"Ser de esquerda, no Brasil,
significa ter um salvo-conduto para defender todo tipo de atrocidade e
cair nas maiores contradições. É o monopólio das virtudes após décadas
de lavagem cerebral demonizando a direita liberal ou conservadora.
Um
esquerdista pode, por exemplo, mostrar-se revoltado com o regime
militar, tentar reescrever a história como se os comunistas da década de
1960 lutassem por democracia e liberdade, tentar mudar o nome até de
ponte, e logo depois partir para um abraço carinhoso no mais velho e
cruel ditador do continente, Fidel Castro.
Um
esquerdista pode, também, repudiar o “trabalho escravo” em certas
fazendas brasileiras, o que significa não atender às mais de 200
exigências legais (incluindo espessura de colchão), e logo depois
aplaudir o programa Mais Médicos do governo Dilma, que trata cubanos
como simples mercadoria.
Um
esquerdista pode tentar desqualificar uma médica cubana que pede asilo
político, alegando que tinha problemas com bebida e recebia amantes em
seu quarto (é proibido isso agora?), para logo depois chamar de
preconceito de elite qualquer crítica ao ex-presidente chegado a uma
cachaça e a “amizades íntimas”.
Um
esquerdista pode culpar o embargo americano pela miséria da
ilha-presídio caribenha, ignorando que toda experiência socialista
acabou em total miséria, e logo depois condenar a globalização e chamar o
comércio com ianques de “exploração” (decidam logo se ser “explorado”
pelo capitalismo é bom ou ruim).
Um
esquerdista pode execrar uma jornalista que diz compreender a revolta
que leva ao ato de se fazer justiça com as próprias mãos, e logo depois
aplaudir invasores de terras e outros “movimentos sociais”, que se
julgam acima das leis em nome de suas “nobres” causas. Pode até receber
os criminosos no Palácio do Planalto!
Um
esquerdista pode aliviar a barra do criminoso, tratar o marginal como
“vítima da sociedade”, e logo depois posar como defensor dos pobres
honestos, ignorando que a afirmação anterior representa uma grave ofensa
a todos aqueles que, apesar da origem humilde, mostram-se pessoas
decentes por escolha própria.
Um
esquerdista pode repudiar a ganância dos capitalistas, condenar o
lucro, e logo depois aplaudir socialistas milionários, ou “homens do
povo” que vivem como nababos, que cobram fortunas para fazer palestras,
ou artistas que negociam enormes cachês com multinacionais para seus
filmes ou comerciais.
Um
esquerdista pode ser um músico famoso ou um comediante popular, e basta
a fama por tais características para fazê-lo acreditar que é um grande
pensador político, um intelectual de peso, alguém preparado para opinar
com embasamento sobre os mais diversos assuntos sem constrangimento.
Um
esquerdista pode insistir de forma patológica na cor do meliante preso
ao poste, um rapaz negro, e logo depois ignorar outro bandido amarrado a
um poste, pois este tinha a cor “errada”: era branco. Pode, ainda,
acusar todos que condenam as cotas raciais de “racistas”, e logo depois
descascar Joaquim Barbosa, inclusive por causa de sua cor.
Um
esquerdista pode alegar ser a pessoa mais tolerante do mundo, isenta de
qualquer preconceito e apaixonada pela diversidade, para logo depois
ridicularizar crentes evangélicos, conservadores católicos ou liberais
céticos.
Um
esquerdista pode surtar com o uso de balas de borracha pela polícia
contra “ativistas” mascarados que quebram tudo em volta, para logo
depois cair em um ensurdecedor silêncio quando o governo socialista
venezuelano manda tanques para as ruas para atirar a esmo em estudantes
durante protestos legítimos contra um simulacro de democracia.
Um
esquerdista, por fim, pode pintar as cores mais românticas e
revolucionárias sobre as máscaras de vândalos e arruaceiros que atacam
policiais, para logo depois chamar de “fascista” a direita liberal,
ignorando que o fascismo de Mussolini tinha os camisas-negras que agiam
de forma bastante similar aos black blocs.
Assim
caminha a insanidade na Terra do Nunca, com “sininhos” aprontando por
aí enquanto os artistas e “intelectuais” endossam a agressão contra o
“sistema”. No fundo, defendem a barbárie contra a civilização. Abusam da
dialética marxista, do duplo padrão moral de julgamento, da revolta
seletiva, do cinismo, do monopólio da virtude.
Um
esquerdista jamais precisa se importar com a coerência, com o resultado
concreto de suas ideias, com pobres de carne e osso. Ele goza de um
álibi prévio contra qualquer acusação. Afinal, é de esquerda, ou seja,
possui as mais lindas intenções. É o suficiente. Um esquerdista pode
tudo!"
Rodrigo Constantino é Economista. Originalmente publicado em O Globo de 18 de Fevereiro de 2014.
Um comentário:
Resumiu a verdadeira essência boçal do esquerdista.
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