quinta-feira, 3 de julho de 2014

Teoria do Combate ao crime II

A pacificação (?) de 40 favelas dentre milhares infestadas por traficantes...

Faz tempo que não escrevia neste meu blog. Uma das razões foi minha dedicação a um novo romance a ser brevemente lançado; outra foi preguiça mesmo, ou quiçá desânimo por perceber que as pessoas estão deveras apressadas, preferindo navegar nas redes sociais de conteúdo sem profundidade, vício diante do qual humildemente me rendo... Entendo, portanto, a preferência, o mar não está pra peixe, ninguém mais quer pescar de anzol, interessa à maioria a rede no espelho d’água para garantir peixes pequenos antes de eles afundarem a procriar. Enfim, predomina o continente em vez do conteúdo, vence o conhecimento fragmentado e superficial que, ao fim e ao cabo, não é conhecimento, mas pura ilusão.
Sim, os temas importantes para a sociedade vêm sendo substituídos por linguajares sem sentido e pelo narcisismo de muitos e muitas; prevalece nas redes sociais o imediatismo das palavras cortadas, das incorreções aberrantes, porém tidas como “normais” por ser modismo escrever assim. Mas esta cultura do erro desemboca nas provas de concurso contendo textos que vão às raias do absurdo, tamanha é a ignorância de seus autores, que, por sinal, imaginam fazer o certo. Pior ainda quando alguns mestres os corrigem dando-lhes razão, eis  estão contaminados pelo mesmo vício da pressa inimiga da perfeição. Daí é que a nação afunda numa “lama cultural” a soterrar seu principal elemento agregador: a língua pátria.
Tudo hoje se resume a siglas massificadas por um marketing cujo compromisso é o de distorcer a realidade, tal como faz o mágico ao passar o pano diante de sua caixa de surpresas para dela retirar coelhos, pombos e pessoas que não cabem ali. Mas todos se encantam e creem piamente que aquela ilusão é realidade. Assim é a ilusão das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), hoje dando água em muitos lugares onde foram instaladas com estrondoso barulho midiático. Com efeito, as pessoas nem mais lembram onde algumas delas estão funcionando, e como estão no seu dia a dia; mal sabem que os “temporários” containers sem um mínimo de conforto ou capacidade de proteção contra tiros apodreceram ao longo destes anos de cascatas visando a iludir estrangeiros e assim garantir a Copa do Mundo em solo pátrio, em especial em sua principal “arena”: o Maracanã.
Agrava-se a questão das UPPs não apenas pela desinformação quanto aos seus efetivos e problemas. Nada se sabe do moral desta tropa a não ser por poucas iniciativas de PMs lotados em algumas delas. Publicam nas redes sociais notícias otimistas, porém logo atropeladas pelo anúncio de mais uma vítima atingida por tiros de traficantes em locais que, em tese, estariam pacificados. Como?... A verdade é que a “caixa-preta” das UPPs só deve ser aberta na próxima gestão governamental, isto se ocorrer alternância de poder e assumir algum autêntico adversário dos atuais gestores do RJ.
Enquanto as informações não chegam, enquanto a “caixa-preta” permanece tal como a boceta de Pandora guardando seus males, enquanto não surge uma Penélope para abri-la em curiosidade, devemos nos render ao desconhecimento. Mas, se for aberta, os males poderão ser tão tamanhões que não serão fáceis de serem extirpados da corporação e do ambiente social hoje assolado principalmente pelas alarmantes assassinatos de PMs, jovens ou antigos, e de todos os meios e modos, na esteira da impunidade de seus autores. Enfim, reverter tão calamitosa situação não será fácil aos novos gestores que assumirão o poder interno da corporação. E pior ainda ficará se houver a permanência do status quo reinante, que não passa de engodo para levar a efeito a Copa do Mundo, engodo que não resistirá até as Olimpíadas, com certeza.
O lema “conquista-ocupação-pacificação” perdura no tempo não por eficiência ou eficácia estrutural em vista dos seus obscuros objetivos; perdura no tempo, sim, por conta do marketing, até que a motivação se esgote, o que se dará em 13 de julho. Falta pouco... Depois virá o choque de realidade e não se sabe o tamanho da baderna que está por vir antes das eleições de outubro. Porque é certa a desmobilização dos gigantescos efetivos militares e policiais já esgotadíssimos, e irritados tais e quais o povo, portanto também no limiar do “estouro da boiada”. Torçamos, pois, para que a inércia policial decorrente da exaustão não estimule os anarquistas até então em inércia; torçamos para que haja alguma força reserva em condições de uso imediato se os anarquistas novamente desfraldarem suas indignadas bandeiras. Porém, se nenhuma força de reação houver, e se nada for mais possível, oremos então...

 

 

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