sexta-feira, 26 de junho de 2009

O NOVO PLANO DE SEGURANÇA PÚBLICA

Mané Garrincha

“Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios.” (Carlos Drumond de Andrade)

Mané Garrincha

Seleção de 1958

A notícia veiculada no Jornal O GLOBO de 25/06/2009, informando sobre a implantação de um esquema de integração PCERJ/PMERJ para diminuir alguns índices específicos de criminalidade no próximo semestre, lembrou-me a Copa do Mundo de 1958 e a antológica recomendação do treinador Vicente Ítalo Feola (1909-1975) ao Mané Garrincha (1933-1883).
Numa reunião para estabelecer sua tática visando a vencer a partida, se não me engano, contra a Rússia, Feola orientou Mané Garrincha para driblar o lateral, ir à linha de fundo e cruzar para o centroavante Vavá fazer o gol. Mané Garrincha, de modo simples, como era seu estilo, indagou do Feola se ele combinara o ardil com o lateral adversário...


Belini, Feola e Gilmar

Não há dúvida de que a ideia do Feola era exequível. No caso, tinha tudo para dar certo, o craque seria capaz de cumprir a tarefa arrasando qualquer marcador, qualquer “João”, como ele costumava nominar seus marcadores estrangeiros.
Por outro lado, a indagação do Mané Garrincha sintetizava uma sabedoria sem par. Afinal, há metas que não podem ser cobradas como favas contadas. Era o caso do Feola versus Mané; é o caso do “novo plano de segurança pública” anunciado com pompas de solução mágica pelo governante e pelo dirigente da segurança pública do RJ, ainda complementado pela oferta de prêmios em dinheiro para quem alcançar as tais “metas”. Bem... Tomara que dê certo!

Mas o inusitado plano me impõe gravar duas indagações:

1) Parodiando Mané Garrinha: “Combinaram com os jogadores do time do mal?”

2) “Que ocorrerá com quem não conseguir cumprir as metas e perder os jogos?”

Porque uma coisa é certa: em time que não vence jogador não ganha prêmio; é vendido para time pequeno, e, muitas vezes, tem a carreira encerrada.
Ora bem... O contrato é de seis meses, tempo de campeonato com muitos jogos pela frente. E, embora eu não seja vascaíno, vou torcer pela vitória do time do bem.
Sou flamengo, mas não tenho uma nega chamada Tereza...
Humor à parte, desconfio muito de estatística, ainda mais quando se trata de cômputo de dados apenas sobre a criminalidade aparente (crimes relatados à polícia) e ignorada a conhecida “cifra negra” (crimes não relatados), que perturba a compreensão da realidade.



Também são significativas as denúncias de manipulação de dados estatísticos, possibilidade que torna essas intervenções limitadas em credibilidade. Que fique claro que essas suspeitas não são minhas, mas de pesquisadores eméritos! Por isso, espanta-me quando a estatística deixa de ser instrumento de apoio, apenas um dentre muitos que devem alicerçar o planejamento como processo dinâmico a se antecipar às ações neste mundo de incertezas. Passa de meio a fim, o que não é aconselhável em se tratando de Administração contemporânea.
Por outro lado, a criação de grupos integrados de PMERJ/PCERJ, seja lá com que fim, é medida salutar. Ninguém será capaz de apertar as mãos ou abraçar alguém à distância. Aproximar em interação permanente os integrantes das duas polícias tem tudo para dar certo; aí sim, o sistema pode alcançar um nível maior de eficiência (estrutura) e eficácia (resultados) contra a criminalidade organizada ou isolada, se é que existe a segunda hipótese além dos poucos casos fortuitos.
Contudo, apoiar a intenção de diminuir a ocorrência de determinados tipos de crime, pondo a estatística como um fim, além de sugerir premiações, implica considerar o seu inverso neste mundo de contrastes. Se não houver prêmio, é de se supor que haverá castigo. E logo um castigo é absurdamente anunciado: desarmar os integrantes dos Corpos de Bombeiros Militares, Forças Auxiliares Reserva do Exército Brasileiro, muitos deles Policiais Militares a exercerem nesta organização a atividade de soldados do fogo Brasil afora.
A alegação governamental, insistente e absurda, depende de mudar a Carta Magna e as Leis Federais referentes, incluindo-se o Estatuto do Desarmamento. Nem me vou referir à Constituição do Estado do Rio de Janeiro e seus ditames proibitivos da DISCRIMINAÇÃO. Demais disso, os Bombeiros Militares são tão Militares Estaduais quanto os Policiais Militares, sem quaisquer ressalvas constitucionais ou legais.
Tudo isto torna os discursos contra os valorosos soldados do fogo uma cruel generalização da exceção (Não há tantos bombeiros militares envolvidos em milícias, não mais que outros agentes públicos policiais civis e militares e quejandos). Pelos discursos, calcados em “acordos”, a impressão que fica é a de que essas autoridades federais e estaduais estão se lixando para o Estado Democrático de Direito e para as leis vigentes no país. Aliás, como eu venho insistentemente denunciando, eles agem em consciente aceitação da ANOMIA. Parecem reeditar o “Rei Sol” Luiz XIV de Bourbon e seu histórico e indefectível L'État c'est moi. Irra! Arrenego!... Não cuidam esses anômicos personagens políticos de que o vento que venta pra cá poderá ventar pra lá!...




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