Assisti a
uma peça teatral em Paty do Alferes. E eu, que nem sabia haver teatro por aqui?...
Mas vamos à peça... Genial! O autor e ator principal, idoso como eu, foi
coadjuvado por um jovem não menos talentoso que ele.
Com duração
de uma hora e meia, no mais ou no menos, a encenação foi emocionante. Em
momento algum os protagonistas esqueceram o texto. Encenação sem dúvida
arduamente treinada, os diálogos foram perfeitos, assim como a expressão facial
e corporal de ambos, tudo precisamente conectado ao enredo.
Pelo que pude
inferir, o enredo foi inspirado em Pablo Neruda, com poucas pitadas de Machado
de Assis e Jorge Amado. Também me pareceu que o ator pôs no palco algumas vivências
dele, infantis e juvenis, e também do período adulto em que foi paraquedista.
O bem
elaborado cenário, formado pelo nylon de dois ou mais paraquedas, completava-se
com material de camuflagem utilizado pelas Forças Armadas. Mas as cortinas de
nylon da retaguarda serviram para uma bela encenação, pelo jovem,
transformando-a em cruz para que ele personificasse o Cristo crucificado.
Excelente e
emocionada encenação!...
Já o
personagem central, aparentando 70 anos de idade, interpretou a sua parte com
uma só roupa: um pijama ostentando ao peito algumas medalhas de mérito militares,
forjando assim o militar “de pijama”. O jovem ator permaneceu por quase toda a
peça com uniforme militar e botim marrom, este, específico de militar testado
em salto de paraquedas. Só no final ele ressurge com pijama idêntico ao do seu
“eu” mais velho, com o qual se confunde numa só pessoa forjando uma só pessoa.
Impressionou-me,
sim, a riqueza interpretativa dos personagens significando uma só pessoa em
dois momentos da vida, o mais jovem questionando permanentemente o mais velho,
com este se defendendo sem muita convicção.
Insistia em
valorizar sua conduta moral como fundamento de sua questionável felicidade, reclamando
veementemente da desatenção familiar e da solidão que recebera como pagamento
por seu modo de vida pautado em valores importantes, porém somente para ele,
dentre os quais não se incluía o amor.
E por mais
que ele se defendesse mais se atolava ante as críticas que recebia do seu “eu”
mais jovem, acabando por admitir ter tido amante na vigência do seu casamento.
Enfim, o perfil de Pablo Neruda embutido na trama, ainda reforçado pela
indicação de um câncer de próstata, causa
mortis do poeta chileno questionada por familiares que ainda hoje insistem
em assassinato promovido pela ditadura de Augusto Pinochet.
Mas a
excelência da peça não logrou lotar o pequeno teatro. Num município com aproximadamente
28 mil habitantes, esperava-se um teatro cheio, já que reduzido, talvez, a mais
ou menos cem lugares. Mesmo assim, o teatro estava vazio. Que pena! O povo de
Paty do Alferes perdeu ótima oportunidade de assistir a um espetáculo de
altíssimo nível cultural. Ou então faltou divulgação ou, pior, o povo não
estava à altura dele...
Prefiro crer
que falhou a difusão, eu mesmo não ouvi nenhum carro com serviço de
autofalante, tão corriqueiro em Paty do Alferes, avisando ao povo pelas ruas.
Que fazer?...
Um comentário:
Também não percebi divulgação a respeito. É normal no Brasil. Faz-se propaganda daquilo que não presta, do mau gosto, da grosseria, da falta de estética, da música barulhenta e vulgar, apenas.
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