segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Sobre as eleições de 2010


"O poder cerca-se de enigmas e de áulicos. De protagonistas e de figurantes que escamoteiam a verdade mediana." (Nélida Piñon)









Num estado excessivamente intervencionista e sua consequente sociedade clientelista, a tendência das pessoas é a de esperar que as instituições governamentais decidam e resolvam todos os seus problemas. É caso do nosso país, que se moldou assim desde o Brasil Colônia, típico território partido em dois estamentos desproporcionais: elite e plebe.
Trata-se de sociedade piramidal, com hierarquia calcada na subalternidade das massas e na arrogância das elites glamourizadas pela mídia: os “famosos”. Unem-se, nesse tipo de sociedade, o poder e o dinheiro. Predominam na telinha da tevê, nas rádios e na mídia impressa o mesmo charme. O consumo é a tônica da vida social, a ostentação ocupa toda a imprensa, não dando espaço para mostrar convenientemente a dura realidade da pobreza e da violência que atingem os menos favorecidos: milhões de almas.
Uma sociedade desse molde é propícia à proliferação do crime em todos os seus matizes e texturas, destacando-se os delitos entre os situados nas camadas mais baixas da sociedade, cuja representatividade em presídios chega a ser grotesca. Cadeia não foi feita para ricos de mesmos nomes de família que se formaram no Brasil Colônia e alcançam os arranha-céus de hoje: o mundo das finanças e das maracutaias gravadas em palavras inacessíveis ao povoléu. Nesse mundo charmoso não há os “da Silva”, “dos Santos”, “de Oliveira” etc.
A ingenuidade do povoléu permite a proliferação de “religiões salvadoras” e de “jogos da sorte governamentais” (se particulares são de “Jogos de azar”) a arrepanhar as míseras moedas que circulam na base da pirâmide social. Assim, e de outras maneiras não menos finórias, o capital vai subindo, degrau por degrau, até se enfiar nas algibeiras já lotadas da elite. Para não se dizer, porém, que todo “jogo da sorte” é governamental, o “quarto poder” ocupa seu espaço a sortear carros e outros prêmios por via de ingênuos telefonemas que pagam o prêmio no primeiro minuto, ou então inventa programas e votações geradoras de altíssimos lucros por meio de telefonemas pagos.
Curioso é que a Igreja Católica, que desde a era Dutra abomina a abertura da jogatina no país, não abre a boca para alardear essa outra jogatina descarada, bem maior do que se aqui houvesse uma sucursal de Las Vegas. Não pode. Perderá a mídia e se isolará em meio aos fragmentos pós-modernos, e acabará comendo a poeira de outras religiões que compram canais de tevê e estações de rádio, ou então adquire horários extensos para anestesiar o povoléu temeroso do inferno e que não quer ser rico. O “Reino dos Céus” não é feito de ricos: “é mais fácil um elefante passar pelo buraco duma agulha”... E os pobres nascem, crescem, se reproduzem e morrem certos da salvação.
Em tempo de eleições, as esperanças renascem em meio à arraia-miúda das migalhas imediatas em troca de votos, hora de a elite dar aos pobres “o que é de Deus” (“Quem dá aos pobres empresta a Deus.”). E haja pó de pedra, manilhas, cestas básicas e quejandos incorporadas muitas vezes ao codinome do candidato: “Fulano da Cesta Básica”, “Beltrano dos Remédios”, “Sicrano da Ambulância”, e por aí retorna uma pequena parte das míseras moedas capitalistas que em pouquíssimo tempo subirão ao pódio das corruptelas licitatórias e novamente circularão entre os ricos e “famosos” de sempre, pois é certo que a casta vem do Brasil Colônia e vencerá os tempos e sobreviverá às mudanças, se houver...

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