quarta-feira, 26 de outubro de 2016

VIOLÊNCIA URBANA NO RIO DE JANEIRO - A ESPANTOSA EXPANSÃO DO CRIME NO RJ



“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)

G1 RIO

23/09/2016 18h04 - Atualizado em 23/09/2016 19h37


 Rio teve mais homicídios em agosto em comparação a 2015.

Durante o período, Rio tinha esquema de segurança da Olimpíada.

Oitenta e cinco mil homens estavam mobilizados.

O Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro informou nesta sexta-feira (23) que, em agosto de 2016 foram registradas 386 vítimas de homicídio doloso - crimes onde há a intenção de matar - no estado, representando um aumento de 50 vítimas em relação ao mesmo período do ano anterior. Também chama a atenção no relatório o aumento dos roubo de rua: no acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve aumento de 41,7% (56.966 em 2015 – 80.731 em 2016).

O acréscimo no número de homicídios acontece mesmo com o reforço de segurança durante o período da Olimpíada. Segundo o Governo Federal, o esquema de segurança contou com 85 mil homens.

As áreas integradas de segurança pública (AISP) que apresentaram o maior número de vítimas foram as AISP 15 (Duque de Caxias), AISP 07 (São Gonçalo), AISP 24 (Seropédica, Itaguaí, Paracambi, Queimados e Japeri) e AISP 20 (Nova Iguaçu, Mesquita e Nilópolis) somando respectivamente 30, 29, 29 e 28 vítimas, 30% do valor total do estado. As AISP 02 (Catete, Cosme Velho, Flamengo, Glória, Laranjeiras, Botafogo, Humaitá e Urca), AISP 19 (Copacabana e Leme) e AISP 23 (Rocinha, Ipanema, Leblon, Gávea, Jardim Botânico, Lagoa, São Conrado e Vidigal) não registraram nenhuma morte.

As AISP 14 (Campos dos Afonsos, Deodoro, Jardim Sulacap, Magalhães Bastos, Realengo, Vila Militar, Bangu, Gericinó, Padre Miguel e Senador Camará) e AISP 20 (Nova Iguaçu, Mesquita e Nilópolis) apresentaram uma redução de, respectivamente, 17 e 8 mortes – apesar de ter obtido o maior número de reduções de vítimas no mês de agosto, a AISP 20, contraditoriamente, também apresentou o maior número de vítimas; e as AISP 04 (Catumbi, Cidade Nova, Estácio, Rio Comprido, Centro - parte, Caju, Mangueira, São Cristóvão, Vasco da Gama, Maracanã, Praça da Bandeira e Tijuca) e AISP 29 (Laje do Muriaé, Porciúncula, Natividade, Varre-Sai, Itaperuna, São José de Ubá, Bom Jesus de Itabapoana, Cardoso Moreira e Italva) apresentaram redução de 4 vítimas cada uma.

O ISP faz a ressalva que, apesar do aumento nas vítimas de homicídio doloso no mês de agosto, os últimos quatro meses apresentam uma redução dos números registrados no início do ano, quando foram, em média, 403 vítimas por mês. No acumulado do ano, porém, de janeiro a agosto, os números ainda indicam aumento de 17,4%.

Levando em conta o acumulado, também há aumento no índice geral dos chamados crimes de letalidade violenta (homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguida de morte, homicídio decorrente de oposição à intervenção policial), que subiram 18,5% de janeiro a agosto; no número de policiais mortos em serviço (25 entre janeiro e agosto), além do crescimento de roubos de rua (acréscimento de 41,7%).

Confira o resumo de alguns indicadores (janeiro a agosto de 2016):

• Homicídio Doloso – No acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve aumento de 17,4% (2.747 em 2015 – 3.224 em 2016).

• Letalidade Violenta (Homicídio Doloso, Latrocínio, Lesão Corporal Seguida de Morte, Homicídio Decorrente de Oposição à Intervenção Policial) - No acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve aumento de 18,5% (3.329 em 2015 – 3.945 em 2016).

• Policiais Civis e Militares Mortos em Serviço – Aumento de seis vítimas no acumulado de janeiro a agosto de 2016 (19 em 2015 – 25 em 2016).

• Homicídio Decorrente de Oposição à Intervenção Policial – No acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve aumento de 19,2% (459 em 2015 – 547 em 2016).

• Roubo de Rua (Roubo a Transeunte + Roubo de Aparelho Celular + Roubo em Coletivo) - No acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve aumento de 41,7% (56.966 em 2015 – 80.731 em 2016).

Indicadores de produtividade policial (janeiro a agosto de 2016):

• Armas Apreendidas – No acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve redução de 3,1% (6.237 em 2015 – 6.046 em 2016), sendo 198 fuzis.

• Prisões (Guia de Recolhimento de Preso) – No acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve redução de 4,1% (28.439 em 2015 – 27.281 em 2016).

• Prisões (Auto de Prisão em Flagrante e Cumprimento de Mandado) – No acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve redução de 4,0% (37.929 em 2015 – 36.416 em 2016).

• Apreensões de Adolescentes (Guia de Apreensão de Adolescente Infrator) – No acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve redução de 8,0% (7.034 em 2015 – 6.470 em 2016).

• Apreensões de Adolescentes (Apreensão de Adolescente por Prática de Ato Infracional e Cumprimento de Busca) – No acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve aumento de 9,5% (7.428 em 2015 – 8.133 em 2016).

• Recuperação de Veículo - No acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve aumento de 15,6% (16.116 em 2015 – 18.628 em 2016).


Revista VEJA

RIO BATE RECORDE DE ASSALTOS NO MÊS DA OLIMPÍADA

Apesar do aparato de quase 50 000 agentes de segurança espalhados pela cidade, período dos Jogos registrou o maior número de assaltos da história do estado.

Por Leslie Leitão 

access_time 23 set 2016, 20h43 



 
Mesmo com reforço de tropas militares, o estado do Rio de Janeiro registrou aumento no número de assaltos na Olimpíada (Ricardo Moraes/Reuters)

Ao final da Olimpíada, as autoridades de segurança respiraram aliviadas. José Mariano Beltrame, que comanda a pasta no governo fluminense há uma década, chegou a classificar a operação como bem sucedida. O delegado destacou a integração das polícias Civil e Militar com as Forças Armadas, Polícia Federal e Rodoviária e Força Nacional – totalizando um aparato de quase 50 000 homens – como grande legado desse sucesso. Beltrame só esqueceu da população do Rio de Janeiro, que mesmo com todo esse reforço sofreu nas mãos de assaltantes que atacaram como nunca. Agosto de 2016, o mês dos Jogos Olímpicos, que registrou a maior concentração de agentes de segurança de todos os tempos no Brasil, registrou também o maior número de assaltos em um único mês. Foram 17 255 roubos, seis mil a mais do que o registrado no mesmo período de 2015 (11 290).

Os números assombrosos foram divulgados na tarde desta sexta-feira pelo Instituto de Segurança Pública (ISP). Nos corredores da secretaria, as autoridades tentam se agarrar numa explicação para tamanho salto na violência: os quase 1,2 milhão de turistas que estiveram na cidade durante os Jogos, aumentando em 18% a população da capital. Uma análise mais aprofundada dos dados, no entanto, indica que esse crescimento de assaltos vem sendo registrado todos os meses. Como já havia mostrado o site de VEJA , o primeiro semestre de 2016 foi o pior da história , com 97 100 assaltos. Somados os meses de julho e agosto, já houve 131 198 roubos nas ruas do estado somente nos oito primeiros meses do ano.

O que impressiona na ineficiência do aparato de segurança para a Olimpíada é que mesmo nas áreas de competições os números de assaltos registraram aumentos significativos. Na área de Copacabana e Leme – que concentrava muitos turistas e contava com militares do Exército por toda a parte – os 147 roubos dobraram em relação a agosto de 2015 (71). No Leblon e em Ipanema o salto foi de 98 para 137. As regiões da Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes e Jacarepaguá, onde também houve grande concentração de pessoas em virtude da localização do Parque Olímpico, saltou de 475 para 521, enquanto a área englobando Maracanã e Tijuca teve 254 assaltos, contra 164 no mesmo mês de agosto do ano passado. O centro, que também lotou diariamente, em especialmente no trecho do Boulevard Olímpico, teve 606 ataques de ladrões, contra 425 do ano passado.

Como era de se esperar, fora do eixo olímpico a situação foi ainda pior. Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, aumentou de 1 101 para 1 836 roubos. Nas áreas que englobam vários bairros nos arredores dos Complexos do Alemão e da Maré, na Zona Norte, os números de assaltos somados pularam de 602 para 1 075. Até a Região dos Lagos também viveu dias de terror nas mãos de bandidos, registrando 233 assaltos, contra 100 de agosto de 2015.

O ISP forneceu dados e comparou os oito meses deste ano com o mesmo período do ano passado. E os números mostram a crise na qual a segurança mergulhou. Os homicídios aumentaram 17,4%: foram 3 224 assassinatos, contra 2 747 de 2015. O número de armas apreendidas caiu de 6 237 para 6 046, enquanto o de autos de resistência (mortes em confronto com a polícia) cresceu 19,2%, registrando 547 casos este ano, contra 459 do ano passado.

Nos corredores da segurança pública, o que se diz é que Beltrame está se despedindo após dez anos. Em dezembro de 2006, último mês antes de assumir a secretaria de Segurança, o Rio de Janeiro registrou 10 619 roubos (62% a menos que agosto de 2016). A expectativa é de que o secretário deixe a pasta após as eleições e sua ideia é fazer seu sub, o também delegado federal Roberto Sá, como sucessor.

MEU COMENTÁRIO

Gosto de desenvolver raciocínios rápidos no meu blog, em complemento a matérias jornalísticas, para que estas, bem mais do que infiro delas, sirvam de referência em estudos por quem tiver interesse em se aprofundar no tema segurança pública. No caso, juntei duas matérias de fontes diferentes e datadas do mesmo dia, como se pode depreender da leitura de ambas. Vejo como importante traçar um registro histórico deste modo, pois sei que há muitas conversas soltas que, por falta de dados concretos, culminam vazias de conteúdo ou descambam para ideologias e/ou maniqueísmos que se desfocam do problema específico.

Não digo que as reportagens se pautem pelo rigor científico nem se prendam a algum raciocínio globalístico. São apenas constatações imediatas, porém situadas num contexto real dentro de um espaço e de um tempo. Com base nesta percepção muitos leitores podem desenvolver raciocínios mais aprofundados e inclusive pesquisar in loco nas fontes de referência cujos créditos sempre acompanham meus comentários.

Aproveito para me desculpar por alguns atrasos nos comentários. É que não raro sou atropelado por outros acontecimentos pessoais que me impedem às vezes de ser mais diligente. Também por isso inverto casualmente alguma ordem cronológica, problema que pode ser facilmente superado pela impressão dos textos e sua arrumação conforme a data da publicação.

No caso presente, importa comentar sobre a dura realidade já muitas vezes detectada pela imprensa especializada em segurança pública: por mais que se massificasse o patrulhamento nos últimos meses, contando inclusive com reforços federais, a criminalidade não parou de crescer no RJ, em especial no Grande Rio e na Capital. Isto nos leva a uma conclusão imediata: o aumento dos meios materiais e humanos, se não for acompanhado de bom sistema de inteligência e de investigação policial sistemática, não alterará a expansão do crime. A verdade constatada nesse período de Copa do Mundo e Olimpíadas em que houve o reforço é a de que o crime permaneceu desenvolto e fazendo suas vítimas. Para não me estender, indago aos leitores: “Por quê?”

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