quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Sobre a ocupação de favelas pela PMERJ


Em se tratando de PMERJ, tenho muito temor de ufanismos midiáticos temporários enchendo a nossa bola. Vejo sempre o outro lado da moeda: as indefectíveis maledicências da imprensa ao fim e ao cabo de tudo. Refiro-me às reportagens do Jornal O GLOBO elogiando as ocupações em favelas e projetando a imagem (não sei se verdadeira ou falsa) de um impacto formidável na segurança comunitária, até influenciando positivamente no valor de aluguel e venda do casario simples que reflete aos nossos olhos a desoladora paisagem favelada.
Para mim, no fundo, creio que o SISTEMA GLOBO está de olho no lucro com a Copa do Mundo de 2014. E a INFOGLOBO magistralmente faz a sua parte no grandioso lobby, decerto se antecipando no elogio de uma ação que pode efetivamente vingar: as ocupações de algumas estratégicas favelas pela PMERJ têm sido certeiras. Também este segmento da imprensa especula em otimismo sobre o custo material do fabuloso empreendimento, sem, entretanto, ultrapassar os números frios de um dinheiro que não inclui o PM senão como mera quantidade de seres amorfos.


Com efeito, o SISTEMA GLOBO parte do falso princípio de que o PM é otimamente treinado, ganha bem, tem casa própria, come em abastança, vê os filhos estudando em bons colégios, não se desvia na conduta, é bem-visto pela sociedade, pode passear pelas ruas, fardado, com seus filhos nas mãos ou no colo, pode pendurar a farda no varal de sua casa alugada etc. Resumindo, seria um perfeito PM enquadrado na “Teoria Y” (Douglas McGregor, psicólogo social americano), ou, reduzindo ainda mais o raciocínio: o Rio Janeiro, para o PM (somente o destinado a tal alvitre global), seria já agora uma ilha tal qual a Utopia de São Sir Thomas More...
Ora bem, a ocupação está funcionando a contento, é o que o jornal O GLOBO nos informa. Porém, a cada uma que ocorre os traficantes migram para locais desconhecidos. Considerando que a matéria não pode ocupar um mesmo espaço ao mesmo tempo, é de se indagar aonde irão se alojar tantos bandidos “excluídos” de suas “comunidades-homizios”. Mas está certa a PMERJ ao permitir a rota de fuga. Sun Tzu, em sua Arte da Guerra, recomenda não acuar o inimigo, ele se torna forte e perigoso no contra-ataque. Mas chegará o dia em que eles estarão apinhados em algum ponto, serão numerosos e não terão como escapar para outro lugar. E haverá o contra-ataque...
Devo dizer, sem ufanismo, que a primeira ocupação feita em favela ocorreu durante o meu comando à frente do 9º BPM, nos idos de 1989/1990. Consegui expulsar os traficantes da favela Para Pedro, situada em Colégio, Zona Norte. Ocupar é fácil; manter é que é problema. Depois que deixei o comando, e ao mudar o governante (saiu Moreira Franco e entrou novamente Brizola), o novo comandante do batalhão desfez o policiamento que lá permanecia em tempo integral e os traficantes retomaram a favela, promovendo retaliações gravíssimas contra os moradores que antes assumiram a defesa da PMERJ. Eis o perigo!...



Favela Para Pedro - TCel PM Larangeira e Delegado de Polícia Dr. Wilson Vieira

Como projetar esse incerto futuro? Que medidas proativas devem ser implantadas para se evitar reações descontroladas? Aproveito para esclarecer que “proatividade” em Planejamento Organizacional significa “antecipação”, para evitar que a organização seja “reativa”. Não conheço o neologismo “pró-ativo” a não ser por sua conotação de “a favor da atividade”, o que é muito óbvio. O badalado “pró-ativo” não se ajusta muito convenientemente aos princípios da prevenção. A ocupação é medida preventiva (ação proativa) de largo e profundo alcance exatamente para evitar o aleatorismo das ações reativas no seu sentido mais violento (medidas repressivas). O neologismo, portanto, confunde mais que esclarece. Até porque às medidas preventivas (atividades permanentes e proativas: a regra), – que se antecedem às repressivas (atividades eventuais e reativas: a exceção), – todos devem ser “a favor” (“pró-“).
A par disso tudo, o SISTEMA GLOBO presta relevante serviço ao divulgar o bom trabalho da PMERJ. Mostra que nem tudo na corporação é má notícia, e que o PM é gente de carne, e osso, e alma, e espírito. As matérias elogiosas contribuem para elevar a auto-estima do PM e do favelado, e isto é bom em todos os sentidos. Ao vivenciar o drama favelado e servir de amparo aos cidadãos moradores em favelas, o PM sente-se verdadeiramente útil. É diferente de passear a pé, a cavalo, de carro, moto ou bicicleta pelas ruas na prevenção subjetiva, – e de certo modo discutível, – sob a ótica romântica de que o delinquente, em vendo o PM, não praticará seu delito...
Isto seria vero se existisse ao menos um PM em cada rua, quarteirão, bairro, via expressa etc. Impossível! Na favela, a interação é real. De um lado, o protetor, do outro, o protegido, com ambos tocando-se em cumprimento e conversando civilizadamente. Quem dera pudesse ser assim em todas as favelas e no asfalto! Sim, quem dera! Ah, mas não poderia existir, – como de fato existe, – a criminalidade violenta a propor o contrário à convivência social, o que implica considerar muitas escaramuças apenas adiadas enquanto os poderosos traficantes estiverem em “diáspora hodierna”, pelo menos até a Copa do Mundo. E depois?...


Bem, em minha fraca antevisão, – e como a Copa do Mundo ocorrerá em 2014, – há tempo suficiente para ocupar as favelas consideradas estratégicas, em especial as situadas na Zona Sul. Como há 700 favelas no Rio, no mais ou no menos, afora as cidades de seu entorno, os traficantes terão onde se acomodar em meio as suas respectivas facções. Claro que a decisão de acomodação dessas gentes cruéis virá dos grandes fornecedores alienígenas: os produtores da droga em larga escala. Portanto, não haverá problema, exceto para as populações de favelas ocupadas por bandidos, estas que ganharão mais bandidos em vez de ocupação policial, com muitos favelados cedendo suas moradias pelo terror das armas assassinas e se enfiando debaixo de pontes e viadutos. Por outro lado, para o planejamento funcionar a contento, necessário se faz combater milícias, de modo que elas não se proliferem e comecem a expulsar bandidos para lugares já apertados, instituindo assim o perigo da falta de rota de fuga apregoada por Sun Tzu. Sob pressão, as milícias tenderão à estagnação, instituindo uma falsa impressão de vitória da polícia contra uma criminalidade apenas recolhida em sua “forma cística”. Mal comparando, a ação policial seria como uma represa escorando um aguaceiro máximo e tendente a se romper.


É fácil perceber que a segurança pública já atua no campo tático e operacional de seu planejamento estratégico: ocupação de favelas consideradas ícones por sua localização em meio aos ricos, e repressão sistemática às milícias em favelas periféricas. O planejamento é inteligente. Atenderá por alguns preciosos anos ao interesse da mídia e das autoridades internacionais, cujos olhos já estão voltados para a nação brasileira como futura sede da Copa do Mundo. Tudo perfeito! Nem mesmo a mudança de governador, caso o atual não vença a próxima eleição, alterará o planejamento. Afinal, está legitimado pelo SISTEMA GLOBO...
Não há de haver plano de ação melhor que esse. Entretanto, uma ação dessa envergadura, obrigada ao acerto por mais de quatro anos, depende de recursos compatíveis, dentre os quais estão as gentes policiais – a raiz do problema. Pois até agora a insatisfação e a revolta contra o sistema governamental predominam na PMERJ, na PCERJ, no CBMERJ, na SEAP (Agentes Penitenciários) e quiçá na Guarda Municipal da Capital. Trata-se de situação psicossocial desfavorável e cumulada, para não se pensar que tudo é culpa do atual governante, embora ele responda por apreciável quinhão do problema. Vencido tudo isso, haveremos de chegar à Copa do Mundo em condições de assegurar o seu sucesso e muito lucro. Caso contrário... Ora, o futuro a Deus pertence!...

Um comentário:

Unknown disse...

venho aqui fazer uma sugestão,porque não o cmt geral ser eleito pelos praças e oficiais da propria corporação,assim teria como o mesmo reivendicar mehores salários.Enquanto o mesmo for cargo de confiança do governador,jamais o cmt vai bater de frente e com isso vamos sempre ganhar esse salário baixo.