domingo, 10 de julho de 2011

SOBRE AS ELEIÇÕES NA AME/RJ




Ao tomar conhecimento do inteiro teor das chapas concorrentes à presidência da AME/RJ, aguçou-me a atenção o título da Chapa Verde, sobremodo ofensivo: CHAPA RESGATE DA DIGNIDADE. Resgate de qual “dignidade”? Seria a do cargo de presidente da AME/RJ, que estaria hoje entregue a algum “indigno”?... Vamos ao Aurelião:



Dignidade [Do lat. dignitate.] Substantivo feminino. 1. Cargo e antigo tratamento honorífico. 2. Função, honraria, título ou cargo que confere ao indivíduo uma posição graduada: Foi elevado à dignidade de reitor. 3. Autoridade moral; honestidade, honra, respeitabilidade, autoridade: É pessoa de alta dignidade. 4. Decência, decoro: Manteve-se em todo o incidente com perfeita dignidade. 5. Respeito a si mesmo; amor-próprio, brio, pundonor: Empobrecido ao extremo, sabe conservar a dignidade.



Segundo se pode inferir do tal “resgate da dignidade”, a maliciosa alusão só pode ser endereçada ao atual presidente da AME/RJ (Cel Dilson Ferreira de Anaide), e, por via de consequência, aos seus colaboradores oficializados no mesmo processo eleitoral, dentre outros que integram a Chapa Azul. Portanto, se pensam os oficiais da Chapa Verde “resgatar” alguma “dignidade” é porque ela teria sido antes maculada. Daí o “resgate”, na verdade uma descarada acusação de exercício indigno dos cargos direcionada à atual administração, que apoia a Chapa Azul, da qual faço parte, embora não tenha participado de nenhuma administração anterior.
É ofensivo, sim, o título da Chapa Verde, obrigando-me a contestá-lo do modo como me vier ao atino ou a desatino, pois sou um dos ofendidos. Deste modo, vamos nos prender ao líder da Chapa Verde, o Excelentíssimo Senhor Deputado Estadual Paulo Sérgio Ramos Barboza, originalmente major PM cuja carreira parlamentar vem de longe. Inicia-se em 1987, época em que foi eleito Deputado Federal pelo PMDB com assertivo discurso antibrizolista. Mas, por ver frustrado o seu plano de indicar o novo comandante-geral junto ao novo governante do seu partido, Moreira Franco, com este ele se desentendeu e migrou exatamente para o PDT do Brizola, assim iludindo o eleitorado PM que o prestigiara maciçamente naquela campanha eleitoral.
O desencanto dos militares estaduais com o Deputado Federal Paulo Ramos refletiu-se nas urnas na campanha seguinte: foi fragorosamente derrotado. Mas ele não perdeu seu prestígio junto ao PDT, já que Leonel Brizola venceu e foi alçado novamente a governador. Por conta desta guinada brizolista, a carreira de Paulo Ramos ascende em sucesso, nem tanto com o apreço dos militares estaduais, mas por outros apoios de categorias civis, que não é caso elencar.
À parte a indiscutível competência política do candidato, interessa apenas avivar a lembrança dos oficiais da PMERJ e do CBMERJ (associados ou não), que esse mesmo Paulo Ramos, em pleno exercício de mandato parlamentar, tenta voltar ao início de tudo. Intenta recomeçar uma caminhada cujo marco zero foi a AME/RJ, da qual foi presidente (antigo Clube dos Oficiais) e por isso submetido a pressões do sistema e a muitas punições, culminando por responder a Conselho de Justificação até ser reformado administrativamente. Por conta disso, recebeu o prêmio do mandato parlamentar federal pelo PMDB. Afirmo, porém, que não lhe nego valor, mas é claro que todos esperavam vê-lo contra o brizolismo e lutando pelos interesses da tropa, o que não ocorreu.
Agora ele ressurge candidatando-se a cargo que anteriormente ocupou e nada fez além de autopromover-se para se lançar na política. Dizem as “boas línguas” que ele pretende fazer na AME/RJ em favor dos militares estaduais o que não consegue fazer lá na ALERJ. Ou seja, inverte o discurso do início em que a AME/RJ era pouquíssimo poder de representação para ele ajudar a categoria, mas que, no Poder Legislativo, ele lograria alcançar esse objetivo. Estranho... Como pode agora o ilustre parlamentar enveredar-se por caminho inverso?...
Que fraca é a memória humana!... Que esperar do ilustre parlamentar nessas dúbias circunstâncias?...
Cá pra nós, a candidatura da Chapa Verde cheira a hilariante casuísmo, bastando verificar o nome coadjuvante do candidato a presidente (Ten Cel Cícero Bastos Melo), principal articulador da chapa. Dizem as “boas línguas” que será o presidente de fato e deve ter aplaudido o título de sua chapa. Pois é certo que o nobre parlamentar não terá tempo de se dedicar à causa dos oficiais militares estaduais com tantos afazeres políticos. Sobre o Ten Cel Cícero não posso falar muito, não conheço nenhum feito ou feitio dele na corporação, nem positivo nem negativo. Mas entendo que a participação dele na formulação do título da Chapa Verde o põe na roda das críticas.
Demais disso, porém, há excelentes nomes na Chapa Verde, assim como também os há na Chapa Azul. Mas o problema se prende à forma como as chapas foram articuladas para se especular quais serão suas funções. Pois é certo que o sistema da AME/RJ, mesmo adequado à democracia em termos de eleições, continua hierárquico-piramidal em se tratando de administração, o que coloca o foco da atenção no topo das duas chapas, especialmente nas principais figuras em disputa: Deputado Estadual do PDT Paulo Ramos e Coronel PM RR Carlos Fernando Ferreira Belo.
Quanto ao Cel Fernando Belo, orgulho-me de constar em sua chapa (Chapa Azul) porque ele possui feitos e feitios que o credenciam a ser um líder de classe independente e combativo, capaz de elevar o nome da AME/RJ em todos os sentidos morais, políticos e administrativos.
Quanto ao Deputado Paulo Ramos, cujo partido (PDT) integra a base do governo Dilma, do PT, e do desgoverno Cabral, do PMDB, devo alertar os distraídos que discursos feitos na Tribuna da ALERJ, por mais contundentes, nada significam para o governante (já passei por lá...). Já os votos de Plenário e das Comissões, estes sim, são importantes para aprovar as vontades do governo. E, neste caso, a Bancada do PDT cumpre religiosamente o acordo com Sérgio Cabral, o que torna o oba-oba da tribuna uma piada ou “canto de sereia”...
Feito o alerta, paro neste ponto já informando que não sossegarei até o dia 17 de agosto (data da votação), porque não gostei da ofensa subscrita pela Chapa Verde. Pareceu-me uma consciente canelada a merecer cartão vermelho na saída da bola... Ou um cartão de expulsão "Chapa Azul"...

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