quinta-feira, 29 de novembro de 2012

ROSAS DA MINHA VIDA


                                          “(...) A rosa, como quer que se lhe chame, terá sempre o mesmo cheiro.” 
             (Shakespeare, Romeu e Julieta, ato II, cena II, in Machado de Assis in Evolução – Relíquias de Casa velha) 


Como o fazem os poetas, e sem ser um deles, desde muito busco encontrar rosas adultas nos jardins da minha vida. Não me ocorreu até então a sorte, deparo sempre com os espinhos da incompreensão do meu modo de ser. Pessoas às quais me dedico buscam em mim o ter e não veem o ser. Ligam-se à minha existência e não enxergam a minha essência. Desconsolo-me deveras, pois sei que a vida não é ter, mas ser: nós primeiramente somos; nada temos além da ilusão materialista. Não fosse assim, como viveriam os que não têm? Afinal, representam a estupendamente grande massa que compõe a humanidade, ontem, hoje, e amanhã. Insistir em ser, e receber cobranças de quem apenas tem, é de doer. Pois quem só visa ao ter não é absolutamente nada; vivencia o egoísmo e seus efeitos colaterais: a inveja, a cobiça, o despeito, o ódio etc. Ah, é difícil viver assim! Como suportar conviver com pessoas consumistas, vaidosas e indiferentes? O remédio que antevejo tardiamente é o isolamento de tudo e todos em beirada de praia distante. Seria um meio de vivenciar o meu ser ante o cosmo maravilhoso do qual fazemos parte efemeramente, embora sejamos eternos. Sim, somos feitos de pó e a ele tornaremos. Somos átomos num cosmo em que tudo é átomo compondo massa e energia. Somos pó de estrela, e como tal viajamos o antes, o agora e o depois apenas transformados sabe-se lá em quê. Pensamos, é verdade, ou cremos que o seja. Porém, pensando ou não, cumprimos nosso determinismo tal e qual o animal, o vegetal e o mineral: todos se tornam pó no escorrer do tempo. Se carbonizados, tornamo-nos carvão tanto como o animal e o vegetal. Somos então diferentes em quê?... Eis a importância da arte, que não se liga a nenhum ter, mas ao ser em sua concepção mais sublime. Não fosse a arte, seríamos animais destruidores de nós mesmos, meros fazedores de armas e mentores de mecanismos destinados à opressão pela força. Sem a arte não sentiríamos nenhuma rosa, a não ser a de Hiroshima... Busco, sim, encontrar as minhas rosas, que são infinitas e inesgotáveis construtoras de poesia. Elas inspiraram poetas e trovadores, cientistas e escritores e animam as gentes simples que as cultivam em variedade mundo afora. Não há uma só rosa que seja feia. Todas são lindas em suas cores e feitios. Se os canteiros do mundo fossem somente de rosas, as demais flores poderiam ser dispensadas. Bastam as rosas, somente a rosas e nada mais... 


Tantas vezes eu sonhei 
Ter duas rosas pra mim 
Uma só em minha vida 
E outra no meu jardim. 
Rosas duplas, encantadas 
Do jeito que a gente quer 
Uma ao chão me despertando 
Confundindo a sua essência 
Com seu perfume, mulher.

3 comentários:

Paulo Xavier disse...

"Como fazem os poetas, e sem ser um deles"
Cel Larangeira.
Poeta é o que fala com o coração. Poeta é aquele que vê aquilo que mais ninguém vê.
Então, és poeta sim.
Quem poderia fazer uma autocrítica ou um desabafo, citando as rosas, senão um poeta?
Então, gostaria de fazer uma pergunta. Qual o sabor de uma maçã?
Para essa pergunta teríamos 6 bilhões de respostas, porque cada habitante dessa bolinha que gravita ao redor do sol daria uma resposta diferente, assim como seria impossível agradar a todos, aliás, isso nem o maior homem que pisou na face dessa terra conseguiu.
Belo texto para uma profunda reflexão e parabéns ao poeta Emir Larangeira.

Emir Larangeira disse...

Caro amigo, obrigado por suas belas palavras de incentivo. Bom fim de semana! Abs.

Anônimo disse...

Sao. Tao perfeitas,lindas ...........