quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

"A esperança é a última que morre"

Quando penso na esperança me vem logo à mente a sistemática exploração dos desesperançados. Penso assim porque vejo a intransigente e empolgada defesa da igualdade como teoria e a desigualdade como prática. E quando falo em igualdade como teoria refiro-me à estrepitosa generalização de sucessos individuais por meio da grande mídia, impondo aos indivíduos uma falsa esperança de sorte que jamais os alcançará. E o povão, espertamente manipulado, se empolga com a isolada vitória alheia sem mais se dar conta de sua tevê catada no lixo, da cadeira de caixote em que está sentado, e da miséria que impiedosamente o persegue dentro do mundo, dentro do país, dentro da favela, dentro do barraco ou debaixo de um viaduto qualquer da cidade que o ignora.

Com efeito, há muita generalização brilhante na telinha da tevê, espécie de morfina coletiva capaz de neutralizar vontades transformando-as em sonhos que, na prática, são irrealizáveis pela maioria que assiste ao sucesso ou à sorte de poucos. Portanto, é fácil entender o porquê de aparelhos de tevê a mais e mais barateados e a oferta de canais fechados se ampliarem ao grande público a preços módicos, nem importando aos ricaços midiáticos se o sinal chega ao lar paupérrimo via “gatos”, o importante é chegar... Pois o que interessa aos gananciosos de poder e dinheiro é manter o povão permanentemente submetido a altas doses de “anestésicos psíquicos”, de tal modo que, por meio de um simples telefonema de centavos multiplicado por milhões, esses controladores dos meios de comunicação enriqueçam em bilhões sem que os idiotas manipulados os percebam.

Com dinheiro a rodo, os gananciosos midiáticos se mantêm numa cômoda posição e promovem todos os tipos de entretenimento, neles embutindo a “lavagem cerebral” que lhes interessa. E é com esse mesmo dinheiro fácil que eles compram e anulam a arte e redirecionam talentos para a manutenção e a ampliação do círculo vicioso que lhes rende fortunas. Sim dão às artes o sentido enviesado de travessuras típicas de finórios... Por isso é que vemos os programas dominicais exaltando artistas de novelas e tornando-os “febre nacional”. E mais ainda impressionam os estúpidos telespectadores a apresentação de pessoas vazias e viciadas como autênticos símbolos de “consciência social”. Ora, todos ali estão ganhando bem e enricando deveras, mas, na verdade, apenas contribuem na produção do grosso do caldo para consumo dos autênticos gulosos. Nem falo da doação de casarios simples, devidamente enfeitados, a alguma família paupérrima que mandou sua cartinha e ela foi escolhida entre milhões de cartinhas logo incineradas junto com o selo comprado a suor, deixando do outro lado da telinha milhões de pessoas “esperando” também pela resposta à sua carta, até que a morte os alcance e dê fim à esperança. No fim de contas, “a esperança é a última que morre”...

É como disse Zé Ramalho na sua música: “Povo marcado, povo feliz”... Ou como nos alertou Friedrich Wilhelm Nietzsche ao expor sua filosófica “vontade de rebanho”. É quase como nos insinuou George Orwell no seu clássico “1984”. Sim, o povão é rebanho de ovinos controlados, conformados, cabisbaixos, resignados, e apostando no sucesso alheio como se fora seu, enquanto permanece no vazio da miséria. Possui, sim, doenças e infelicidades... Mas, estimulados pela falsa esperança em virtude dos poucos exemplos de sorte e sucesso, porém ampliados a forjar a falsa impressão de que são muitos, o povão telefona, manda cartas a enricar os correios, compra jogos de azar (“teles”), e dá dízimos em igrejas, tudo visando a receber algo futuramente: neste mundo ou no outro... E assim vai à morte, enquanto permanecem na vida dura os herdeiros da desesperança travestida em sonho que jamais lhes será realidade.

Um comentário:

Paulo Xavier disse...

No início dos anos 90 trabalhei com um parceiro de equipe chamado Elton Guerhard e sempre que me deparo essa expressão "A esperança é a última que morre" lembro-me do Guerhard que hoje trabalha embarcado no sul. Companheiro bom e amigo, sempre que me via em dificuldade, ele me dizia: Xavier, quando você perceber que está morrendo a última esperança não se desespere, porque existe uma coisa que ainda não puseram nome, que vem depois da esperança e que vai lhe salvar, vai resolver a situação. Ele está certo porque depois da última esperança vem algo mais forte que vai resolver a parada. Acreditem nisso...