quinta-feira, 23 de abril de 2015

RIO EM GUERRA LX – TRÁFICO NO ASFALTO


“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)





Que o narcotráfico é sistema criminoso completo não se há de pôr dúvida (a Teoria de Sistemas o diria “globalístico”, em que o todo é maior que a soma das partes). Não faz quinze dias que o Ministério Público e a PCERJ desbarataram uma quadrilha envolvendo o PCC de São Paulo e o CV do Rio de Janeiro, com seus membros compactuados entre si e com alguns policiais corruptos de lá e de cá para fornecer drogas e armas nas Regiões Sul, Industrial do Médio Paraíba e outras circunvizinhanças do RJ.

Nenhuma novidade, o pacto entre PCC e CV é antigo e já largamente denunciado pelo jornalista Carlos Amorim, autor do clássico “COMANDO VERMELHO – A HISTÓRIA SECRETA DO CRIME ORGANIZADO”, que também escreveu “CV/PCC – A IRMANDADE DO CRIME”, demais de muitas outras obras e matérias jornalísticas referentes. E agora emerge mais esta absurda demonstração de poder do narcotráfico, denunciado pela Revista ISTOÉ. Como eu disse: nenhuma novidade...

Constata-se assim o que a sociedade brasileira não quer ver, mas é obrigada a sentir: desde muito tempo o poder do tráfico está no asfalto, e não apenas em condomínios pauperizados para atender a fins políticos inconfessáveis. Pois é certo que esses condomínios de baixa renda não são projetos urbanísticos integrados à vida da cidade, mas apenas “quebra-galhos” atendendo a meia dúzia de gatos pingados já submetidos ao jugo de facções criminosas em eterna disputa por territórios. Daí as invasões, confusões e ameaças, com os moradores vivenciando um inelutável fado adverso, o mesmo dos seus tempos de favela.

A Revista ISTOÉ, talvez em quase 80% das páginas, desanca o PT e seus aliados apontando espantosa roubalheira, capaz de fazer corar de vergonha os próprios traficantes, não sendo improvável que existam elos entre os ladrões de casaca e os pés de chinelo. Difícil até é não associar os crimes de lado a lado, já que o tráfico cuida de lavagem de dinheiro desde que o mundo é mundo, e os ladrões de casaca apenas imitam a mafiosa tecnologia para ocultar suas fortunas, tão tamanhonas que não cabem em colchões e paredes falsas de suas casas, embora esses métodos rudimentares permaneçam em voga.

A questão encontra seu cerne, então, na junção de tudo: dinheiro de propinas de obras públicas e a não menos remunerada leniência estatal com o tráfico. Enfim, tudo farinha do mesmo saco, vinho da mesma pipa, que nenhuma lei ou justiça do Estado de Direito tupiniquim será capaz de cercear. Sim, impossível cortar esta onda de crimes sendo a corrupção o eixo a fazer girar todo o resto. E a cada notícia de maracutaia política sente-se o fedor do crime organizado permeando-a. Pior que com impressionante naturalidade, respondendo a mídia por boa parte desta ocultação do crime e dos criminosos mais que sabidos, mas sempre “supostos”.

A questão, por conseguinte, é imaginar aonde o tsunâmi chegará e quando isto finalmente ocorrerá para caracterizar a máxima de Erich Fromm: “A calamidade é ruim para o povo, mas boa para a sociedade.” Então é só esperar que o tsunâmi destrua tudo para emergir uma nova sociedade brasileira. Porque esta, de ontem e hoje, está irremediavelmente apodrecida em todas as suas multifacetadas formas de convivência, estas, que passamos a resumir como o famigerado “jeitinho brasileiro”...

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