segunda-feira, 25 de maio de 2009

Ideias fragmentadas

1) Sobre o Academicismo


“ACADEMISCISMO: O CEMITÉRIO DAS PALAVRAS MORTAS”
(
www.overmundo.com.br/perfis/tomazio-aguirre)


Sugiro a leitura do artigo desdobrado em dois textos, com título acima; e não me canso de dizer: gosto muito de ler. Leio tudo de tudo. Sou deveras curioso. Mas prefiro ficções e opiniões livres, relevando as críticas elegantes e muita vez apimentadas, porém sem ofensas pessoais e assumidas em transparência (vejo como pernicioso o anonimato). Creio serem elas mais autênticas do que textos pintados com a tinta da imutável erudição academicista. Estes são geralmente chatos; nada trazem além de fragmentos de supostas pesquisas realizadas aqui, ali e acolá por alguém, que, por sua vez, no seu texto se refere ao mesmo alguém que o virá a citar posteriormente, – e vice-versa, – reduzindo-se tudo a uma vasta bibliografia produzida em tempos e ambientes mutáveis e dissonantes entre si. Vejo o fenômeno como um círculo vicioso que, em descontrolado vórtice, nos atordoa e tende a se engolir a si mesmo.
Contudo, – e para sorte nossa, – há autores que não se incluem nesse modismo. São aqueles que vão ao cerne das questões que lhes interessam pesquisar, enfiam-se no problema e, escudando-se de influências perniciosas, informam uma realidade exaustivamente buscada. Não se vendem ou se rendem a dogmas e ideologias nem se entregam em cegueira a observações alheias. São os Acadêmicos e Professores com “A” e “P” maiúsculos.
Os mestres existem, sim, em todos os ramos das Ciências Sociais. Não estacam a mente; evoluem em seus pensamentos, vivenciam, reavaliam posições, admitem falhas e as corrigem; não se consideram donos da verdade. Afinal, não é simples concluir verdades no complexo cenário da convivência social. O que é real agora poderá não o ser logo em seguida e num mesmo lugar. Em ambientes diferentes, mais ainda a realidade é multifacetada, se é que existe alguma realidade neste mundo quântico em que vivemos.
Leio muitos textos acadêmicos; alguns são primorosos e nos ensinam; são geralmente aqueles em que os autores se preocupam em informar suas pesquisas sem a preocupação de atribuí-las a terceiros. Mas os que desenvolvem cada parágrafo do seu texto em função de alguém, citando-o para avisar que lhe conhecem a obra, acabam não construindo nenhuma ideia própria. Apenas promovem uma junção nem sempre perfeita de vários fragmentos de outros autores de igual naipe, até desvalorizando o que talvez tenham vivenciado. Produzem, deste modo, um texto chato, inexpressivo, sem início, meio e fim. Não concluem nem contribuem para absolutamente nada. E me obriga a reclamar desse nada que de quando em quando me vejo a ler como um garimpeiro atrás de ouro onde ele não existe... Há, sim, ouropel a confundir e nos fazer perder tempo...
Reclamo, pois, para distinguir essa turma dos bons autores, em especial os que, em sendo renomados escritores de obra vasta e profunda, põem ideias rápidas em jornais e revistas e nos deliciam com autenticidades. Como exemplo desses que nos salvam dessa “unanimidade burra” (Nelson Rodrigues, 19..., eis como aqueles outros o fazem), basta sublinhar o mestre João Ubaldo Ribeiro e sua crítica à frase saída do boquirroto de alguma autoridade pública: “Não há razão para pânico”. Quem não leu o artigo, que se vire e consiga o Jornal O GLOBO do dia 17/05/2009 (domingo) e se vá deliciar. Mas, como talvez o exemplo não baste, posso acrescentar Arnaldo Jabor ou Luiz Fernando Veríssimo ou Roberto da Matta ou Kant de Lima ou Dennis Lerrer Rosenfield e muitos outros mestres que nos ensinam e alertam sem encher o nosso saco com tautologias. Deste modo curto e grosso, dou aos que indistintamente critico o direito de enfiar na cabeça a carapuça do repeteco alheio como iniciativa própria. O problema dessa turma, porém, será o de localizar a própria cabeça...

2) O absurdo de ser PM no atual RJ



Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: é o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida, é responder a uma questão fundamental da filosofia.” (Albert Camus)



Li em Camus que o maior absurdo é o suicídio. Eu já entendo ser absurda a dúvida (dilemática) de que o Universo tenha começado com o big bang ou teria sempre existido, o que, de certo modo, dá no mesmo: para haver o big bang, haveria de haver algo antes. Mas, o quê? Daí, creio ser maior absurdo a contradição da existência, que conceituamos como “humana”, para diferenciá-la da existência “animal”, como se nós, “humanos”, não fôssemos também “animais”.



A questão da racionalidade ou da irracionalidade é curiosa. Os animais se comunicam a seu modo; nós, humanos, também. No nosso caso, “sabemos” o que fazemos porque “pensamos”; e fazemo-lo erradamente; os animais, que “não pensam”, acertam sempre em se tratando de desfrutar da Natureza na medida exata de suas necessidades. Muitos dos animais “irracionais” alimentam-se de carne; os “animais humanos”, “racionais”, alimentam-se de carne. Enfim, pouca ou nenhuma diferença. Em se tratando de conhecer o Universo em sua infinitude, racionais e irracionais se igualam: nem eles nem nós sabemos absolutamente nada. Tudo se resume, portanto, ao absurdo de existirmos sem saber para quê.
Se imaginarmos o Mal como absurdo, para destruí-lo os pregadores do Bem se utilizam do mesmo Mal, igualando-se assim o que seriam extremos opostos. Sim, eis outro absurdo: para o Bem triunfar do Mal, há de se igualar ao segundo em valor e ação: Bem=Mal=Bem=Mal. Absurdo! Pois épocas houve em que a fogueira queimava maldosamente o Mal em nome do Bem; ou afogava o Mal personificado na pessoa marcada para morrer em nome do Bem. Absurdo!
Enquanto a eterna luta do Bem contra o Mal acontece em seus matizes e texturas infindáveis, ao longo dos tempos o dilema persiste: houve o big bang ou o Universo sempre existiu e sempre existirá?... Jamais saberemos. Sabemos, todavia, que o planeta Terra um dia findará, e nós findaremos, e o dilema persistirá no vazio, pois, entre essas duas alternativas inalcançáveis, portanto penosas, está o nosso orbe com seu tempo contado, não importa qual, mas limitado em relação ao espaço-tempo universal e incompreensível. Eis o meu absurdo! Eis o absurdo que já levou ao suicídio muitos que não suportaram esperar o esgotamento do seu tempo ínfimo, menos que um átimo em relação à eternidade dos tempos: o absurdo de Camus. É, no fim de contas, tudo absurdo!... E, nesta ótica, optar atualmente por ser PM no Rio de Janeiro não seria na essência uma tentativa de suicídio? Ou seja, não seria um belo exemplo do absurdo filosoficamente insinuado por Camus?... Ou seria tão-somente uma ilusória piada?...

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