Se há um tempo em que o Brasil se representa como
autêntica “República dos Bruzundangas” é efetivamente o de hoje. Porque tudo
que vem dos meandros políticos e jurídicos soa falso, incompleto, estranho,
insuficiente. É como rezar o Pai-Nosso pela metade e deixar o restante no
esquecimento, assim apostando na salvação; é como olhar um copo de água pela
metade sem saber se ele está meio cheio ou meio vazio. Porque num país tão
complexo, extenso, e cheio de problemas a atormentarem o povo, tudo se prende
ao que se publica nos meios de comunicação e nas redes sociais. Veem-se chavões
e mais chavões, vê-se o culto à personalidade, vê-se a exaltação dos ídolos de
pés de barro; vê-se a indiferença ante a realidade do crime perpetrado por
quadrilhas e mais quadrilhas de menores de idade mais violentos que adultos;
vê-se a leniência do poder público de maneira geral, e tudo se justifica, e tudo
se aprova, e tudo se esquece.
Os programas governamentais tornaram-se fontes
particulares de enriquecimento, em especial as ações estatais voltadas para a
construção de casas populares e para a distribuição de alimentos e remédios. O
atendimento médico-hospitalar é caótico, embora o dinheiro público seja nele
jorrado em abundância. Pessoas ideológicas que há pouco tempo eram de classe
baixa agora esnobam mansões e carrões. Políticos que assumiram o primeiro
mandato parlamentar pagando carnês agora adquirem bois de raça em leilões
milionários, um milagre de multiplicação de salários fixos em fortunas, milagre
maior que o bíblico. E a vida segue com a exaltação do feio como belo, no Big
Brother, e da promiscuidade sexual como recato a partir da cena de corpos
jovens sem roupa e sem miolo, um bando de narcisistas dando mostras de que
aquilo é o Brasil. E talvez seja...
... Uma vergonha! O país está uma vergonha, tudo é
jogo de cena, nada é real, tudo é culto à personalidade, com os meios de
comunicação distraindo o povão ao apresentarem seus fabricados ídolos enquanto
amealham mais e mais fortuna sem cumprir qualquer função social. Sim, os meios
de comunicação são os primeiros a tapar o sol com a peneira da hipocrisia, da
falácia a serviço do mal, da aplaudida mentira se fingindo verdade. Sim, sim,
tudo é modismo, e até os pensadores, com raras exceções, são regiamente pagos
para exaltar em artigos primorosos o modismo, distraindo a atenção popular para
o básico: falta água de dia, falta luz de noite, falta saúde pública, falta
educação, faltam estradas decentes, faltam ferrovias, faltam transportes, mas abundam
favelas novas, abundam novos criminosos, abundam armas sofisticadas a prover
milícias particulares e quadrilhas públicas. E sobram castas!...
... Castas que vencem gerações na política e no mundo
jurídico do repisar de nomes de família como precondição para o honroso
exercício do múnus político-jurídico-judicial-ministerial. Enfim, abundam os
“medalhões” machadianos a confirmarem na prática sua ficção-denúncia feita no
passado, e sobram os “samoiedas” de Lima Barreto. E assim o Brasil incha doente
do corpo físico e do espírito. E se torna a mais e mais volumoso o rebanho de
conformados e indolentes, nada mais que arraias,
arraias-miúdas, borras, choldras, enxurros,
escoalhas, escórias, escórias sociais, escorralhas,
escorralhos, escumas, escumalhas, fezes,
lixo, gentalhas, gentaças,
gentinhas, gentuças, patuleia, plebe,
populaças, populachos, povão, povaréu, poviléu, povoléu, povo, sarandalhas, sarandalhos, vulgacho,
vulgo, zé, zé-povo, zé-povinho e (bras.) bagaceiras, bagagem, frasqueiros,
gambás, gentalhas, gentamas,
plévia, poeira, rabacuadas,
rafameias, mundiças etc.
Eis o Brasil que foi assim
Colônia, e foi assim Império, e foi assim República, e é assim ainda hoje,
talvez piorado em virtude do inchaço populacional, razão pela qual o
Estado-protetor deve ser pai, mãe e irmão mais velho a conduzir o desorientado
rebanho que assim sempre o será para garantir aos seus tangedores o predomínio do
poder nas gerações seguintes, mantendo-se a maioria resignada de nascença, porém
com o direito à liberdade pela morte e à salvação pela humilde persignação em
templos com bilheteria e barraquinhas vendendo indulgências hodiernas.
Sim, este é o Brasil
teatral, onde tudo é encenação, nada é real, todos são artistas vestidos ou
desvestidos conforme a ocasião de se fazer mais um ladrão. Pior de tudo é que
este Brasil que não tem conserto, mas apenas concertos de interesses escusos,
únicos a proliferar entre poderosas castas que abrem, vez ou outra, um
pequeníssimo espaço para a apresentação solo de algum pé de chinelo massacrando
em euforia particular outros pés de chinelo que ultrapassaram o limite do que
lhes foi permitido pela verdadeira elite, não sem antes espalhar a falsa
impressão de que os pés de chinelo mandam mais que todos no Brasil, juntos, sem
que o povão perceba que seu magnânimo herói é efêmero na vida e no cargo, e que
ao fim e ao cabo tudo será esquecimento gravado em lápide no fundo do cemitério,
isto se não lhe sobrar nada mais que vai-volta e cova rasa...
2 comentários:
Eis aqui um Major da PMESP vibrador e operacional a estar em sentido!!....Minha CONTINÊNCIA respeitosa ao SR, Cmt.........LÚCIDO demais em suas impressões....que orgulho visitar o Blog do SR......sempre lições e ensinamentos.....muitos dos quais prelecionados a nossa tropa na UOp em que trabalho....Saúde e Paz ao Sr e família!!!! e Continue a nos brindar com sua experiência profissional e de vida!!!!!
Emir disse:
Muito obrigado pelo incentivo, prezado companheiro da PMESP! É o que me estimula a continuar nesta luta contra o Mal que se nos apresenta de todas as formas, no âmbito de nossa profissão e fora dele, mas que, mesmo assim, interfere no nosso dia a dia de luta contra o crime.
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