segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Os arrastões e as UPPs



Jamais, – em tantos anos lidando com a profissão e observando o ambiente intramuros e extramuros dos quartéis, – jamais imaginei que um dia a PMERJ se tornasse “milagreira”. E o “milagre” se denomina Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), capaz de concomitantemente explicar o sucesso e o fracasso da segurança pública. Porque parece que tudo gravita em torno da UPP, sem que ninguém atente para um detalhe de somenos: a concentração de efetivos nas favelas resulta naturalmente na diminuição da frequência do patrulhamento no asfalto, advindo daí menor prevenção e demorada repressão aos delitos. Insisto, todavia, que a crítica não pretende desmerecer as UPPs. O efeito positivo dessa modalidade de policiamento justifica sua manutenção, ampliação e aprimoramento a qualquer custo. Sim, porque a UPP é caminho sem volta, sob pena de, em fracassando esse programa operacional por qualquer razão, a PMERJ pagar um preço incalculável perante a opinião pública.
Por conseguinte, em sendo a UPP um fato irreversível, a questão se resume em como a PMERJ suprirá o vácuo que a permanente concentração de efetivos em favelas está resultar nas ruas. E não somente na capital, mas também nos ambientes interioranos, que, carecendo de efetivos e meios materiais, em vez de recebê-los acolhe marginais migrados em terrível somatório à insegurança reinante. Acresce ao problema as blitze a incomodar quem já está assustado, sem falar no absurdo de a própria polícia, em posição de estaca, atirar em cidadãos amedrontados que tentam escapar dos cercos aparatosos por não sabê-los formados por policiais assustados ou por bandidos contumazes.
Não seria mais útil gastar combustível e instituir uma dinâmica de policiamento assustadora aos bandidos em tudo que é ambiente? Não seria melhor gastar combustível do que manter viaturas estacionadas a vistoriar quem tem o direito de ir e vir, direcionando a desconfiança policial ao cidadão somente porque ele transita nas ruas? Ora, qual será o limite da impertinência policial fundada no Poder de Polícia? Até que ponto o cidadão, em nome de uma ação policial para supostamente lhe dar segurança, deve ser incomodado por uma rede de malha fina lançada alheatoriamente ao mar ambiental para tentar pescar um específico peixe sem saber se ele passeia entre os demais?
A verdade é que não importa se os bandidos, com suas ações audazes, estão ou não reagindo às UPPs. E quando eles assim agiam (várias vezes e no mesmo estilo de guerrilha urbana) antes de existirem UPPs? Era, então, por quê?... Ora! A realidade é que a PMERJ, – desde muitos anos, e por diversas razões que não apenas as alardeadas exclusões disciplinares, – a PMERJ enfrenta um grave problema de evasão do seu efetivo e sofre como Sísifo para ultrapassar a marca dos 40.000 PMs prontos para o serviço.
Creio, salvo melhor juízo, ser inútil e desgastante trazer de volta o efetivo que presta serviços em outros organismos de segurança pública (a maioria). Recolher os que se encontram em órgãos estranhos à segurança pública, vá! Mas os PMs à disposição de organismos de segurança pública, aqui entendidos, num sentido amplo de garantia da ordem pública, o Ministério Público, a Justiça, o DETRAN, as Guardas Municipais, o DETRO, a SEAP etc., talvez sejam mais úteis à sociedade onde estão do que em quartéis. Portanto, fazer retornar os efetivos postos à disposição desses organismos, incluindo a própria Secretaria de Segurança Pública, não será solução de nada e poderá ser a emenda pior que o soneto.
Concordando por inteiro com o Dr. Beltrame no sentido de que “mágica não existe”, antevejo a possibilidade concreta de responder em superioridade de força aos ataques dos narcoguerrilheiros. Haverá gasto maior de combustível no aumento da frequência de um patrulhamento capaz de dissuadir os marginais pela possibilidade real de lhes surpreender em qualquer ponto da cidade e a qualquer momento. Sim, talvez tudo se resuma a imprimir maior mobilidade à PMERJ e incentivar concomitantemente a inteligência policial e a investigação criminal no âmbito da PCERJ. E, nos dois casos, em vez de o Estado entupir as corporações com gentes mal pagas, que as entupa com bons salários e muita tecnologia.
Deste modo, sem necessidade de mágica ou de apelar para a metafísica, é possível que a segurança pública logre êxito no controle da criminalidade, até que a torne tolerável. Porque, acabar com o crime, nem mágica ou milagre de todos os santos e anjos juntos. Só a Deus é concebível tal milagre, talvez mandando um asteróide explodir o planeta Terra para recomeçar um novo Éden, com Adão e Eva, sim, mas desta feita sem as tentações da macieira e da serpente...

Um comentário:

Anônimo disse...

Sr. Larangeira, nao seria a hora de partir pra cima deles (CV) e mostrar quem manda no Rio?