sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Eleições findas, fim das ficções




Agora é a realidade...

Antes das eleições, quase todos os acontecimentos produzidos ou reproduzidos em marketing pela maquinaria governamental visavam aos ganhos eleitorais. É óbvio, todavia, que nenhum político concordaria comigo e alguns diriam que faço ilações desimportantes. E acrescentariam muitos etcéteras a desancarem o que afirmo. Mesmo assim, como sou o “cricri do chato”, vou em frente defendendo esse “óbvio ululante”, como diria Nelson Rodrigues, ou esse meu “FEBEAPÁ”, como ironizaria Stanislaw Ponte Preta.
Ora bem, o “festival de besteira que assola o país” entrará agora numa fase em que a hipocrisia cederá lugar ao pragmatismo de sempre. Agora é hora de recuperar os milhões (MUITÍSSIMOS!) jorrados na campanha Brasil afora, não apenas pelos empresários, que por essa hora já contabilizam quais serão os lucros do “investimento” (ALTÍSSIMO) que fizeram e que hão de suprir, inclusive somando a despesa dos perdedores. Empresário que se preza não investe num lado apenas. Faz como no jogo do bicho e “cerca a aposta por todos os lados”; enfim, ganha sempre, mas para que ele ganhe alguém tem de perder... Quem?... Ora!...
Ah, esta é a parte de somenos importância, a maquinaria governamental é pródiga em produzir caixa por meio dos absurdos impostos! E os ganhadores das eleições, de cabo a rabo, seguirão a lógica da guerra: “Aos vencedores, as batatas” (a primeira “batata quente” a ser enfiada no fiofó do eleitor é a CPMF). Portanto, o problema dos “investimentos” nas campanhas majoritárias e proporcionais se transforma em gratificante solução para o estado e os milionários bancos. E enquanto se aguarda o próximo pleito, o babaca do contribuinte (já penalizado por elevados tributos municipais, estaduais e federais) espera para mais uma vez cumprir o seu “dever cívico”: comparecer às urnas como rebanho tangido à obrigatoriedade da lei eleitoral e mediante ameaças retaliatórias. E mais uma vez, ainda coçando o seu desinfeliz fiofó, votará nos candidatos que lhe são sugeridos em floreios esperançosos. Sim, ele entrará na fila como se fora dono do processo democrático, o senhor das ações, o cidadão pleno, eis a ficção por inteiro!
Agora é a realidade...
Uma delas, que já se sente na carne aqui no RJ: a evolução da criminalidade para outras modalidades violentas (“arrastões”) nas regiões onde foram instaladas as UPPs como o “milagre do século”, concentrando-se efetivos nas favelas e rareando-o no asfalto segundo o inelutável princípio físico no sentido de que um mesmo corpo não pode simultaneamente ocupar dois lugares no espaço. A não ser que a PMERJ adentre os mecanismos quânticos e produza o “PM-Flash” capaz de se teleportar em nanosegundos de um ponto a outro e de pulverizar os assaltantes armados que estão matando cidadãos indefesos no asfalto, como ocorreu com o médico reumatologista William da Silva Castro Alves, de 54 anos, fuzilado esta semana Avenida Marechal Rondon, no Rocha, Zona Norte do Rio. Quantas vidas ele terá salvado? Quantos seres humanos ele evitou se tornar estatística de óbitos por doenças? Quanto vale a vida do médico para a sociedade e para a família dele?... Não sei, mas a impressão que tenho é a de que para o estado ela não vale muito, tal a frequência com que pessoas úteis à sociedade morrem desta forma...
Outro efeito que não mais pode ser ignorado é a migração de levas e mais levas de traficantes armados para outras localidades, especialmente situadas no Grande Rio, não sendo exagero afirmar que muitos migraram para regiões interioranas. Num caso ou noutro, porém, predomina o mesmo círculo vicioso da carência de efetivos e do aumento de crimes no asfalto, ou porque as novas fornadas foram concentradas prioritariamente em UPPs, ou porque, em alguns casos, efetivos antigos complementaram as UPPs na correria pré-eleitoral. E porque o “PM-Flash” não passa de ilusão...
Admitida a ilusão, acresce ao problema a defasagem natural entre o efetivo ideal e o real, embora não se saiba que efetivo é ideal neste modelo confuso e superado de polícia cristalizado na Carta Magna. Digo confuso porque as cobranças da sociedade disseminadas na mídia nem sempre são corretamente endereçadas. Todos cobram da PMERJ o que deveria ser cobrado da PCERJ e vice-versa, com desvantagem para a PMERJ devido à sua visibilidade cada vez menor ou à sua invisibilidade cada vez maior, ao gosto do crítico, o que, ao fim e ao cabo, dá no mesmo. Afinal, a PMERJ não possui o dom da onipresença, por mais que seja exitosa no combate sistemático ao crime em tudo que é canto do território estadual, o que, por óbvio, a mídia preconceituosa não divulga.


Mais desagradável é constatar a indiferença política ante uma criminalidade transnacional, esta sim, ubíqua no seu máximo, que apenas entrelaça seus tentáculos internacionais no território pátrio com monumental capacidade regenerativa, enquanto o estado brasileiro (como um sistema que deveria ser globalístico e nacional) é fragorosamente derrotado, malgrado o esforço de abnegados policiais civis e militares. A falência da segurança pública é evidente, a começar por um sistema carcerário entupido de apenados em espaços mínimos e indecentes, tornando a ressocialização dos criminosos uma piada de péssimo gosto.
Na realidade, o problema começa com a expansão acelerada do crime no ambiente social e termina com os “monturos” de gentes criminosas num ambiente apertado e desapropriado em todos os sentidos. A lógica, cruel, é a de que construir cadeia não dá votos, e a maquinaria governamental não gosta de investir em estruturas sem retorno eleitoral. Afinal, apostar no reconhecimento de bandidos e seus familiares, tratando-os condignamente nos presídios, não soa como desejável politicamente. E o que não é desejável politicamente não o será eleitoralmente, a não ser para alguns parlamentares “de esquerda”, que, a pretexto de defenderem direitos humanos, defendem somente criminosos e atacam a polícia. Como há milhares de criminosos presos e suas parentelas são numerosas, o filão eleitoral é compensador. Ademais, esses parlamentares são afagados pela mídia, retratados em filmes como autênticos heróis, embora não passem de vilões na vida real, e alguns ainda recebam polpudas verbas para suas ONGs... Ou seja, não é filão apenas eleitoral, mas aurífero...
Tal conjuntura de inércia e beneplácito estatal reduz a segurança pública brasileira a uma impressionante “fábrica de bandidos”; e se inclui nesse contexto as “fabriquetas de infratores” convenientemente registrados com atraso (quando o são), de modo a serem falsos menores com direito aos benefícios das leis que os protegem. na verdade são, muitas das vezes, marmanjos escolados no crime. Pior ainda: se a polícia melhorar seu desempenho, o sistema carcerário, aí sim, entrará em colapso total, tal como na fábula do cobertor curto em tempo de friagem...

Um comentário:

Paulo Xavier disse...

Realmente a tranquilidade das cidades interioranas no nosso Estado é coisa do passado. Na semana passada estive visitando um amigo em Trajano de Moraes, cidade tida como pacata e só se ouvia falar de violência quando um marido desconfiado dava uns "corretivos" na mulher, ou alguém se apropriava indevidamente da galinha do vizinho que invadia seu território, mas infelizmente pude constatar que a droga já se faz presente nas vielas e algumas esquinas dessa outrora pacata cidade.
Não é preciso ser expert em segurança pública para se afirmar que onde rola droga comete-se também pequenos furtos e daí para assalto à mão armada e assassinatos é questão de tempo.
Seria hipocrisia de minha parte colocar a culpa nas UPPs pela crescente onda de violência nas cidades do interior, mas é lógico que a tendência da vagabundagem é se instalar num lugar onde a prevenção e a repressão ao crime são fatores secundários.
Não seria absurdo afirmar que já tem gente que foi morar no interior em busca de paz, querendo voltar para a capital, de preferência para uma comunidade pacificada por uma UPP.