quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Sobre o segundo turno

Histórico, sem dúvida, o segundo turno das eleições presidenciais! Relembrando Johnny Alf e sua canção Eu e a brisa: “... pois talvez quem sabe / O inesperado faça uma surpresa...” Houve a surpresa!... Vitória da democracia, do respeito às diferenças, vitória do povo! Este segundo turno poderá ser o marco de uma nova era política e a certeza de que o Brasil não tende a ser um país de “plebiscitos”, de opções dicotômicas ao modo de Hugo Rafael Chávez Frías...

Embora a democracia brasileira demande muitos ajustes para diminuir os exagerados poderes ministeriais e judiciais, e, principalmente, para atalhar os absurdos poderes do Executivo, dono do cofre, da senha e da chave dos recursos públicos, a democracia avança...

Embora a desigualdade predomine numa prática distante dos preceitos constitucionais, e muitos deles sejam casuísticos, ou de exaustiva ou nenhuma compreensão pelo cidadão, a democracia avança...

Embora alguns segmentos sociais sejam maltratados no texto constitucional e a irresponsabilidade do Estado-filho não seja cobrada pela Sociedade-mãe, e daí ainda vivenciarmos um estado totalitário (não importa se de direita ou de esquerda, só mudaram as moscas zunindo em torno do mesmo bolo autoritário), a democracia avança...

Embora a Carta Magna esteja cheia de remendos desinteressantes ao bem-estar do povo, e se tenha transformado numa colcha de retalhos novos e velhos, a democracia avança...

Embora a constituinte de 1988 tenha criado semideuses livres de freios e contrapesos a decidirem sem pejo sobre a vida dos cidadãos, arrasando reputações por meio de caprichos espertamente legalizados, a democracia avança...

Embora o povo brasileiro muitas vezes fique na dependência do “entendimento” de apenas um julgador elevado à condição de “Deus”, a democracia avança...

Embora os meios de comunicação social finjam isenção para lhes ocultar a arrogância histórica, a democracia avança...
Só não se sabe se para frente ou para trás...


Porque...


... As intervenções ministeriais e judiciais exageradas, a ponto de marginalizar candidatos a cargo político, acabam por estimular a candidatura de marginais que com isso não se incomodam. Daí, poucos cidadãos honrados e bem-intencionados se arriscam à submissão do seu nome ao sufrágio.

... As arapucas jurídico-judiciais têm servido para desestabilizar bons candidatos. E infundadas denúncias contra muitos deles levam-nos ao prejuízo eleitoral em vista da difusão maliciosamente massificada com o objetivo único de influenciar negativamente o eleitor.

... São abundantes os preconceitos contra ex-jogadores, palhaços, pipoqueiros, pagodeiros, funqueiros, atores e atrizes de cinema e tevê (estes costumam ser poupados pela mídia preconceituosa). Ah, o peso da casa-grande e da senzala é imutável; a categorização não é apenas preconceituosa, mas discriminatória de direitos.

... No país da discriminação o analfabeto é objeto eleitoral para eleger o “culto”, mas não pode ser o sujeito a ser eleito, sem considerar a complexidade do conceito de “analfabeto”, em especial do “analfabeto funcional”, que constitui a imensa maioria do povo brasileiro “culto”. Como seria tratado pelos “cultos” analfabetos funcionais o doutor honoris causa (duas vezes agraciado no exterior) Patativa do Assaré, que não passou nem seis meses nos bancos escolares, e tinha na oralidade e na memória suas belíssimas criações escritas por terceiros, e assim legou ao mundo uma obra cultural valiosíssima?...

... Muitos candidatos (brasileiros eleitores e elegíveis) são empurrados ao abismo por cientistas sociais a preferirem a representatividade popular entregue – pelo que falam em entrevistas pontuais para as quais são escolhidos a dedo – entregue a um ladrão culto em vez de a um pobretão analfabeto, porém honesto. Tudo por conta da tendência elitista da sociedade brasileira comandada por uma igualmente mídia elitista, e pela óbvia razão de que seus proprietários são da elite.

... A opinião publicada, os manifestos de “famosos”, os abaixo-assinados de um milhão “representando” o pensamento de quase duzentos milhões de brasileiros ganham repercussão meteórica de “opinião pública”, atingindo quem merece e quem não merece. Afinal meteoro não costuma escolher lugar para se chocar.

... A dita “sociedade organizada” está a mais e mais composta de segmentos transformados em espertas ONGs e Fundações beneficiadas com polpudas verbas oriundas dos impostos pagos pelos pobres, bastando sublinhar o que vem descaradamente consignado na sua conta de luz.

... Hoje não sabemos que independência possuem os segmentos sociais formados apenas para vender o seu “sim” ou o seu “não” ao poder dominante...


Entretanto...


... Houve a inesperada reação: o segundo turno das eleições presidenciais num momento em que o totalitarismo de esquerda se encaminhava a passos largos para o “modelo Chávez”.

... Desta vez não funcionaram as manobras policialescas, ministeriais e judiciais a favor desse totalitarismo de esquerda tão aberrante que só não vê quem não quer.

... O segundo turno servirá de lição aos que pretendiam mudar a cor do semáforo do verde ao vermelho sem observar o amarelo da atenção. Não conseguiram avançar o sinal.

... Não se trata aqui de menoscabar os candidatos que disputarão o segundo turno. Votei na Marina Silva e não sou nenhum “verde”. Sou filiado ao PR. Votei nela para tentar acender o amarelo do semáforo, e graças ao bom Deus muitas gentes fizeram o mesmo.

... Para mim não importa quem vença o segundo turno, porque ambos (Dilma e Serra) entenderam o recado da expressiva parcela do povo brasileiro (eleitores de Marina Silva + votos em branco + votos nulos + abstenções): não há espaço para nenhum totalitarismo, mas somente para a democracia calcada em projetos que promovam a felicidade e o bem-estar social, e não a ênfase em ideologias superadas ou em poderes desmedidos.

... Com Dilma ou Serra na Presidência (em vantagem a primeira, que conta com a popularidade e o apoio obstinado do presidente Lula; em desvantagem o segundo, que só agora lembra existir o ex-presidente FHC para evitar sua neutralidade), o segundo turno implica a certeza de que a reforma política tornou-se inadiável. E no espaço desta específica discussão inclui-se a revisão da Constituição Federal da primeira letra ao ponto final.




... A Carta Magna há de ser altaneira em relação às leis menores que a ela devem se ajustar em conjuntura inteligível e isonômica aos brasileiros, dentre os quais os palhaços, os pagodeiros, os ex-jogadores e os artistas em geral, incluídos como capazes (sujeitos-objetos eleitorais) todos os brasileiros, sem distinção.


... A Carta Magna deve primar pelo respeito ao cidadão e pela pluralidade das decisões beneficiárias do povo, evitando-se que um burocrata, em qualquer nível e de qualquer Poder do Estado, decida por milhões e milhões de brasileiros como se fora “Deus”.


E que...


... Enfim, qualquer que seja o resultado do segundo turno, todos os brasileiros se vejam individualmente diferenciados, mas “iguais perante a lei”!


E afinal...


... Se enquanto os políticos elitistas não proporcionaram muita alegria ao povo, esse grupo discriminado, mas que mesmo assim se elegeu pela vontade do povo, não fez outra coisa na vida a não ser nos dar alegria, e assim vem salvando a pátria com a sua arte...


... Que façam então os inesperados e indesejáveis eleitos, no Congresso Nacional, o papel inverso do que a sociedade elitista alardeia e defende sem pudor: a exclusão social! E que assim promovam, como o Mané Garrincha o fez, “a alegria do povo”! Porque ele, quiçá “analfabeto”, nos proporcionou com a sua genialidade duas Copas do Mundo consecutivas (1958 e1962), em especial a segunda, que não contou com o Rei Pelé...

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