sábado, 15 de setembro de 2012

OS OLHOS DO FURACÃO




Os sucessivos assassinatos de PMs não me parecem casos isolados. Pelo menos nesse aspecto as autoridades pensam assim e estão reagindo como devem. Mas a questão é que a polícia é apenas reativa aos acontecimentos, não consegue ser proativa para evitar o desgaste decorrente dos assassinatos banalizados ao extremo. Faz parte dessa banalização a utilização de menores para executar os homicídios, de modo que a punição lhes seja branda em virtude da lei que, afinal, torna-os impunes. Portanto, se não houver resistência à prisão, esses assassinos serão presos não sem antes se tornarem heróis no ambiente criminoso para onde retornarão adultos e a comandar vitórias contra o sistema estatal. Enquanto isso, os discursos políticos, em vista das eleições, são mirabolantes e ilusórios, a fim de minimizar o prejuízo nas urnas.
É, porém, compreensível a retórica política ante o desastre eleitoral que representa o assassinato frio e calculista de jovens policiais em emboscadas certeiras. A primeira reação de quem detém o poder não pode ser outra senão tentar empurrar com a barriga o problema, fingindo estancar o sangue do ferimento psicológico que afeta o eleitor: o medo. Claro que a reação sempre ocorre, mas a questão é que os jovens PMs, postos como “salvação da lavoura” em favelas inseguras até para policiais experimentados, já morreram em virtude da inconsequência estatal.
Sobre esta inconsequência, que vem de longe, encontrei provas bastantes ao ler o livro do Coronel Mário Sérgio – ex-comandante-geral da PMERJ. Porque ele, – com seu domínio do vernáculo transferido do bico da pena para o papel, – descortinou certa aleatoriedade na “tomada” do Complexo do Alemão, demais de clarear que quase toda a PMERJ participou das ações, o que provou não terem sido elas, as ações, apenas um repeteco do “cobertor curto”, mas o uso dum “cobertor dobrado” até se tornar “pano de prato”. Ora, se se necessitou de tanto aparato pata “tomar” o Complexo do Alemão, imaginar um container com meia dúzia de PMs para manter o terreno “tomado” sugere nada mais que temerário engodo.
Indo do Complexo do Alemão e da morte da jovem PM Fabiana, – praticamente isolada naquele local “tomado” por milhares de colegas dela que depois ingressaram no estado de fade-out, – indo do Complexo do Alemão e da morte da jovem PM Fabiana à Rocinha e à morte do jovem PM Diego (provavelmente dois recrutas “fichas-limpas” aclamados pela insana mídia como “ideais para as UPPs”), a conclusão é a de que o sistema situacional ainda não se pôde sobrepor ao emblemático grito de guerra do megatraficante Fernandinho Beira-Mar, em Bangu I, depois de comandar uma chacina intramuros do presídio até então considerado de “segurança máxima”: Tá tudo dominado!
Ora, no caso do sistema situacional não há nada dominado! “Tá tudo dominado”, sim, pelo sistema situacional criminoso, porque não há nenhuma ação proativa (ostensiva) nem investigativa (velada), mas reações desordenadas e eventualmente vencedoras em virtude da exagerada concentração de força num só ponto, e não por meio de uma seletividade do uso da força planejada para ser duradoura. Quem acha que eu exagero, vejam o que nos vislumbrou Mário Sérgio em seu livro Liberdade para o Alemão – O Resgate de Canudos, pág. 126:

“(...) Depois de cerca de duas horas e meia ficou decidido que as unidades teriam as seguintes incumbências: o 22º BPM; (...) o 9º batalhão (...); o 1º batalhão (...); o 3º batalhão (...); o 14º batalhão (...); o 4º batalhão (...); o 41º batalhão (...); o 6º batalhão (...); o 7º batalhão (...); o 23º batalhão (...); o 15º batalhão (...); o 12º batalhão (...); o 17º batalhão (...); a Companhia de Cães (...); o Batalhão Florestal (...);”

Demais ainda, claro, do 16º BPM (sede do comando das operações), do Batalhão de Choque, do BOPE, das unidades aerotransportadas e dos volumosos efetivos e equipamentos bélicos das Forças Armadas (a Força Regular). Enfim, um aparato que só poderia resultar na inteligente debandada dos traficantes (a Força da Narcoguerrilha), que os eufóricos vencedores designam como “covardia” sem lembrar o estratégico ensinamento de Mao Tse-Tung: “Se o inimigo ataca, eu retrocedo; se o inimigo recua, eu o persigo; se o inimigo se detém, eu o hostilizo; se o inimigo se reagrupa, eu me disperso".” Ah, como destacou Mário Sérgio (ibidem, pág. 131):

“Total coordenação porque na hora da guerra é um barata voa.”

Ora, os bandidos, mais organizados no terreno, nada mais fizeram que retroceder segundo a cartilha maoista. Assim se comportaram, se comportam e se comportarão enquanto o sistema situacional se engana e/ou engana a população com frases de efeito enfatizando algo ainda obscuro, muito obscuro: a “vitória” completa na Rocinha e no Complexo do Alemão (os dois “olhos do furacão”). Querem saber?... Não houve vitória, não! Tudo não passou de “enxugamento de gelo” num momento em que o jogo político assim o exigia, cá entre nós, em razão dos próprios bandidos conscientemente provocando uma onda de atentados a ônibus em premeditada hostilidade, dentre outras ações aberrantes como a tentativa de invasão do Vidigal. E como agora fazem matando incautos PMs andando a um, a dois ou a três em lugares infestados de facínoras. Porque, enfim, os traficantes voltaram depois de gozar do conforto rural ou da recepção como autênticos baluartes da revolta dos miseráveis em favelas sem UPPs. Nesses tempos de calmaria, eles leram e releram as estratégias de Mao Tse-Tung e agora partem para a reação covarde dos extremados crimes de sangue, eis a inegável realidade...




2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Misoca, não li o livro do aprendiz de filósofo( aliás,profundo blefe, este senhor conseguiu ser o pior dos piores de todos os seus antecessores. O mal que este senhor causou a PM, ainda teremos que viver muitos anos para reparar),tendo em vista não me adaptar muito bem ao gênero literatura de cordel, mas um amigo leu e o resumiu em poucos tópicos, que registro abaixo:

1. Ficaram, pela primeira vez na historia da operacionalidade da PM (isto nunca ocorreu em governo nenhum anterior), 3 anos sem operarem no Alemão e Vila Cruzeiro(entre 2007 e 2010), o que permitiu um volume de bandidos armados nunca visto no dia a dia da região. Além disso,
desativaram(em um claro acordão com o tráfico local)os DPO e o GPAE locais. E só fizeram aquela grande operação, por que na véspera a Globo passou a filmar de helicóptero, ao vivo, centenas e centenas de traficantes armados de fuzil e granadas achincalhando a Policia, a SSp e o Governo.

2.Todo tempo,no cordel, o MS simula o que não é,nem nunca foi,isto é, operacional. Na verdade toda tropa sabe que esse rapaz sempre foi um cagão.

3.Ele critica o passado como se sua carreira tivesse começado agora, a partir de 2007, e até como se fosse de outra´Policia.É muito cínico.

4.Baba o ovo do beltrame, cabral e até da mulher do cabral, porém dependendo do enfoque em algumas nuances do cordel, deixa-os é mal.

5. Choramingou sofismaticamente, como é sua especialidade,sua exoneração do Cmd Geral, mas finge que esquece todo tempo,que seu querido comprade está em Catanduva, e isso ainda vai dar panos prá manga.......

6.Deixa,ou tenta deixar transparecer em vários momentos do cordel, que ele é o grande responsável pela politica de segurança do governo(quá,quá,quá).


8.Quer criar uma situação, em dado momento do cordel, que o coloque (ele sòmente ele)como o grande responsável por não haver ocorrido um massacre no Morro do Alemão. Ora, qq profissional de Policia sabe,que o tempo decorrido entre o patético ultimato dado por esse senhor, na frente das câmeras de televisão(ele adora), sem que um cerco profissional tivesse sido feito no Complexo, isso sim, foi o que propiciou a fuga em massa da vagabundagem. Portanto ele deveria ser responsabilizado pela fuga de centenas de traficantes de drogas
isso sim.

9. E, finalmente,o Marius Sergius ENLOUQUECEU...quer se apresentar como um lider messiânico, que ouve vozes, a exemplo de Antonio Conselheiro. Pô,essa é demais. É um poltrão,um 171, isso sim.Olha Catanduva ai gente, olha a alma da juiza Patricia aí, clamando por justiça gente.......

Emir Larangeira disse...

Caro anônimo

Sua severa crítica deve ser postada como fonte de reflexão, como contraponto de uma história que, decerto, poderia ser contada de outro modo. Como você deve ter percebido, busco nos "atos falhos" a explicação do detalhe que racionalmente teria sido omitido, mas a empolgação costuma nos fazer deslizar nas entrelinhas... Ainda não fiz a crítica do livro, o que não me impede de antes segmentá-lo dentro da ideia de jorrar luz às entrelinhas, inclusive para desmascarar o pior de todos os colegas da PMERJ, inigualável na arte da conspiração visando à sua autopromoção, tanto que já mereceu Nota Oficial do Cel Nazareth Cerqueira, num passado recente, tachando-o merecidamente de "VEDETE". Esse personagem me inventou uns "cavalos corredores" porque os PMs do nono batalhão, então sob meu comando, "entravam na favela correndo". Veja só como as entrelinhas do MS, sem adentrar o continente do texto, esclarecem a realidade de ontem e de hoje. Diz ele na página 24: "(...) No BOPE ninguém se incomoda de ser chamado de 'negão', de 'magrelo', de 'cavalo cansado', de 'jegue' ou 'jerico'." Diz mais, na página 48: "(...) Avançamos por lanços: aquelas corridas com a máxima velocidade possível, pulmões cheios de ar sem respirar para atravessar de um ponto a outro numa rua, num beco perigoso." Mas o meu infeliz desafeto, infame araponga-mor que na carreira só se serviu e prejudicou quem trabalha e jamais serviu ao povo, transformou uma secular conduta de combate (deslocamento rápido entre cobertas e abrigos na linha de tiro) em "conduta criminosa". Talvez para ele, que sempre esteve ombreado com parentes de bandidos e segmentos sectários da imprensa marrom, em especial com mães de bandidos, e jamais combateu essa turma com a qual vive abraçada, para ele qualquer conduta contra o crime é afronta ao interesse dele de proteger seus iguais do submundo. Preciso lhe dizer o nome dele?...
Bem, vamos em frente. Creio que o MS, ao publicar o livro, deve ter se preparado para as críticas mais veementes. Afinal, se ele decidiu editar a ideia dele como está, não me cabe evitar que as críticas, mesmo fortes, se avolumem. Se não, fica parecendo que concordamos com a absurda ideia de que a "mãe da UPP" foi a "primeira-dama", o que torna tudo uma piada. De muito mau gosto, por sinal. paro por aqui certo de que o assunto não terminará aqui...