sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Sobre a liberdade de ler e escrever


Gosto de ler; leio tudo que me aparece; até bula de remédio eu leio no banheiro. Sentar no “trono” sem ler algo é, a meu ver, perder tempo. Mas não há como nos livrarmos da obrigação de expelir nossos dejetos, suores e impurezas urinárias. O corpo humano é sistema aberto, recebe insumos, processa-os e os expulsa numa dinâmica que cessa com a morte. Nem tanto assim: depois da morte, o corpo serve de alimento aos vermes, e os vermes servem de alimento a outros vermes, e os vermes alimentados que se arriscam a ver o sol são devorados por algum bicho terreno ou alado. E assim a vida segue, o tempo escorre, e nada mais se deve fazer além de aproveitá-la no seu máximo, cada um fazendo o que gosta sem prejudicar o outro. Ler não prejudica ninguém.
Gosto de escrever; escrevo tudo que me vem ao atino sem me preocupar com nada além do meu gosto. Escrevo primeiramente para mim. Jogo no lixo muita coisa que escrevo como jogo fora meus dejetos, suores e impurezas urinárias. Mas há momentos em que entendo, acertada ou erradamente, que algo que escrevi é importante, pode até salvar a humanidade etc. Sim, apaixono-me pelo que escrevo como se o texto me fosse a namorada. Ou detesto-o como se fosse um rival de mim mesmo.
Ponho o meu direito de escrever acima de tudo, não acima de todos. Uso o meu direito de escrever para concordar com o que leio ou peremptoriamente discordar de idéias alheias tornadas públicas por quem quer que seja. Não sou obrigado a gostar de muita coisa que leio. Dou-me a mim o luxo de muitas vezes “jogar fora” algum livro que imaginava bom por conta da publicidade a privilegiar seus autores. Mas não abomino nenhum autor, pois muitas vezes amo um texto de determinado autor e logo depois odeio outro texto dele mesmo. Esclareço as aspas: “jogar fora” significa doar o livro a alguém que possa talvez gostar daquilo que não me agradou.
Aceito humildemente as críticas de pessoas identificadas. Não dou bola para anônimos nem quando sou por eles eventualmente elogiado. Não vejo por que me ufanar com elogios nem me irritar com críticas anônimas. Fico com Schopenhauer quando ele diz no seu “Sobre o Ofício do Escritor”: “Nomeia-te, velhaco! Pois quem é honesto não ataca sob máscara e capuz pessoas que passeiam com a face descoberta”. Ele avança ainda mais na sua irritação, mas aqui é o que me basta.
Enfim, tenho site e blog porque gosto de escrever, e para mim é modo de não morrer. Também escrevo porque anseio me sentir útil à sociedade ou, pelo menos, a alguém, nem que seja a apenas um leitor, podendo este ser eu mesmo. Não invento isso, tento copiar Machado de Assis, que escreveu um recado ao leitor nas suas “Memórias Póstumas de Brás Cubas”: “Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinqüenta, nem vinte e, quando muito, dez. Dez? Talvez cinco (...).” Ora, quem sou eu para pretender mais de um leitor a me ler depois disso?
Por essas e outras, defendo os que escrevem independentemente de gostar do que escrevem ou da pessoa que escreve, caso eu a conheça. Penso que uma boa idéia pode salvar o mundo, mas só se for divulgada. Sinto pena dos poetas quando os vejo vendendo seus folhetins nos bares da cidade desde quando eram impressos em mimeógrafo. Não sei se estão vendendo a sua arte para sobreviver ou se a vendem para disseminar nos corações alheios suas emoções. Creio que muitos estão cobrando por sua arte apenas para valorizá-la. Coisa dada leva-nos a desconfiar do seu real valor.
Bem, seja lá qual for o argumento, vamos todos ler e escrever, nem que seja uma bula de remédio ou receita de bolo. Quantas receitas boas estariam perdidas no tempo se não fossem escritas? Ah, não suporto pimentão! Quando me vejo ante um alimento temperado com pimentão, fico nervoso. Nem por isso, todavia, abomino a receita. É só substituir o pimentão ou simplesmente excluí-lo da receita. Aí sim, o alimento fica ao meu gosto e eu o consumo para processá-lo dentro de mim e ganhar saúde. É o mesmo com um escrito. O que for saudável à minha mente, permanece; o que não for, esqueço. Mas pelo menos tento ler, como alguém deve ter lido este texto que pode não lhe ter acrescentado absolutamente nada, mas para mim diz tudo.. Ou também não me diz nada, não me importo, eu o escrevi e o pus no mundo. Viva a blogosfera!!!!

Um comentário:

José Ricardo disse...

Viva a blogosfera, principalmente a blogosfera policial, que vem quebrando paradigmas e mostrando a verdade sobre a Segurança Pública.