terça-feira, 11 de outubro de 2011

A “República dos Bruzundangas”




Desde muitos anos a segurança pública no RJ lembra a “República dos Bruzundangas” e seus “samoiedas” hábeis em “pelotiquices”, deste modo reavivando a ficção de Lima Barreto*. E a PMERJ paga o pato, e bem o merece, pois o espetáculo circense que promove faz corar os mais hábeis saltimbancos... Diante desse ilusório picadeiro, e nele entrando para cabriolar da ficção à realidade, ou encenando magia numa bola de cristal, acrescento que jamais poderia supor na PMERJ a troca de seus comandantes em períodos tão curtos. E não vejo o fato como culpa externa, mas resultado de fraqueza da própria corporação, que parece ter perdido o rumo. E, se não me bastasse, um horizonte sombrio me sugere que ela enfrentará mares turbulentos até naufragar em águas rasas − como o bebum se afoga em poça d’água. Para salvá-la desse fado cruel, só milagre!...


Sem embargo, devo admitir temerosamente uma falência irreversível a afetar a corporação. Assusta-me, sim, o lamaçal em que a PMERJ se debate sem evitar ser tragada; e me parece que não há corda capaz de retirá-la da lama, a não ser puxando-a pelo pescoço e enforcando-a antes do afundamento fatal. Porque, a cada corda que lançam para tentar salvá-la, aqueles que estão na ponta oposta ao laço são indiferentes ao fato de que o apertam enquanto afundam na lama que igualmente pisam imaginando-a terreno firme. Sim, estão todos grudados no lamaçal, pisoteando-o e se pisoteando em desespero, com alguns almejando a salvação ou o heroísmo pós-morte. Até agora, porém, só conquistaram a pecha da vilania acompanhada do ostracismo próprio de quem se acovarda e merece o troco, algo difícil de negar e mal que não deve ser desejado para o atual timoneiro desta nau cambaleante.


Contudo, os integrantes da PMERJ devem atentar para o fato de que vêm sendo enfraquecidos de propósito e continuam dando seus traseiros à lanceta. Enquanto isso, os comensais da carne − aves de rapina destas e de outras paragens −, aguardam mais carne a ser posta na mesa, esta que, porém, flutua na mesma lama em que um dia eles também afundarão. Ah, não será diferente, a não ser que o mundo acabe!... Sim, sim! O mundo acabará um dia, mas a PMERJ acabará antes, posto continuar a promover espetáculos tragicômicos sem perceber que o teatro cerrou as portas e não há mais aplausos. Há, sim, muita vaia da multidão postada do lado de fora em corredor polonês... Porque para a desorientada e fragmentada PMERJ só cabe renascer das cinzas, como na tradição egípcia da Fênix... Mas como, se a fabulosa ave não vence a ilusão de sua existência? Como os “enlameados” reiniciarão o espetáculo a partir das cinzas, se estão dentro da lama molhada? Como aparentam ser alguma coisa, se não são nada mais que cabeças afundadas no pântano lamacento − com a corda a enforcá-los −, sem qualquer semelhança com o lírio?...



O momento é mais grave do que aparenta! Porque todos fingem chafurdar na lama do desprezo dissimulado em elogio, mantendo a corda ao pescoço para que, no fim do espetáculo, a asfixia lhes seja comum, assim como lhes será a vala do sepultamento em descrédito. Mas eles merecem! Afinal, não reagem de dentro da lama para fora como o lírio a brotar do pântano. E porque, além de pesados em virtude dos pecados, apenas recebem empurrões lama abaixo, pondo-se antes nos ombros de outros que já afundam ao pescoço; e assim o fazem tão-só para respirar um restinho de ar antes de sucumbirem todos em autofagia delirante.


Sem embargo, a “República dos Bruzundangas” vivencia um faz-desfaz e um diz-que-diz que não mais permitem a união dos pares fardados, nem de superiores e subordinados. Refiro-me, claro, aos pares, superiores e subordinados do topo, eis que atolados num obscuro subsolo com a base já enterrada no lamaçal que engole toda a “República dos Bruzundangas”, sepultando bons e maus igualados em eloquência pelos demolidores externos e, infelizmente, internos. E assim as aves de rapina seguem felizes ante o sucesso do plano de afundar a PMERJ, o que ela facilita deveras ao afundar-se a si mesma antes do empurrão final, que está mui bem providenciado...


Dá para reagir?... Talvez... Mas é hercúlea a tarefa, e dependente de união e coragem, valores internos deveras esquecidos, demais de trocados por vaidades e comissões a suprirem os poderosos que oprimem os fracos, estes que pagam o pato sem nada ganhar além do baixo salário. E a PMERJ incrivelmente insiste em viver uma falsa felicidade, quando, na verdade, vegeta em estado terminal, o que é possível perceber por seu inchaço doentio dissimulado em gordura saudável nela jorrada todo ano sem se notar que é gordura contaminada de nascença, ou seja, decorrente dum podre atavismo vindo de berço...


Sim, a PMERJ está a mais e mais terminal e aguarda em covardia a sua morte. Enfim, parece não haver mais remédio, a beleza da planta depende da feracidade do solo, e longe está a corporação de produzir, sem solo, plantas sadias: ela não é hidroponicista. Ademais, ela vive em lama infecunda e úmida, portanto incapaz de gerar a flor ou permitir o crepitar do fogo... Cabe-lhe então torcer para que surja um novo medicamento a lhe prolongar a vida, como sempre, porém, inserindo-lhe efeitos colaterais e alimentando o eterno círculo vicioso que não a deixa morrer queimada para renascer das cinzas...

* Os Bruzundangas é obra póstuma de Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922), publicada em 1923.

Nenhum comentário: