Desde que o mundo é mundo existem predadores de animais
vivos, e há os que se fartam apenas de carniça abandonada pelos que lutaram para
sobreviver. São muitos os predadores: quadrúpedes e bípedes, com ou sem asas. Dentre
os bípedes estão os racionais que realmente se alimentam de carne. Ocorre que, alegoricamente, muitos deles se alimentam de carniça... Interessa-nos este segundo grupo porque come uma
carne tão putrefata que não mais atende aos que abateram a presa, nem anima os que se
aproveitam da carniça antes de iniciar a putrefação. São os piores...
Sim, nesta última cadeia alimentar situam-se os comensais
do final da festa alheia. São eles, carniceiros racionais, que sempre aparecem
no seguro cenário de muitas lutas anteriores, assim se deliciando dos restos
decompostos e dos vermes trabalhadores da morte que só desaparecem quando os
ossos estão luzindo. Dentre esses carniceiros encontra-se um especial grupo
formado por nojosos políticos, cineastas, jornalistas, policiais, artistas etc.
Já por esta hora os leitores devem estar ávidos por saber
quem são as bestas-feras a que me refiro. Digo-lhes então que elas disputam
restos mortais com abutres, hienas, coveiros, agentes funerários e semelhantes,
que por determinismo natural ou função social vivem da morte alheia. Mas essas
bestas-feras, intrusas na cadeia alimentar, não merecem ver seus nomes
difundidos, pois é exatamente o que mais eles (e elas) almejam: a fama. Nem que por
um átimo...
Sim, interessa a esse ignóbil grupo humano a fama.
Para tanto, dependem da mídia, meio de comunicação onde a fama é disputada
palmo a palmo. Porque neste meio midiático a fama lhes traz dinheiro e poder, o
que faz com que os personagens inimigos da ética se incluam entre os comedores de
carnes podres. Nada demais. No fim de contas, todos se merecem...
Destaco, sim, o grupo midiático, porque sem o concurso
dele não há de haver fama alguma para ninguém. Daí é que todos se unem na causa
comum de comer carniça alheira. E como a podridão não os afeta, continuam enfiados
nela até limpar os ossos e chupar seus próprios dentes. E aí... Bem, aí sim, vão
buscar nova carniça num ambiente que, naturalmente, sempre será servido dela
pelos fortes que se alimentam de carne fresca conquistada a suor e sangue.
Vamos ao cerne...
De uns tempos para cá alguns cineastas de segunda
linha vêm criando documentários sobre chacinas, desde que os acusados, com ou
sem provas, sejam policiais, de preferência PMs. Cá entre nós, é fácil fazer
isto, basta expor algumas fotos dos mortos, sempre chocantes, ouvir suas
parentelas e entrevistar algumas personalidades ligadas aos direitos humanos,
nem tanto por se preocuparem com direito humano algum, mas porque se trata de
nicho deveras lucrativo.
Daí é que esses cineastas “exumam” os corpos mortos
(vítimas de chacina) e trazem à lembrança pública o horror do passado, com o
objetivo tão-somente de cumprir a agenda subvencionada com verbas públicas,
diretamente, ou pela isenção de impostos, o que ao fim e ao cabo dá no mesmo.
Enfim, não arriscam um só centavo de suas algibeiras na busca de fama, poder e
dinheiro à custa da desgraça alheia.
Não me vou aqui reportar aos nomes desses cineastas e
midiáticos nem das personalidades civis e militares de sempre que são postas por
eles em frente dos holofotes. Nem sei se gratuitamente, mas é até possível,
pois a estes (ou estas) nada mais interessa que fama.
Também não me vou, por enquanto, me reportar às chacinas
que eles (e elas) escolhem, nem aos vilões que destacam em ira, sendo certo que
sou o principal deles porque sou, fui, e sempre serei defensor do que entendo
ser o lado do Bem, este, representado por bons policiais defensores da
sociedade com o risco da própria vida, não da sociedade toda, mas dos seus segmentos que
entendem ser o banditismo um Mal a ser eliminado nos termos de Jean-Jacques
Rousseau (Do Contrato Social):
“(...). De
resto, todo malfeitor, ao atacar o direito social, torna-se, por seus delitos,
rebelde e traidor da pátria; cessa de ser um de seus membros ao violar suas
leis, e chega mesmo a declarar-lhe guerra. A conservação do Estado passa a ser
então incompatível com a sua; faz-se preciso que um dos dois pereça, e quando
se condena à morte o culpado, se o faz menos na qualidade de cidadão que de
inimigo. Os processos e a sentença constituem as provas da declaração de que o
criminoso rompeu o tratado social, e, por conseguinte, deixou de ser
considerado membro do Estado. Ora, como ele se reconheceu como tal, ao menos pela
residência, deve ser segregado pelo exílio, como infrator do pacto, ou pela
morte, como inimigo público, pois o inimigo dessa espécie não é uma pessoa
moral; é um homem, e manda o direito da guerra matar o vencido.”
E mais ainda:
jamais permiti que cães ladrassem em ira doentia à passagem da minha carruagem
em defesa do Bem. Afinal, considero-me “Cão Pastor” a proteger indefesos
rebanhos de ovelha contra os ataques de dissimulados lobos travestidos de cordeiros, ou contra o avanço
de hienas, abutres e bestas-feras ditas racionais, mas que se alimentam de
carniça e de almas mortas. Nem lobos ou lobas eles e elas são...
Quem são eles (e
elas)?...
Bem, são os
de sempre: grupo pequeno e permanente nos desdobramentos cinematográficos de
temas que põem a polícia na berlinda de modo desairoso. Refiro-me, sim, à
pequenez deles, porque prova que eles não representam nada além do interesse
deles próprios, ou seja, a descarada exploração da desgraça alheia.
Onde eles estão?...
Bem, estão
inseridos na própria polícia, na imprensa, no meio artístico, na política, no
meio ministerial e judicial e em outros segmentos afins. Mesmo assim, reafirmo,
são poucos. Não representam a maioria; não têm feitos nem feitios; nem sequer
fazem jus a algum mérito de defensores das classes menos favorecidas. Porque
são estas as mais atingidas por tragédias ligadas a uma criminalidade que
floresce porque não é tratada como deveria ser pelo Estado, cuja função-síntese
é a defesa do cidadão e da sociedade para que ela prospere num ambiente de paz.
Mas como isto é utopia, o crime a mais e mais prospera neste ambiente social
que exala o miasma em vez do perfume; e as matanças a mais e mais se sucedem; e novos
corpos tombam mortos; e são devorados da forma como alegoricamente tentei
descrever. Eis o Mal, que era assim ontem, é assim hoje, e o será amanhã...
A sociedade
sadia, que é o todo perfumado, só precisa estar atenta ao miasma deles para
combatê-los eficazmente...
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