, desde o início, o leitor se convence do irremediável: o Comando Vermelho não é um caso de polícia. É um câncer político. Mas não um tumor que se extirpe. A omissão, incompetência e interesse dos políticos que governam e governaram o Rio – como documenta o autor – deixaram o tumor virar metástase, enraizado em todo o tecido social. Pois não só os favelados sustentam o Comando Vermelho. Também os filhos da classe média e os yuppies que consomem drogas dão seu sangue para alimentar o câncer. Combatê-lo pressupõe: primeiro, conhecer sua história, o que só se encontra neste livro; em seguida, criar propostas políticas que deem uma alternativa concreta às populações faveladas que viraram massa de manobra do Comando Vermelho, o povo no qual o crime organizado se enraizou.

É triste ver que, tanto na recente campanha para a Prefeitura quanto na campanha para o Governo estadual que se anuncia, os candidatos e partidos carecem de propostas reais que mobilizem essas comunidades. Promessas vazias e demagogia não arranham o poder do Comando Vermelho. E os políticos continuam a barganhar votos em alianças secretas com os traficantes. Em breve teremos as bancadas do Comando Vermelho. Se nada mudar, logo os líderes do CV se tornarão tão "legítimos" e "populares" quanto seus aliados, os bicheiros. Pode ser até que, no vazio deixado pela prisão da cúpula do bicho, o CV espalhe ainda mais os seus tentáculos. Em vez de desfilar clandestinos, nas baterias e alas, seus chefes subirão aos carros e camarotes na Avenida. E o sistema os absorverá, nas parcerias do poder.

Tudo isto surpreende, pois subverte a rotina das páginas policiais, onde o crime organizado é apenas um fantasma mítico que age nas sombras. Este livro tão oportuno lança uma luz forte nas trevas de onde o monstro espreita (* Diretor do Globo Repórter).

Muito iremos falar da obra do jornalista Carlos Amorim sobre o CV e seus protegidos políticos, dos quais o CV igualmente recebia proteção. E o faremos não somente em virtude do caráter sério e grave da narrativa, mas pelo fato de ter sido o texto, como o próprio autor afirma, fruto de doze anos de pesquisa:

Este livro não é uma obra de ficção. Todos os nomes, datas e locais são verdadeiros. (...) Durante doze anos recolhi depoimentos, opiniões e informações oficiais sobre o Comando Vermelho. Houve momentos em que foi necessário descer ao submundo para ouvir uma história original. Foi preciso andar pelas favelas, olhar de perto a cara do crime.

Vamos também “olhar de perto a cara do crime”... Os primeiros quatro anos com o PDT no governo foram marcados por inércia policial tornada imperativa pelos mandatários do poder político. De tal modo que o candidato da oposição, Moreira Franco, na campanha seguinte (1986), teve como mote “acabar com a violência em seis meses”. Esse slogan levou-o à vitória, tornando o enfrentamento de criminosos em favelas uma obsedada palavra de ordem do novo sistema situacional. Foi assim em vista de um ambiente social violento em demasia no RJ, e em virtude da tendência à passividade em quartéis e delegacias, pois os adeptos do poder reinante nos anos anteriores haviam infectado com o vírus da preguiça e do medo as duas polícias, tudo com o voluntário concurso de muitos policiais anfibológicos pedetistas.

A verdade é que foram assim os quatro primeiros anos do PDT no governo do RJ: metediços e dobradiços pedetistas de carteirinha atuando contra o próprio sistema burocrático que comandavam, mantendo-se com os pés e as mãos nos freios e chibata pronta para uso contra os recalcitrantes. Eis como aceleraram a planejada entropia, que se resumia em destruir o moral dos imensos efetivos policiais e danificar gravemente os meios materiais das polícias. Pois, a cada viatura canibalizada, os pátios policiais tornavam-se “depósitos de ferro velho”, estes que ainda acolhiam outros equipamentos carcomidos pelo mau uso e por nenhuma restauração ou reposição.

Deste modo, explorando orquestradas deficiências que só fizeram aumentar o poder do banditismo nas favelas e no asfalto, e prometendo saná-las “em seis meses”, Moreira Franco venceu o PDT e assumiu o Poder Executivo. E caiu na real: a coisa estava mui pior do que se apresentava aos olhos atônitos de um governante que não possuía dinheiro nem prestígio federal suficientes para reverter o caos. Ele até que tentou, reconheça-se, mas a entropia não tinha volta, o crime estava tão acirrado que a depauperada polícia não conseguia avançar um só milímetro, eis que desprovida de braços e pernas para exercitar seu labor contra uma criminalidade já desembestada como carreta ladeira abaixo. E lhe sobreveio o fracasso, dando azo a que o PDT, com a mesma retórica de “defesa dos direitos humanos”, tornasse ao poder em 1991. E foi a partir deste ano que o banditismo urbano descarregou suas baterias contra uma alquebrada polícia que, na verdade, desde antes perdera a guerra contra o crime...

O ano de 1990, porém, já demonstrava enfraquecidos reflexos do governo Moreira Franco. O primeiro fato negativo teria ocorrido no final de julho de 1990, época em que onze jovens e suas namoradas desapareceram do mapa a partir da favela de Acari, o que deu origem a um movimento de mães desesperadas à procura de seus filhos e respectivas namoradas. O sistema situacional politizou o fato no seu máximo, instituindo a falsa ideia de que aqui no RJ emergia um movimento idêntico aos das “Madres de La Plaza de Mayo”, este sim, formado por mães cujos filhos desapareceram durante a ditadura militar argentina. Mas aqui eram mães de marginais em busca de seus filhos que, embora novos, estavam credenciados no crime pela prática de sequestros, roubos de carga e outros delitos não menos importantes. E por conta de seus crimes estavam endinheirados, gerando a cobiça de policiais civis e militares e de bandidos de facções rivais que enxergavam a favela de Acari como um galinheiro cheio de “galinhas dos ovos de ouro”.

Sim, a favela de Acari, desde 1987, tornara-se “Atacadão” do tráfico de cocaína e maconha em virtude da ascensão do famigerado “Cy de Acari” a partir da morte do seu patrão, Toninho Turco, durante ação da Polícia Federal na Zona Norte do Rio. Passou então o “Atacadão” do asfalto para a favela. E assim, de modo simples e direto, o movimento de drogas passou a render milhões de dólares por mês ao sistema criminoso liderado por Cy de Acari, dinheiro capaz de aguçar a cobiça de muitos, inclusive de indecentes políticos que desse dinheiro decerto fizeram uso, além do óbvio interesse nos votos favelados. E foram esses políticos, – desafetos de Moreira Franco e enraivecidos em virtude da atuação sistemática das polícias contra o banditismo e sua milionária fonte de renda, – foram esses políticos, do PDT, e alguns do PT, que novamente ocuparam o mando da maquinaria estatal, em 1991, tornando-a instrumento de retaliação contra policiais combatentes e concomitante máquina de proteção ao mesmo banditismo dos acordos espúrios havidos na Ilha Grande. Sobre os acordos, relembro Carlos Amorim (ibidem):

No campo da política penitenciária, os efeitos da moralização proposta pelo governo foram ainda mais significativos. Já no ano da eleição, 1982, começa na Secretaria de Justiça um processo de discussões destinado a melhorar as condições dos estabelecimentos penais. O que se pretendia era a modernização, a humanização com base nos modelos internacionais. O secretário Vivaldo Barbosa e o diretor do Desipe, Avelino Gomes Neto, ouvem a Pastoral Penal e as lideranças dos presidiários. Visitas às cadeias do Rio são freqüentes. Os técnicos procuram aprender com os presos. Dispensam, de certa forma, a experiência anterior. Na Ilha Grande, diante de toda a imprensa, um acontecimento insólito: a autoridade pública é recebida por um dos "vermelhos", um dos novos xerifes da prisão, Rogério Lengruber, o Bagulhão. O representante do Comando Vermelho veste bermudas, camiseta e sandálias havaianas. Mete o dedo na cara do secretário de Justiça e comunica a ele que os presos estão cansados de ouvir o blablablá do governo. Esperam medidas concretas e imediatas. A visita ao "Caldeirão do Diabo" é cheia de incidentes. Os presos desfiam um rosário de críticas e reivindicações. William da Silva Lima faz um discurso de vinte minutos, interrompendo o promotor e deputado estadual Leôncio Aguiar de Vasconcelos, que acompanhava o secretário de Justiça. O Professor é aplaudido em delírio pelos presos. A coisa chega a ficar tão tensa que o diretor do presídio cochicha no ouvido de Vivaldo Barbosa uma advertência: – Se isso continuar assim, vamos acabar como reféns.

Esclareço, por oportuno, que neste primeiro ciclo de governo do PDT (1983-1987) os senhores Avelino Gomes Neto e Leôncio Aguiar de Vasconcelos eram promotores de justiça, acrescentando que o subsecretário do secretário de Justiça Vivaldo Barbosa, embora não referido por Carlos Amorim, era o procurador de justiça Antonio Carlos da Silva Biscaia (ex-deputado federal e membro do PT). Afirmo ainda que o segundo período de mando do PDT foi marcado por inércia absoluta do sistema situacional e pelo assassinato sistemático de policiais civis e militares. Muitos morreram fardados, dentro de viaturas policiais, em cenas dantescas e repetitivas.

Como violência gera violência, a fogueira nunca foi tão alimentada de parte a parte, sendo certo que a polícia, impedida de agir oficialmente, foi se enfiando na clandestinidade para reagir à mortandade de PMs aumentada a cada dia, e não somente durante o serviço, mas nas idas e vindas deles, sem farda, dentro de ônibus ou noutras situações em que eram identificados por traficantes... Sim, os bandidos, – livres e desimpedidos em razão da imperativa anomia decretada nos bastidores do comando policial, – ampliaram deveras a mobilidade e o poder de retaliação, tornando-se lugares-comuns os confrontos clandestinos entre raivosos marginais e irados policiais agindo e reagindo no anonimato para lhes garantir a sobrevivência.

Foi esse o caldo de cultura que efervesceu e culminou em chacinas a partir do desaparecimento dos “onze de Acari” (julho de 1990). Depois veio a chacina da Candelária, crime bárbaro cuja autoria foi atribuída na primeira hora a gentes inocentes, para depois se consertar na Justiça com a confissão dos verdadeiros criminosos que antes não foram alcançados por um sistema situacional que respondia às chacinas acusando policiais, de preferência os que antes combateram em favelas para “acabar com a violência em seis meses” (slogan de campanha de Moreira Franco em oposição a Brizola)...

Essas retaliações, partidas do serviço secreto da PMERJ e de seus tentáculos instalados no sistema de controle interno, afetaram sobremodo a cultura operacional da PMERJ, substituindo-se a camaradagem de outrora por um profundo abismo separando duas correntes: a dos “fodões” (os que combateram o crime no período Moreira Franco) e a dos “bundões” (partidários da omissão prestigiados por Leonel Brizola no seu primeiro governo iniciado em 1983 e novamente alçados ao poder em 1991).

Esse divisionismo, gravíssimo, pôs em trincheiras contrárias os adeptos do enfrentamento ao banditismo crescente e os defensores da omissão contra o mesmo desenvolto crime, sob o pretexto da necessidade de valorar a “integração comunitária” e os “direitos humanos”, motes do primeiro governo do PDT, alternado pelo enfrentamento do período Moreira Franco, época em que policiais mangavam os pedetistas fardados afirmando que eles praticavam a “interferência comunitária”, ou seja, permitiam, e era verdade, que favelados mandassem na PMERJ por meio de suas ambíguas representatividades, que mais representavam o poderio armado dos traficantes, agora irritados em vista de suas baixas durante o governo Moreira Franco.

Os bandidos, pela via dos votos favelados que redirecionaram para o PDT, mandaram como nunca nos bastidores do governo brizolista, pondo de quatro a maquinaria governamental. Mas o antigo BANERJ, gastando a rodo, garantia as condições midiáticas favoráveis a esse desgoverno que levou o RJ ao caos das chacinas, logo atribuídas à polícia como complemento aos desmandos e às retaliações de bastidores contra policiais, estas que realmente se corporificaram nas ruas com o assassinato de muitos deles, agora em grupos, como foi o caso de 04 policiais civis da 39ª DP mortos por traficantes de Vigário Geral durante um “pega” no bairro Jardim América. E pouco tempo depois haveria o assassinato de 04 PMs fardados, na Praça Catolé do Rocha, todos amontoados dentro da própria viatura policial, o sangue escorrendo pelas frestas em cena dantesca. Dois assassinatos coletivos de policiais, sim, causas extremas da chacina de Vigário Geral, porém ignoradas solenemente pelo omisso governo brizolista.

Mas ninguém se refere a esses 08 policiais mortos por traficantes que comandavam o tráfico e a política em Vigário Geral. Parece que eles não morreram crivados de balas pelo facínora Flávio Negão, chefe do tráfico no lugar. A verdade é que todos, inclusive a imprensa, propositadamente não vincula um fato a outro nem sublinha os conluios e a omissão estatal capitaneados pelo PDT. Nada demais, a publicidade do BANERJ em jornais, revistas, rádios e redes de tevê fora dadivosa. Enquanto isso, o comando das ações partia das favelas e dos presídios: quem dava ordens era o Comando Vermelho! No fim de contas, o trato feito na Ilha Grande, – aperto de mãos de políticos de alto talante do PDT e cúpula do CV, – o trato feito na Ilha Grande precisava ser cumprido e se estender Brasil afora, de modo a tornar presidente o pior governante da história recente do RJ e do Brasil, o líder do PDT, o caudilho, este, que dispensa ser nominado.

À guisa de exemplo do aberrante controle do voto favelado, ilustro minha própria experiência enquanto comandante do nono batalhão (abril de 1989/abril de 1990), período em que enfrentei descaradas resistências políticas à ação policial com vistas a desbaratar o “Atacadão” do tráfico comandado pelo traficante-mor Darcy da Silva Filho (Cy de Acari), este que logrei finalmente prender sem disparar um só tiro. Naquela ocasião não era incomum emergir do submundo para contestar a polícia um membro do PDT, na condição de “líder comunitário” do Conjunto Amarelinho, que integra o Complexo de Acari. Esse nacional, de nominação vária, chamava-se na verdade Pedro Paulo Ferraz dos Santos (ou atendia pelo apodo “De Pato”).

De tanto interferir nas ações policiais liderando manifestações para as quais contava com o irrestrito apoio de um padre da Pastoral Penal (Bruno Trombeta), esse meliante culminou preso e teve descortinada sua impressionante folha penal. Com todo esse pedigree negativo, mesmo assim em 1990 ele concorreu a deputado estadual. Adivinhem por qual partido?... Sim! Sim!... Pelo PDT! Vejam a matéria de sua prisão na minha época e a folha penal daquele que materializou a influência mútua crime organizado-PDT, consagrando o continuum que vinha de longe. Só para relembrar, eu mesmo fui candidato a deputado estadual em 1990, pelo PTR, na esteira do sucesso de minha tropa no enfrentamento do tráfico. E logrei vencer as eleições sem um só voto da favela de Acari. Já o bandido, que não se elegeu, mandou como nunca nos bastidores do governo brizolista. Não se elegeu, sim, mas amealhou boa parte dos votos de moradores do Complexo de Acari, dando mostras reais do poderio eleitoral do tráfico naquela localidade. E ainda há quem diga que tudo isto é mera coincidência. Ah, confiram os leitores, para que não duvidem de que tudo é contexto e nada é isolado no mundo e no submundo, estes que se comunicam por caminhos inconfessos...

Folha Penal de Pedro Paulo Ferraz dos Santos



Como Pedro Paulo dos Santos (RG 3.622.053 – IFP):



26/07/74 – Inq. 155/74 (DRF) Art. 157 § 2°, I e II do CP assalto à mão armada com o concurso de terceiros


23/12/76 – Flag. 541/76 (24ª DP) Art. 19 da LCP porte de arma – condenado a 04 meses


20/05/77 – Inq. 136/77 (22ª DP) Art. 157 § 2°, I e II e Art. 288 do CP assalto à mão armada com o concurso de terceiros e formação de quadrilha – arquivado pelo MP


12/09/77 – Flag. 521/77 (39ª DP), e Proc. 41643 Art. 157 § 2°, I e II c/c Arts. 281 e 304 do CP assalto à mão armada com o concurso de terceiros – condenado a cumprir 07 anos


21/02/78 – Flag. 31/78 (8ª DP) – proc. 31773 – Art. 16 da Lei 6368 porte de droga – absolvido


28/04/80 – Inq. 251/78 (Delegacia de Defraudações) Arts. 297 e 304 do CP arquivado


27/10/84 – Inq. 338/79 (24ª DP) – proc. 22324 Art. 157 § 2°, I e II do CP assalto à mão armada com o concurso de terceiros – absolvido


10/02/90 – Flag. 14/90 (39ª DP) Arts. 129, 329, 330, 331, 183 do CP


12/04/93 – Inq. 484/91 (38ª DP) Art. 147 do CP



Como Pedro Paulo Ferraz dos Santos (RG 3.949.407):


10/06/76 – Flag. 250/76 (18ª DP) Art. 59 LCP;


07/07/77 – 18ª DP Art. 157 § 2°, I e II do CP assalto à mão armada com o concurso de terceiros









2 comentários:

Anônimo disse...

É o Autor (Comandante Emir Laranjeira)uma "História viva" do nascimento do crime organizado e suas relações com a sociedade menos abastada do RJ.
A partir de suas claras explicações, podemos entender os dias de hoje.
Resta saber o futuro reservado às UPPs.

Anônimo disse...

O crime organizado tal qual como temos no Brasil é um pronlogamento da guerrilha de esquerda dos anos 60.
Em 1988 a Veja fez uma reportagem com o triunvirato da Rocinha Naldo, Buzunga, Cassiano e Brasileirinho. O tal do Naldo disse que a revolução social iria começar pelos morros. Por aí você ja percebe que alguém tinha influenciado aquele vagabundo. Felizmente uma semana depois o Moreira Franco ocupou a Rocinha, passou fogo no Buzunga...e instalou uma base do NUCOE na area de atuação dos vagabundos, o fliperama II. Alguns meses depois os demais foram mortos em um sítio na Baixada.

Sobre o fato do Brizola não deixar a PMERJ/PCERJ subir o morro, o delegado Heraldo Gomes, então sec de polícia cívil do Gov Moreira Franco, fala sobre isso num Sem Censura de 1990, exibido no youtube.
http://www.youtube.com/watch?v=bVlNY7u_rsI
veja a partir de 10min 20seg.


Outros fatos citados por você também estao presentes no youtube do documento especial intitulado noites cariocas, que fala dos policiais mortos durante a repressao a um pega de carros no Jd. America em 93, tb tem um policial que foi assasinado em um ônibus no jacaré que alem de baleado foi jogado para fora dos ônibus pelos criminosos.
http://www.youtube.com/watch?v=5e18mzhinEI (Ai tem a segunda parte) a primeira nao achei o link

Agora o ano negro do RJ o Carlos Amorim não relata, ja que o livro dele foi publicado em 93. É 1994, quando o caudilho maldito largou o estado nas maos do Nilo Batista e o CV tomou conta da cidade. Foi a epoca dos arrastões em túneis, dos assaltos a carro-forte nem hospital escapava teve assalto ate no Hospital S.Lucas nessa epoca é tb epoca das primeiras açoes dos bandidos contra o poder publico. Quando metralharam a DP de Bonsucesso.. Nos anos 2000 este tipo de fato se tornaria corriqueiro com ataques ao Centro Administrativo S.Sebastiao e até ao Palácio Guanabara.

Só quando havia acabado o pleito eleitoral é que o exército interviu, antes de morrer o Itamar Franco revelou no É noticia que a Operação Rio era para ter ocorrido bem antes, Brizola nao deixou, e Nilo Batista só selou o acordo quando a eleição ja estava vencida por Marcello Alencar.


Quanto aos helicopteros em 1992, um detetive de nome Paulo Henrique de Macedo da DRE morreu no Borel apos tomar um tiro na boca, na epoca os policiais disseram que o policial morreu devido a demora do helicoptero no socorro.
http://www.youtube.com/watch?v=ePgHoz7XpoI

Quanto ao envolvimento dos partidos de esquerda, nao custa lembrar que em 1987, apos o governo Moreira Franco anunciar o aumento das passagens houve um quebra quebra na avenida Rio Branco onde varios onibus foram incendidos. Quem encabeçou aquele quebra-quebra, tal qual como o apedrejamento ao onibus do entao Presidente Jose Sarney aqui no RJ foram militantes do PT e PDT.
Na frente das câmeras Brizola e Lula se faziam de adversários.. nos bastidores andavam juntos e misturados, até que resolveram asssumir publicamente em 98 quando selaram uma aliança entre PT-PDT que felizmente foi derrotada com a reeleiçao do Pres. Fernando Henrique Cardoso.

Basta pegar o acervo do JB do dia 16/03/1983 em diante.. pra acompanhar a escalada da violência no desgoverno Brizola.