segunda-feira, 10 de maio de 2010

Sobre o mundo em que vivemos

Vivemos num mundo marcado pela imprecisão. Por mais que tudo nos pareça simétrico, a assimetria é a norma que rege o mundo, e a incerteza é imperativa no seu caminhar cósmico. No nosso ecossistema (nossa casa), nada é absoluto, tudo é relativo. Para cada “se” há um “então”... Vivemos num mundo quântico e, portanto, impermanente. O belo pode estar no feio, a verdade pode ser o seu inverso. Tudo flutua neste mundo visível e invisível. Das estrelas aos fótons, nada fica no mesmo lugar, enquanto tudo aparenta estar no mesmo lugar. A desordem comanda o espetáculo social, e a ordem é uma busca constante e impossível de se alcançar. Neste mundo, a causa nem sempre gera o efeito, e o efeito nem toda vez decorre da causa. É um mundo maluco, e nós estamos nele como “perfeitos” e “simétricos”, embora sejamos os senhores das guerras e das destruições de tudo e de nós mesmos. Agimos assim em covardia, permitindo que os maus nos destruam, e ficamos a corajosamente defender ideologias e dogmas que não alteram o viajar eterno do Cosmo nem melhoram nossas vidas terrenas em absolutamente nada. Somos frutos (verdes, maduros e podres) da imperfeita árvore cósmica, e contribuímos para esta imperfeição por ação tresloucada ou inação conformada.
Antes e agora, – e decerto depois, – as religiões continuarão intolerantes. Pregam a paz fomentando as guerras. O sectarismo é desbragado ou dissimulado, mas sempre presente; a segregação é escandalosa. Os males, enfim, subsistem como entes vitoriosos. E as religiões permanecem a pregar, em meio ao amor, bem mais a intolerância e o temor de preconceituosas perdições como fundamentos da salvação; a paz é buscada a susto do inferno e por isso é utópica; ela, a tão almejada paz, não existe em lugar algum do mundo a não ser como arremedo de boa intenção. Em todas as comunidades humanas espalhadas pela Terra a insensatez se faz mais presente e a desordem aflora, mesmo que aparentemente controlável. Mas, em contrário, está ativa e livre, garantindo a impermanência das coisas, a insegurança das pessoas, e fortalecendo as contradições resumidas na ação destrutiva, de um lado, e na tentativa de reconstrução, do outro, e não apenas no campo físico, mas também no metafísico. E o tempo, universal e eterno, escorre no seu íntimo espaço cósmico: “espaço-tempo” infinito e indiferente a esta luta terrena do Bem contra o Mal...
O ser humano vive em sua eterna fuga do “fogo do inferno”. Entope igrejas várias, reza, ora, bate cabeça, medita e mandinga, eis como tenta a transcendência de si próprio sem sucesso. No fim de suas contas do tempo, ele morre e desaparece como quaisquer outros seres desumanos que prefiram destruir coisas e pessoas durante suas vidas insensatas. São eles os malfeitores que não respeitam a prisão nem a morte. E a fertilidade humana, mais pujante que a punição dos ímpios, garante a permanência dos contrastes sintetizados na ideia do Bem em contraposição ao Mal. E nós, seres humanos, aceitamos conviver passivamente com o Mal. Ora, não combatemos o “Bom Combate” em sua plenitude, ou seja, pondo o Bem a destruir definitivamente o Mal! Abraçamos o Mal a nos assolar e acolhemos medrosamente o malfeitor como um “ser humano” que precisa ser “recuperado”, que pode ser “ressocializado” e tornar ao convívio dos bons; e perdemos nosso tempo assistindo aos bons morrendo nas mãos dos irrecuperáveis, e eles o são porque simplesmente é assim o nosso mundo caótico, invencível em sua teimosia e persistente em sua covardia individual e coletiva. Porque o ser humano (bom) não pode destruir o ser desumano (mau) sem sofrer as consequências das mesmas leis que indistintamente os protegem (bom e mau). E como os bons respeitam as leis, perdem de pronto a luta contra os maus, que não as respeitam; os maus, mesmo cônscios da punição, não se amedrontam. Os maus são vencedores enquanto permanecem vivos. Só geralmente encerram suas maldades com a morte, mas a fertilidade humana os fabrica em série, pondo-os no mundo para cumprir suas malevolências racionais, com os bons justificando-as em temor irracional dos infernos metafísicos e das punições físicas.
Ora!... Neste mundo maluco, é melhor ser réu que vítima. A esta somente cabe absorver a maldade recebida e até morrer em consequência dela. Aos réus cabem recursos e mais recursos; suas maldades prescrevem com a passagem do tempo impune; seus julgamentos são hipocritamente justos: nesta hora eles são “cidadãos bons”; e há a proteção de sua família enquanto condenado por seus comprovados e evitáveis males; gozam do direito à liberdade, e, livres, praticam novas maldades até a transição em julgado da sentença virtual; e vão à liberdade por indulto, por dias especiais (Natal, Dia das Mães etc.); e têm direito à fuga, e por aí se acumulam as vantagens dos malefícios sociais de que são protagonistas conscientes. E assim o Bem vem triunfando do Mal.
Muitos dirão, neste ponto, que enlouqueci com direito a carteirinha do INSS ou sou ateu; dirão que perdi o senso do ridículo e me tornei um monstro; e que sou “mau” somente por externar o que penso. Respondo também neste ponto: danem-se os que deste modo me categorizam! Não me importa o que pensem, tenho o direito de idealizar o meu mundo precisa ou imprecisamente, simétrica ou assimetricamente. Se sou louco, aqueles muitos (ou aquelas muitas) são covardes travestidos de “corajosos defensores do Bem para todos”, até para os que existem a praticar somente o Mal. Azar do mundo, que se comporta “cheio de dedos” ante os sectários destruidores de inocentes, como aqueles que marcaram com sangue o dia 11 de setembro de 2001...





Ruíram as majestosas torres gêmeas. Ao receber o impacto dos aviões, o World Trader Center parecia feito de frágeis cartas de baralho perigosamente equilibradas. E, de lá para cá, os atentados não pararam. Nem cessaram os crimes isolados e episódicos, estes que já ultrapassaram em muito o número de vitimados em comoriência por radicais islâmicos naquele inesquecível setembro norte-americano. Cá pra nós, só aqui no Brasil o impressionante número de mortos no atentado torna-se ridículo se comparado com o de pessoas inocentes (homens, mulheres e crianças) vitimadas por malfeitores. Mas, em morrendo separadamente, um a um, dois a dois, cinco a cinco etc., essas mortes desinfelizes não despertam nenhuma atenção. Isto sem falar nos que morrem e somem deste mundo maluco sem jamais terem nele ingressado oficialmente. Nascem sem registro público e desaparecem no anonimato da cova rasa ou das águas do planeta Água.
O crime, – discreto ou aberrante, ou ambos, – produz mais vítimas que a soma de todos os atentados e acidentes involuntários. No entanto, nós, seres humanos, por demais humanos, fingimos não saber disso. Fingimos que o malfeitor não é um ser desumano, mas um “desviado de Deus”, ou “possuído pelo demônio”, um energúmeno que poderá ser salvo do “fogo do inferno”. Preferimos morrer e sofrer nas mãos dos representantes do Mal a usar o Bem como arma mortífera contra eles. Damos poder a meia dúzia de “intocáveis” para igualar bons e maus ante as leis que descaradamente beneficiam os maus, e esses privilegiados aplicadores das leis tornam-se deuses intocáveis, podendo rodar sua borduna indistintamente contra bons e maus. O bom que se defenda! Quem mandou dar poder de mais a semideuses? Quem mandou reconstruir o Olimpo?... Ele, o bom, que se preocupe em observar as leis para não ocupar o lugar do verdadeiro mau nas prisões. Os bons que se cuidem para não se tornarem maus. Porque as leis não distinguem senão o fato em si, e não atentam para as imperfeitas relações de causa e efeito, como no recente caso do pedreiro que matou dois assaltantes em São Cristóvão, Rio, e amargou o cárcere rodeado de outros assaltantes*. Que mundo é este?...
Ora, este é o mundo que forcejamos por destruir, embora seja único e nem tão renovável assim. O mundo é o nosso planeta perdido num Universo misterioso. Dele, do Universo, pouco ou nada sabemos além dos nossos arrogantes narizes. É este o nosso mundo maluco, que fingimos defender com ardor, mas, em vez disso, destruímo-lo ou deixamos que malfeitores o destruam. É o mundo em que aceitamos passivamente a nossa vitimização por malfeitores insanos, e, a pretexto de uma falsa liberdade, partimos em sua (deles) defesa. É o mundo hipócrita dos poderes desconstituídos que transformam seres humanos em deuses desumanos a nos ofender e atacar por nossa própria procuração. É o mundo que um dia deixará de existir no transcorrer da viagem do Universo em direção ao “Nada Infinito” de onde emergiu em espantoso mistério, e talvez desapareça tão misteriosamente como nasceu. É, enfim, o nosso mundo: o planeta Terra; e, no contexto da eterna viagem do Cosmo, o nosso mundo é quase que tal e qual ele, o Cosmo, impermanente, impreciso, incompreensível e infinito. Só que, diversamente dele, do Cosmo indiferente a nós, o nosso impermanente, assimétrico, impreciso e incompreensível mundo é finito. Ah, não é nosso esse mundo em que pensamos viver ou existir em egocentrismo tresloucado e amedrontado... Somente até a morte morrida ou matada. Ó senhores, para onde vai o espírito da vítima inocente atingida por bala perdida?... Façam suas apostas!...

* “(...) Trata-se do pedreiro Divino Marcos Campos Ribeiro, 37 anos, que recentemente matou um bandido que tentava roubá-lo, em São Cristóvão. Além do criminoso que foi morto, Divino baleou outro ladrão, comparsa do morrera minutos antes. (...) O empreiteiro de obras foi autuado em fragrante e levado para Delegacia de Homicídios (D.H), na Barra da Tijuca, Zona Oeste, onde o caso está sendo investigado. Segundo o delegado Edson Henrique, da D.H, apesar de ter sido em legítima defesa houve flagrante de um homicídio, e o caso será analisado pela Justiça.” (Fonte: Jornal O DIA)

2 comentários:

Rose Prado disse...

Não se pode dizer que a história humana seja pacífica. Desde os primeiros tempos o som das armas pode ser ouvido. Primeiro o baque seco e nervoso da pedra atirada a esmo. Depois, o impacto do projétil arremessado com a precisão do cálculo, como um felino que salta de um lugar para outro. Neste intervalo, o som de ossos, galhos, pedras, usados como machados e bordunas reverberaram contra o solo e o corpo de inimigos.

Quando o fogo apareceu também foi usado na guerra onde ainda hoje causa destruição. O fogo foi manipulado física e quimicamente para produzir resultados cada vez mais letais. O fogo das bombas atiradas pela fortalezas voadoras pode destruir cidades inteiras, mas o fogo nuclear é ainda mais poderoso. No Japão, sobre Hiroshima e Nagasaki, vaporizou o corpo de pessoas, como um pequeno sol queimando próximo.

Não temos confirmação se há vida em outros planetas,mas se houver,desejo que não aprisionem, por motivos fúteis, a vida de seus povos. Se for assim, como aqui, certamente, eles também darão vazão à suas fúrias. E ela se manifestará pela forma inequívoca da violência.

Beijos para você, Emir.

Paulo Xavier disse...

Quanto mistério! Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? O que viemos fazer aqui?
À medida que o homem avança em busca dessas respostas, proporcionalmente crescem a violência, a intolerância, a ganância, a falta de ética... Essa leitura me fez voltar a 1980, quando li Albino Forjaz de Sampaio, com o polêmico best-seller "Palavras Cínicas" onde ele dizia: De que hei de falar-te? Da vida? Pois seja. Tu vens para ela, para o imenso "brouhaha". A vida é a escola do cinismo. Trazes coração? Esmaga-o ao entrar como uma coisa que nos avilta. Se acaso és bom, tolice, não venhas. Aqui para triunfar é preciso ser mau, muito mau. Sê mau, cínico, hipócrita e persistente que vencerás...
É lógico que não concordo e não ajo dessa forma, mas onde está a verdade quando religião e filosofia , por exemplo, muitas vezes afirmam verdades antagônicas.