Tendo em vista
o horizonte que pretendo alcançar, que se enfeixa na Favela de Acari, situada
na Zona Norte da Capital do RJ, e num fato específico, atual, – que contra mim
lançaram como seta envenenada, – começarei por expandir o tema retrogradando-o
ao seu ponto zero. Deste modo, os leitores poderão melhor entender a brutalidade
ministerial e judicial que sou vítima neste momento da minha vida e seus reais
motivos associados a uma sórdida inversão de valores por quem deveria
defendê-los, – pois assim se comprometeram em juramento, – e a vinditas cruéis
que lembram os piores tempos da Inquisição e do Santo Ofício.
Independentemente
da defesa técnica muito bem conduzida por competente Advogado, não posso eu mesmo
deixar de lutar com todas as armas para defender minha reputação, que não é
direito meu, mas antes pertence a meus filhos, incluindo uma filha menor. Para
tanto, escudo-me no Inciso X do Art. 5º da CRFB. De resto, me escudo em mim
mesmo, pois não temo meus inimigos e pretendo enfrentá-los de peito aberto
enquanto eu tiver um rasgo de vida.
Aproveito
também para me desculpar pela postagem de reportagens da época, instituindo
pequenas rupturas no texto, porque são provas incontestes do que realmente sou
e do que efetivamente fiz em defesa dos cidadãos e cidadãs de bem que compõem o
lado sadio da sociedade. Sim, melhor prova não há do que os registros
jornalísticos, que sempre os guardei com orgulho, porém jamais pensando que um
dia necessitaria deles como arma para me defender de infâmias geradas na
escuridão das cavernas por sórdidos representantes do Mal.
Ano de 1989: o combate ao tráfico na Favela de Acari
Tudo começa na década de 80, mais precisamente no início do
ano de 1989 (03 de abril), ocasião em que fui convidado pelo comando-geral da
PMERJ para assumir o Nono Batalhão, sediado em Rocha Miranda, Zona Norte da
Capital do RJ. Bem, não sei se digo convidado ou desafiado, pois a missão que
ele me determinara incluía o desafio de aprisionar com vida o mais famoso
traficante da época, cujo homizio era a Favela de Acari: Darcy da Silva Filho,
conhecido pelo apodo de Cy de Acari. Corresponderia ele em fama midiática,
grosso modo, ao atual traficante Fernandinho Beira-Mar. Isto porque Cy de Acari
era o leva e traz de outro não menos notório traficante (de asfalto) conhecido
como Toninho Turco, morto em operação comandada pela Polícia Federal no ano de
1987. E em sendo Cy de Acari o transportador de cocaína (“Mula”) da Colômbia e
da Bolívia para a Favela de Acari, onde a droga ficava armazenada, caiu no colo
do traficante favelado o atacado da droga distribuída em todo o RJ. Segundo
informações veiculadas na época, seria ele responsável pela distribuição de
mais de 50% da droga consumida no RJ.
Para quem não conhece, a Favela de Acari representa-se por um
complexo de moradias carentes, frontais à CEASA/Rio, na orla da Avenida Brasil,
ocupando extensão linear em torno de 500 metros no mais ou no menos. Trata-se
favela plana e populosa, cujo limite nos fundos é o leito do rio Acari. Não sei
hoje qual é sua população, mas posso garantir que o Complexo de Acari possui
eleitores suficientes para eleger um deputado federal ou estadual e influenciar
diretamente na eleição de prefeito e vereadores da capital. E por ser plana,
com acessos frontais e laterais imensos, poder-se-ia até supor que ali não
seria bom lugar para se montar linhas de defesa contra investidas de forças
policiais ou de bandos rivais. Mas para vender droga no atacado e no varejo,
não há de haver no Rio de Janeiro lugar melhor: há muitas entradas e saídas,
tais como se ali fosse um imenso queijo suíço...
Outra curiosidade: a favela era considerada neutra, ou seja,
não se integrava às principais facções criminosas (CV, TC, ADA). Atendia a
todas com a droga armazenada e comercializada por Cy de Acari, que gozava
prestígio nas supracitadas fontes de produção. Por tudo isto, e muito mais, o
traficante era apodado como “Galinha dos Ovos de Ouro”. Não sem motivo, pois
corria à boca miúda que as propinas do tráfico permaneceram como na época do
megatraficante Toninho Turco: para policiais e políticos, e até para alguns
artistas que homenagearam o bandido inclusive em letra enviesada e tornada
música de sucesso (“Eu convidei/ você tem que ir/Se divertir/ No mocotó do
Tião/ na Estação de Acari/ Tem toalete enfeitado/ Todo acarpetado/Pra fazer
pipi/ Como eu verti/No mocotó do Tião na Estação de Acari...”). Pesquisem...
Enfim, aceitei o repto do comandante-geral e fui cumprir
minha espinhosa missão, que incluía tiroteios entre policiais-militares e
traficantes quase que diários, e muitas ameaças de morte contra mim (minha
cabeça literalmente a prêmio, por conta de ordem do traficante Antonio Carlos
Coutinho, vulgo Tunicão, também da favela). E pertencia ao infelicitado
batalhão o recorde estatístico de assassinato de PMs, tanto durante o serviço
como na folga deles, mas com suspeita de origem interna, o que me exigia a
cautela de preservar os endereços da tropa em cofre forte dentro da P.2
(Serviço Secreto do BPM), porque muitos dos inimigos moravam intramuros do
quartel, tamanha era o poder de aliciação do tráfico. Como hoje, por sinal...
Vou postar neste e nos sucessivos artigos muitas matérias
jornalísticas da época, porque bem demonstram como foi minha perigosa aventura
de comandar o batalhão mais desmoralizado da PMERJ, exatamente devido à cultura
de propina do tráfico envolvendo o megatraficante Toninho Turco e seu sucessor,
Cy de Acari. Tiroteios à parte, corrupção à parte, e deixando de lado a morte
de ambos os lados nesta eterna luta entre rotos e esfarrapados, finalmente
consegui acuar o traficante e prendê-lo sem disparar um só tiro, cumprindo com
êxito a missão recebida. Não sem antes enfrentar o traficante Tunicão depois da
impressionante ousadia dele de mandar a comunidade de Acari fechar a Avenida
Brasil no sentido Centro-Zona Norte, gesto que lhe seria fatal.
(Congestionamento da Avenida Brasil por moradores de Acari, mediante ordem do traficante Tunicão. Neste dia, em confronto com PMs, ele foi atingido e faleceu em clínica para onde os comparsas dele o levaram)
(Mais uma tentativa do tráfico de fechar a Avenida Brasil que evitei e terminou em paz. Destaque-se o "líder comunitário" Pedro Paulo dos Santos, do qual falaremos adiante)
Claro que enfrentei muitas crises na área do batalhão, como
ainda hoje elas ocorrem: manifestações populares com o fechamento de ruas,
quebra-quebras de ônibus e outras reações de turbamultas decorrentes de ordem
de traficantes. Vou postar adiante algumas fotos de um emblemático personagem
dentre os fomentadores desses atritos, isto porque focamos a Favela de Acari, objeto
deste e de outros registros históricos. Vou também postar foto de uma
específica operação policial que comandei para deter usuários de drogas na favela
e demonstrar ao Jornal O DIA o quanto eles contribuíam para o fomento do
tráfico no varejo. Isto para que o leitor tenha ideia exata do que falo como
abertura de temas posteriores mais apimentados, até chegar aos dias de hoje
Neste ponto, devo confessar que não posso deixar de me
regozijar com o fato de que atualmente possuo um espaço democrático para me
defender dos meus desafetos e também para atacá-los como bem me convier, claro
que sempre escudado em documentos que não podem ser questionados e na elegância
da crítica, que, porém, será veemente, eis que indignada. Sobre o meu espaço de
comunicação com o público, refiro-me, claro, às redes sociais... Chego então à
tumultuada operação policial que culminou na prisão no notório Cy de Acari,
levado para a sede do Nono Batalhão e lá entregue aos coirmãos da POLINTER para
ser encaminhado a BANGU I.
Mas antes o quartel ficaria apinhado de repórteres e
cinegrafistas da mídia falada, escrita e televisada. Havia inclusive muitos
correspondentes estrangeiros, enfim, uma festa midiática como há muito tempo
não se via em razão de feito policial. E foi neste momento de justa euforia que
recebi o telefonema de um Delegado de Polícia, amigo meu, que me disse o
seguinte:
“LARANGEIRA, PARABÉNS! VOCÊ PROTAGONIZOU A PRISÃO DA DÉCADA!
MAS SE PREPARE, POIS VOCÊ ENTROU DE PENETRA NUMA FESTA DE COMENSAIS PODEROSOS E
CHUTOU O BOLO!”
Ora bem, eu jamais poderia entender o intrigante recado naquele
momento de tensão e alegria: eu estava em clima de festa em vista do triunfo do
Bem contra o Mal. Mas, mesmo assim, preocupei-me com o sugestivo recado, pois,
afinal, já enfrentara pendengas com ativistas políticos ligados ao PDT do
senhor Leonel Brizola, com ressalva de que meu comando se deu no interregno de
seus dois governos, ou seja, durante a gestão de Moreira Franco, ferrenho
adversário do caudilho e veemente crítico da omissão policial. E foi neste
clima de “acabar com a violência em seis meses”, ou seja, de “enfrentamento”
como contrapartida da omissão político-policial, que desci de paraquedas na
Zona Norte do Rio e me enfiei no Nono Batalhão. Não imaginava que isto mudaria
para sempre a minha vida e me tiraria de mim a tranquilidade jurídica e a paz
social e familiar...
Bem por enquanto é o que basta. Vou complementar o assunto
em muitos outros textos com mais algumas imagens jornalísticas, para depois me estender no deslinde da trama atual, pérfida em todos os sentidos, que os desafetos
de sempre, do passado e do presente, dispararam contra mim por conta não mais
que da necessidade de responder às pressões da Anistia Internacional no sentido
de desvelar o crime que ficou conhecido como “ASSASSINATO DA MÃE DE ACARI,
EDMEIA”. E, provavelmente, por conta de outros interesses inconfessos...
Como é meu este espaço, cuidarei dele com fidelidade e não
pouparei ninguém ao me reportar à única verdade ignorada por Promotores de
Justiça, Juízes de Direito e Desembargadores que vivenciam uma fase de ódio
contra a PMERJ e seus integrantes por conta do assassinato de uma Juíza de
Direito em São Gonçalo, fato gravíssimo, que deve ser tratado com muito rigor,
como está sendo, mas se deveria restringir aos verdadeiros criminosos,
aplicando-lhes punição exemplar. Mas isto me parece ter sido insuficiente: a ira
ministerial e judicial se espalha como epidemia sem controle..
Malgrado as injustiças, demonstrarei a todos minha disposição
física, decerto abalada em virtude de doenças graves e da idade, mas que ainda
se sustenta num arcabouço moral muito superior ao dos pérfidos inventores de
crimes que não cometi para simplesmente se vingarem ou se safarem de pressões
midiáticas destilando em mim seus venenos ofídicos. Afinal, queiram ou não
admitir meus inúmeros detratores em impressionante revezamento, eu sou hoje um
ícone como combatente, do que deveras me orgulho, porém ótimo alvo a ser
acertado para “lavar a alma” vingativa de muitos ímpios que não seriam o que
são no contexto de uma sociedade séria e justa. Mas como nossa sociedade é
podre, eles representam nada mais que isto: a podridão.
E digo mais: nenhuma pressão me calará! Nada! Só a morte! Que
venham então os vingativos porque não silenciarei a minha voz enquanto viver!
Não guardarei a pena, não economizarei a tinta nem pouparei o toco do lápis. E,
se me privarem da luz, farei como Erico Veríssimo: acenderei um toco de vela ou
riscarei um palito de fósforo para lavrar a minha palavra! Porque estou no
campo de luta combatendo o Bom Combate! E não me arrependerei jamais de ter
“chutado o bolo” daquela festa destinada a importantes comensais arreglados com
o transnacional, bilionário e poderosíssimo narcotráfico que tive e ainda tenho
a coragem de enfrentar, mesmo sendo tocaiado pelos comedores do “bolo” que me
deveriam aplaudir e proteger, mas agem em insídia e no sentido contrário. No
fim de contas, o imenso “bolo” era recheado de dólares e tinha cobertura de
cocaína dissimulada em chantili. Portanto não comam do bolo, homens e mulheres
do Bem. Deixem-no para aos senhores intelectuais da polícia, da mídia e do direito
que se postam a serviço do Mal!...
4 comentários:
Eu sei o que é isto já fui indiciado e até hoje não sei qual o crime ou crimes, quando ou onde foram praticados, contra quem e isto já fazem sete anos e o MP se omite e nada informa. Há sete anos procuram alguma coisa contra mim, até se tive amante e nada encontraram.
Misoca
Sócrates disse que a principal virtude de um homem de caráter é o seu senso de justiça e isso você tem transbordando na alma.
Apenas não concordo com você quando se refere à velhice. Ela se apresenta quando o cidadão é considerado inútil, quando experimenta o desprestígio da sociedade preconceituosa. Jovem é todo aquele que aspira aos ideais do enobrecimento humano, mantendo a capacidade de realizar e realizar-se, produzir e multiplicar, esse sim é você. Afetuoso abraço.
Compadre,
Conheço a sua história. O que fazem com você me faz lembrar de "O Processo", de Kafka.
Emir disse:
Caro compadre Jorge da Silva, parece que vivemos num país surreal e não num Estado Democrático de Direito. Mas continuarei me defendendo desses sórdidos como se estivesse num campo de batalha enfrentando o Mal. E, com, certeza, a minha palavra permanecerá por muitas gerações, enquanto que eles passarão despercebido por este mundo em que constroem injustiças como se comessem um sanduíche. Se Deus existe, que não os perdoe!
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