sábado, 23 de janeiro de 2010

Sobre o acantonamento das UPP

Todo sistema há de ser dinâmico para sobreviver. A renovação é imperativa ao sistema aberto. Mesmo uma obra feita em concreto armado, se não receber manutenção continuada, tende à entropia e ao desmoronamento. Cientistas são unânimes em assegurar que a obra do homem no planeta Terra despareceria totalmente em dez mil anos de ausência humana. Parece, a princípio, um tempo absurdo. Afinal, dez mil anos são cinco vezes o tempo do nascimento de Jesus Cristo no calendário cristão. Mas imaginamos aqui os cinco bilhões de anos que o planeta tem desde que era uma bola de fogo, idade que torna os dez mil anos um átimo. Portanto, a homeostase do sistema deve ser constante e dinâmica. O ostracismo é um perigo à homeostase de qualquer sistema, em especial o sistema humano. Mesmo o corpo, se permanece em repouso, deteriora-se antes do tempo. Do mesmo modo, há de haver o equilíbrio das coisas, pois “o excesso em tudo é um defeito” (autoria desconhecida). Ou, como nos ensinou Horácio (Sátiras, I, 1, 1060): “Há uma medida nas coisas”.
Introduzo deste modo para falar das ocupações. Vejo-as, numa primeira fase, como resultado das operações do BOPE, sempre na medida certa r eficazes quanto aos seus fins imediatos. O BOPE, porém, não é tropa de permanência, mas de combate e eliminação. No caso particular das favelas ocupadas por UPP, as ações do BOPE foram eficientes (a estrutura do BOPE é compatível com os objetivos a alcançar) e eficazes (os resultados alcançados correspondem aos objetivos estabelecidos). Até este ponto, podemos nos acalmar, o BOPE é efetivamente uma tropa típica de “Comando” (“Grupo militar especializado em missões rápidas em território hostil.” – Aulete).
A tropa de ocupação, todavia, representa o contexto mais delicado dessas operações policiais. Fixada no terreno, sua missão de desdobra em duas vertentes básicas: defender a comunidade contra as prováveis investidas paramilitares do tráfico e manter a ordem pública na favela por meio de ações preventivas e repressivas constantes, por imposição do próprio ambiente favelado. No primeiro e no segundo casos há de haver seletividade do uso da força de modo a evitar as surpresas que ocorrem constantemente nas ruas e logradouros asfaltados. São inúmeros os ataques de surpresa e assassinatos de policiais fardados, em viaturas caracterizadas, perpetrados por bandidos que agem como terroristas. Como a tropa de ocupação tem de ser fracionada em escalas e percorrer pontos diferentes e distantes das favelas ocupadas, manter efetivos compatíveis com o policiamento preventivo e repressivo e, principalmente, com os riscos futuros de ataques de grandes contingentes de facínoras, é fundamental ao êxito do subsistema denominado UPP. E tarefa difícil... Eis onde mora o maior perigo, pois é certo que o improviso é marcante no processo de ocupação, a começar pelo aquartelamento disponibilizado para tal fim: contêineres.
Tenho dúvida sobre o caráter permanente das UPP. É, contudo, a proposta anunciada e efetivada até agora. Claro que, presumo, os contêineres são temporários. Não resumem o que se poderia denominar aquartelamento, embora eles existam, pré-fabricados em aço, como demonstram as imagens feitas no Afeganistão (Cabul). As fotos são reais e obra de um sobrinho meu que esteve por lá como integrante da Legião Estrangeira. É possível, pois, comparar um autêntico quartel de aço com um contêiner. O primeiro é para abrigar pessoas; o segundo é para transportar carga (“Contêiner. Receptáculo de dimensões, materiais e formas diversas destinado a acondicionar mercadorias a serem nele conservadas ou transportadas em navios, trens etc; cofre de carga.” – Aulete).
Com efeito, a dúvida faz sentido quanto à capacidade de movimentação do efetivo fracionado nas ruas e vielas das favelas, de modo a manter a ordem e ainda proteger a comunidade contra os ataques de fora, que, por sinal, podem ser direcionados primeiramente contra a guarnição fracionada quiçá aquém do imprescindível. É preciso fixar mui bem a preocupação para que não digam depois que não sabiam... Faço-o, pois, a partir do conjunto de fotos dos contêineres da UPP da Ladeira dos Tabajaras e o quartel de aço de Cabul. Que o
leitor conclua o resto!...

LADEIRA DOS TABAJARAS:





Cabul:






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