terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Tarde demais!...

“Temos o dever de assegurar que essa dor jamais se repetirá.” (Dilma Rousseff – O GLOBO, 29 de janeiro de 2013)


A tragédia de Santa Maria poderia alcançar qualquer família. E por mais que as críticas sejam veementes quanto aos responsáveis pela desgraça (eles existem e são muitos), por mais que todos lamentem o nefasto episódio, por mais que muitos pranteiem seus entes queridos, por mais que os jornais estampem as reações de políticos prometendo em eloquentes mentiras que daqui pra frente eles serão rigorosos, o desastroso evento já aconteceu. Resta-nos então enfrentar a dura realidade da deliberada falha humana, começando por lembrar Erich Fromm e sua máxima:

 “A calamidade é ruim para o povo, mas boa para a sociedade.”

Significa que a sociedade, ante a clamorosa tragédia, não pode simplesmente esquecê-la, como é da nossa cultura. Pois não faz tanto tempo em que milhares de pessoas morreram em comoriência debaixo da lama nas enxurradas e nos deslizamentos de barreira na Região Serrana do RJ, acidentes teoricamente previsíveis, mas na prática ignorados, sem falar dos que ainda se locupletam com a desgraça alheia. Demais disso, ainda há as calamidades crônicas do banditismo, dos acidentes rodoviários, das mortes em hospitais em virtude dos péssimos atendimentos na saúde pública, das doenças e mortes devido às péssimas condições sanitárias e demais descasos que matam coletivamente sem que ninguém faça nenhuma conta demonstrando a simultaneidade dessas mortes no território pátrio.

A cobiça humana responde por esses desastres agudos e crônicos (quem não se lembra da “indústria das secas no Nordeste”?...), e para vencê-los somente uma efetiva reação da sociedade, que não adianta se resumir à exigência de soluções pelo falido estado, nem a reclamações endereçadas aos atuais governantes como se os anteriores não tivessem culpa. A sociedade deveria, sim, sair de sua inércia clientelista, típica de um estado excessivamente interventivo e paternalista, e adotar providências enérgicas, não aceitando explicações eloquentes de autoridades que falharam ou porque não providenciaram leis proativas ou porque não exigiram o fiel cumprimento de boas leis, ou, ainda pior, porque os gananciosos empresários ofereceram indevidas vantagens aos gananciosos responsáveis pela fiscalização, até que em consequência desse nojoso concerto criminoso a tragédia aconteceu.

Então, o primeiro passo é apurar por que a boate funcionava sem cumprir as mínimas regras de segurança, o que costuma ser responsabilidade do Corpo de Bombeiros, demais de outros organismos municipais e estaduais diretamente envolvidos na expedição de permissões e proibições para funcionamento de locais destinados ao divertimento coletivo, assim como responsáveis pela fiscalização sistemática desse funcionamento, mesmo o permitido. Toda essas gentes, antes de tudo, devem ser gravemente responsabilizadas, sem qualquer sentimento de pena ou justificativas jurídicas dentro da ideia de que no Brasil é melhor ser réu que ser vítima. Sim, é melhor ser réu, que tem direito a uma gama de benefícios como primariedade, indulto, recursos vários, redução de pena e outras benesses judiciais, não necessariamente nesta ordem.

Portanto, e independentemente do clamor nacional e da correria para consertar os milhares de locais que, como o da tragédia, funcionam precariamente, deve a fiscalização estatal e societária se antecipar e punir com severidade os responsáveis (empresários) por esses locais, e, principalmente, identificar e punir aqueles que por força de função permitiram que pessoas se reunissem sem as mínimas condições de segurança. Enfim, a tragédia de Santa Maria foi ruim para o povo brasileiro, que hoje sofre junto com os familiares das vítimas, mas há de ser boa para a sociedade, desde que, porém, ela efetivamente reaja de Norte a Sul, de Leste a Oeste, como numa cruzada permanente contra as calamidades agudas e crônicas.

Porque não há justificativa para desastres previsíveis, eis que artificiais e que nada têm a ver com as reações da natureza. Aliás, nos dias de hoje a imprevisibilidade dos acidentes naturais é igualmente inadmissível, a ciência e a tecnologia são suficientes para se antecipar e evitar essas catástrofes, com raras exceções. Dentro desta indiscutível realidade, resta apenas a cobrança dos desleixamentos em tudo que é canto do país, sendo certo que para isso a mobilização tem de ser de toda a sociedade organizada, de modo a que ela realmente se antecipe ao estado falido, dele cobrando proatividade e a ele apresentando soluções. Não havendo esse clamor permanente e assertivo por parte dos segmentos sociais, as calamidades novamente nos espantarão e só nos restará mais uma vez dizer: “Tarde demais!”

Um comentário:

Paulo Fontes disse...

REVISTA VEJA
BLOG DO REINALDO AZEVEDO
28/1/13- 22:07H
COMENTÁRIO de Paulo Roberto dos Santos Fontes
"DEIXAI LÁ FORA TODA ESPERANÇA Ó VÓS QUE ENTRAIS"!

Este é o aviso que Dante e Virgílio vêm na porta do Inferno. E foi assim, entrando pela porta sem volta do inferno, que os 233 jovens de Santa Maria encontraram a morte e desapareceram tragicamente numa verdadeira Crônica de uma Morte Anunciada.
Quem assistiu no canal Globo News a cobertura jornalística da tragédia e viu o desenho do interior da boate constatou que aquilo é uma arapuca, uma gaiola com apenas uma entrada e nenhuma saída.
Como é que então as autoridades permitem que num lugar assim seja realizado um evento para duas mil pessoas e agora vem apresentar desculpas esfarrapadas, injustificáveis, imorais, ilegais e criminosas.
Este é o país da impunidade, da violência, do crime convencional (ruas) e do crime não convencional ( macro criminalidade, crime organizado perpetrado por políticos, altos funcionários públicos e empresários) e nada vai acontecer com os (ir) responsáveis, senão vejamos: o que aconteceu com os responsáveis pelo naufrágio do Bateu Mouche onde até esposa de ministro e atriz da TV Globo morreram? E as autoridades que além de serem responsáveis indiretos pela morte dos 900 seres humanos, ainda desviaram os recursos destinados pelo governo federal para ajudar aqueles que perderam parentes, casa e a esperança, na tragédia da região serrana carioca, em janeiro de 2011?
Na Coréia do Sul em 1995 após um desabamento de um Shopping Center, 25 pessoas foram condenadas pelo desastre. Lee Joon, acusado de negligência criminosa, foi condenado a sete anos e meio de prisão.
Na Argentina, em 2004, após um incêndio numa boate com trágico resultado de 194 mortos, os responsáveis cumprem pena até hoje.
Mas senhores isto aqui é o país da "Bruzundanga", definido magistralmente pelo genial Lima Barreto, onde o Mandachuva manda e o povo obedece e anda de tanga!
É o país do MENSALÃO, MENSALINHO, e o mais novo escândalo, o CAXIÃO, com desvio de 700 MILHÕES DE REAIS,na saúde de Duque de Caxias, o que praticamente transforma o Mensalão em troco de baleiro!
Isto aqui é o país onde vigora um Código Penal e de Processo Penal que datam de 1940 e uma Lei de Execuções Penais de 1984 que adota progressão do regime penal fazendo com que um criminoso possa cumprir apenas 1/6 da pena.
Isto aqui é o país dos recursos cíveis e penais que fazem a DELÍCIA DOS CRIMINIOSOS E ADVOGADOS que conseguem arrastar um processo por mais de trinta anos, o crime prescrever e o mal vencer o bem.
Isto aqui é Pindorama, campeão mundial (universal?) da CORRUPÇÃO, do roubo do dinheiro público arrecadado com o suor deste povo sofredor que é extorquido em 2/5 da sua força de trabalho, na forma de impostos diretos e indiretos.
Isto aqui é Tupinicópolis, paraíso dos bandidos do colarinho branco e dos bandidos que roubam dois tostões, onde os primeiros conseguem protelar o julgamento dos seus crimes até que fiquem velhos e morram de morte morrida gastando muito bem o dinheiro surrupiado, e os segundos, negros, pardos, pobres e analfabetos, apodrecem nas prisões brasileiras mas têm lá as suas vantagens tais como:uso de celular, visita íntima, redução de pena, regime semi aberto e aberto e até mesmo auxílio reclusão, um prêmio a quem cometeu um crime que muitas das vezes culmina no assassinato de um cidadão trabalhador deixando uma família sem o seu arrimo e na miséria ao passo que o criminoso goza das delícias da proteção do estado.

À curto e médio prazos não vejo solução e no longo prazo estaremos todos mortos!