quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O Poder Paralelo

A imprensa, como se esperava, reafirma no interregno de uma eleição eventualmente em dois turnos a invencível influência de grupos paramilitares nos “currais eleitorais” situados em favelas e bairros periféricos. E, se o fenômeno se restringia antigamente aos guetos miseráveis situados nos grandes centros urbanos, hoje de faz presente em bucólicas cidades interioranas, eis que a miséria e seus guetos se alastram desbragadamente. Cá entre nós, qual será a responsabilidade do estado na formação e na proliferação desses grupos paramilitares que a imprensa e seus políticos prediletos, em puro preconceito, denominaram como “milícias”?... 

Combater esse tipo de dano social é preciso, sim, mas não basta apontar a ira da lei para os efeitos de causas pouco ou nada estudadas. Sim, o fenômeno de controle por grupos armados de comunidades indefesas vem recebendo críticas acadêmicas e jornalísticas meramente superficiais, bastando para aplacá-las a edição de mais uma lei ou a concretização de algumas ações pontuais a facilmente cortarem uma das nove cabeças da “Hidra de Lerna”, esta que em pouco tempo regenera. É o que se vê: estudiosos e demais formadores de opinião não pesquisam a fundo o fenômeno para clarear a verdadeira história desses grupos paramilitares. Faz-se aqui exceção ao tráfico de drogas e de armas, cujo dano é insuperável e suas causas, sobejamente conhecidas. Porém todos esses crimes (milícia e tráfico) são fraturas expostas tratadas com esparadrapo. Situam-se no âmbito do fenômeno do crime como apenas “mais um”... 

Tratar a doença sem eliminar as causas é o que tem feito o sistema estatal em relação às ações criminosas na nossa adoecida tessitura social. Pois o sistema situacional criminoso, – formado por multivariadas facções do submundo e do mundo oficial que se mesclam em vista de objetivos comuns, confundem-se ante os desavisados olhos da sociedade e do estado. Deste modo, ou seja, direta ou indiretamente fomentado pelo sistema estatal, o sistema situacional criminoso se fortalece a mais e mais. Claro que o fortalecimento desse poder marginal não se pode resumir a dinheiro e armas, é indispensável acrescentar na receita do crime impune o sabor do poder político... 

O mais curioso é que políticos antes já flagrados em intimidade com notórios traficantes ou abraçados a líderes de outros grupos paramilitares apresentam-se em campanha como “heróis mitológicos” capazes de cortar a cabeça da Hidra de Lerna como se fora uma em vez nove, ou sete, ou mais, tanto faz, as cabeças da Hidra de Lerna sempre se regeneram. Melhor para essa turma política especializada em factoides (refiro-me a alguns defensores de “direitos humanos” somente de bandidos), porque a vitória do sistema situacional eliminaria o seu discurso e o manancial de votos ingênuos que esses anfibológicos recebem por conta apenas de oba-oba. 

A impressão que fica, no fim de contas, é a de que interessa ao poder político a ação pontual do sistema estatal (jamais global) contra as facções do sistema situacional criminoso, desde que não alcancem as causas nem afastem os líderes maiores, a não ser nos casos em que ignorá-los seria demasiadamente escandaloso. Daí é só alcançar um ou alguns deles e a opinião pública estará momentaneamente saciada e tendente a esquecer de tudo. É como se assiste agora no STF: uma ação pontual posta em generalização brilhante como salvadora da pátria, embora todos saibam que não passa de pequena parte de um todo bem mais complexo e quiçá inatingível. 

Há um ditado, se não me engano de Erich Fromm, que assim se resume: “A calamidade é ruim para o povo, mas boa para a sociedade.” Ora, o histórico julgamento no STF é apenas um “deslizamento de barreira” a receber tratamento perfeito. Longe está de ser o engessamento de todo o corpo criminoso ou sua eliminação. É, a bem da verdade, uma “feridinha de nada” numa sociedade corrompida e matriarca de um estado que vigia e pune em demasia, porém errada e insuficientemente: um estado imediatista e ele próprio fomentador do crime. E parece que assim permanecerá, em reducionismo, até que um dia a calamidade ocorra em globalismo tão destruidor quanto Horishima e Nagasaki, ou Berlim no final da II Grande Guerra. Aí sim, a calamidade será boa para a sociedade...

2 comentários:

Paulo Xavier disse...

Cel Larangeira.
Ultimamente tenho andado desanimado, desiludido e desesperançado de um Brasil melhor para os meus netos, para as nossas crianças.
Vejo muita hipocrisia, muita inversão de valores onde o cidadão politicamente correto tem que se calar para não se ferrar e parece que o que vale é se dar bem a qualquer custo, está virando moda em todos os setores da nossa sociedade. Na política então está escandaloso, escancarado, e aí fazer o que? Reclamar com quem?
O efeito dessa desordem social reflete negativamente e principalmente em quem procura viver corretamente, andar direito; seus desdobramentos são terríveis. No final se vê isso que está aí e salve-se quem puder!





Emir Larangeira disse...

Tem razão, amigo!

Pior é que a inversão de valores é tão corriqueira que não nos permite crer num futuro melhor. A não ser que ocorra algo global e severamente grave para acordar a sociedade brasileira. Lembro aqui de alguns políticos que comigo exerceram mandato e dependiam de pedir dinheiro emprestado a colegas para pagar prestações em carnês. Sem que tenham de lá saído, da ALERJ, hoje compram matrizes bovinas em leilões de milhões e possuem patrimônio bilionário. Ora, fácil seria desmascarar e fuzilar essa turma! Mas quem fuzilará quem? Quer saber?... "Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão!"