sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

As ocupações sob a ótica de Zuenir Ventura

Às vezes recebo orientação de amigos para ser mais lerdo na postagem, espaçando os artigos semanalmente. Ocorre que vivemos num mundo quântico cuja velocidade é a da luz. Os acontecimentos são multivariados e multifacetados, o que nos obriga a imprimir velocidade às nossas reflexões. Não digo que isto ocorra sempre. Agora, porém, não posso evitar de tratar o tema sob a minha ótica porque, no mínimo, tento me igualar à velocidade da mídia. Se assim não o fizer, o leitor e eu perderemos a cronologia dos fatos e olvidaremos suas sutilezas. Vejam então o importantíssimo artigo de Zuenir Ventura, que bem demonstra a sua independência em meio ao animado foguetório aceso pelo próprio jornal do qual ele é articulista.


O artigo de Zuenir Ventura é retrato de mestre. A começar pelo título “Primeiro passo”, limite que ele sabiamente estabelece para as ocupações policiais de favelas, deixando evidente que se trata de medida dependente de muitas outras para se fixar positivamente no espaço e no tempo. Tem ele razão, pois que, executada a repressão policial e expulsos os quadrilheiros do tráfico, a ocupação somente pode oferecer prevenção e repressão inerentes à cultura policial. Em princípio, a polícia não existe para outra coisa, e cobrar dela funções desviadas de suas finalidades precípuas não parece razoável. Claro que o beque pode avançar no momento do escanteio e fazer um belo gol. Mas ele deve retornar ao seu posicionamento original, senão o bom resultado para o qual ele casualmente contribuiu pode culminar em fragorosa derrota ao final do jogo.
Segundo a observação de Zuenir Ventura, como se pode depreender do artigo, há de haver uma “invasão social” complementando a “invasão policial” resgatadora do seu próprio território perdido para as forças criminosas. O mestre esgota o assunto, exceto numa consideração que faz. Refiro-me à preocupação dele com a ação desses traficantes no asfalto para efetuar “ganhos”. Quanto a isso, malgrado o descontrole de alguns pés-de-chinelo, traficante que se preza quer mesmo é traficar e se integra a um sistema maior que ele: o dos fornecedores nacionais e estrangeiros. Por isso não é difícil concluir que ele primeiramente buscará abrigo entre seus facciosos amigos instalados na periferia ou em cidades circunvizinhas. Afinal, traficante possui dinheiro e apoio dos maiorais produtores da droga. Ele pode esperar, acomodado nos meandros do crime organizado, até entrar novamente em cena...
Creio que até os elogios à autoridade gestora da segurança pública são merecidos, não pelas escolhas dos locais de ocupação, que são nitidamente endereçados a interesses maiores da mídia com a Copa do Mundo e com as Olimpíadas. Até lá, todavia, há um largo tempo para o Estado exercitar as políticas públicas de resgate por inteiro da cidadania do favelado. Como alerta o mestre Zuenir Ventura, o “vácuo” deixado pelo Estado precisa ser preenchido e mantido. Quanto ao restante de suas impressões, não há reparo a fazer: as ocupações, sob o aspecto da estratégia, da tática e da operacionalidade da instituição PMERJ merecem aplauso. Lembrando, porém, e sempre, que não bastam os exemplos bem-sucedidos e restritos a poucas favelas dentre muitas que sofrem do mesmo mal e que merecem igual atenção.

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