"REVISTA VEJA
BLOG DO REINALDO AZEVEDO
19/08/2013
Às 17:10
Reportagem
de Leslie Leitão e Helena Borges na VEJA desta semana informa que o
escritório de advocacia de que é sócia Adriana Ancelmo, mulher de Sérgio
Cabral, cresceu muito durante o mandato do marido governador. Segundo a
reportagem, antes de Cabral governar o Rio, apenas 2% do faturamento do
escritório tinha origem em concessionárias e prestadoras de serviço
para o Estado; hoje, chega a 60% — os ganhos mensais de Adriana alcançam
R$ 184 mil. Cabe, creio, um debate sobre a legalidade dessa clientela.
Do ponto de vista ético, não há o que discutir. O escritório deveria
recusar esses clientes e pronto! Ninguém quer impedir a pr
imeira-dama de trabalhar — aliás, é desejável que continue com a sua
profissão; poderia ser um bom exemplo de independência. Parece não ser o
caso.
Lembro
esse episódio porque é mais um elemento a complicar a situação política
de Sérgio Cabral, cujo prestígio, que se mostrava impermeável a
situações até mais constrangedoras, se manteve incólume até a onda
recente de caça aos políticos — o que, como é sabido, nunca me
entusiasmou e jamais contou com o meu endosso. E não contou porque não
acredito em movimentos espontâneos. A rigor, a espontaneidade não
existe, a não ser na natureza — e olhem lá. A palavra deriva do vocábulo
latino “sponte”, aquilo que se dá pela própria vontade, por moto
próprio. Daí que o conceito vá bem com a natureza, desde que não s
eja tomado como sinônimo da ocorrência imotivada. Algum motivo sempre
há — a não ser para os milagres, mas aí estamos em outro domínio.
Um
certo “malaise” se espalhou pelo Brasil inteiro, como a gente viu, mas
se mostra mais persistente e agudo no Rio — e o esforço para engolfar a
Prefeitura é visível. Sempre há motivos para protestar contra governos, e
não estou aqui a questionar o que é um direito democrático. Mas é um
desserviço à democracia considerar que a livre manifestação, que é
constitucional, se sobrepõe à liberdade de ir e vir, que também é
assegurada pela Carta. E é o que se tem visto Brasil afora,
especialmente no Rio. Não há um empate entre esses direitos porque isso
faria supor que se anulam. Eles podem conviver. Digam-me: alguém já v
iu por aí o direito de ir e vir cassando a liberdade de manifestação?
Quando? Onde? O que se vê cotidianamente é o contrário. As coisas não
ficam por aí. Não raro, protestos são tomados por arruaceiros, que se
dizem anarquistas, e o que se tem é um rastro de destruição. Mas não vou
tomar esse atalho agora. Quero voltar ao Rio.
Vi,
neste domingo, os professores promovendo o enterro simbólico de Sérgio
Cabral. Oficialmente, a categoria está em greve no Estado e no
Município. “Movimento espontâneo”? Não! As mãos que balançam esse berço
são principalmente do PSOL e do PSTU. Os abduzidos de Marcelo Freixo
comandam ainda a absurda ocupação da Câmara dos Vereadores do Rio, agora
com o endosso de uma juíza, que se negou a conceder uma liminar para
que os vereadores possam fazer o seu trabalho — e, caso não façam,
sempre restam as eleições para apeá-los de lá. Disse a meritíssima que
aquela é Casa do povo. Sem dúvida. Justamente por ser do povo,
não pode ser privatizada pelo PSOL, não é mesmo, doutora? O que é de
todos não pode ser de um grupo em particular. Quer ainda a magistrada
que, no caso de alguma transgressão evidente à lei, as forças policiais
atuem. Sei… Impedir vereadores eleitos de tocar uma comissão de
inquérito, segundo o dispõem o Regimento da Casa e a lei, supõe a
atuação da Polícia? Em vez de a digníssima fazer valer esses dois
códigos e determinar a desocupação pacífica, prefere o quê? Que ela se
dê com o uso, ainda que legítimo, da força? As explicações da juíza
atendem ao estado de direito ou ao alarido das ruas?
E
a turma que acampa nas imediações da casa de Sérgio Cabral? Também PSOL
e PSTU? Pode até haver um outro, mas aí já é outra fauna, composta,
curiosamente, de, como posso chamar?, entusiastas do deputado Garotinho
(PR-RJ) e da bicho-grilagem que também se nega a crescer. E, atenção!,
em qualquer caso, em qualquer manifestação, não faltam os petistas,
entusiastas da candidatura do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) ao cargo
de Cabral. Os petistas evitam exibir suas bandeiras, até porque o
partido está no governo. Participam da confusão por intermédio dos ditos
movimentos sociais. Como já lembrei aqui, o senador pode ter sua can
didatura abalroada por um processo que corre contra ele no Supremo. Se
candidato e vitorioso e se condenado (aí, no caso, com o processo
migrando para o STJ), poderia ter o mandato cassado.
Desserviço
A imprensa, nessa fase absurda de competição com as redes sociais (como se fossem a mesma coisa!), se nega a dar nome aos bois e presta, assim, um desserviço ao leitor, ao telespectador, ao internauta. Eles têm o direito de saber quem está na rua e para quê. Eles têm o direito de saber quem promove a ocupação nas imediações do apartamento do governador e para quê. Eles têm o direito de sab er quem manda nos sindicatos de professores e para quê. Eles têm o direito de saber quem comanda a invasão da Câmara e para quê. Se vão achar isso bom ou ruim, eis uma questão que não diz respeito ao jornalismo. Informar quem faz o quê não desqualifica reivindicação nenhuma. Omitir do leitor a informação certa, aí sim, desqualifica o próprio trabalho jornalístico.
A imprensa, nessa fase absurda de competição com as redes sociais (como se fossem a mesma coisa!), se nega a dar nome aos bois e presta, assim, um desserviço ao leitor, ao telespectador, ao internauta. Eles têm o direito de saber quem está na rua e para quê. Eles têm o direito de saber quem promove a ocupação nas imediações do apartamento do governador e para quê. Eles têm o direito de sab er quem manda nos sindicatos de professores e para quê. Eles têm o direito de saber quem comanda a invasão da Câmara e para quê. Se vão achar isso bom ou ruim, eis uma questão que não diz respeito ao jornalismo. Informar quem faz o quê não desqualifica reivindicação nenhuma. Omitir do leitor a informação certa, aí sim, desqualifica o próprio trabalho jornalístico.
Cabral
passou tanto tempo sendo protegido de si mesmo pela imprensa carioca — e
nacional! — que se mostra atrapalhado, aturdido, meio aparvalhado. De
resto, eventos de sua vida privada deitaram uma sombra sobre as questões
políticas, e parece que ele não consegue reunir forças para reagir.
Protestar contra ele, com ou sem motivo, parece ter virado uma onda
deste inverno carioca.
Não!!!
É inútil tentarem me atribuir o que não escrevi. E eu não escrevi que
inexistem motivos para protestar. Até porque, meus caros, a democracia
assegura, e eu também o reconheço, o direito de protestar até sem
motivo. Só estou lembrando que o estado democrático é caracterizado por
uma teia de direitos e que nenhum deles é soberano. E, por óbvio, sobre
os arruaceiros, dizer o quê? Não existe a licença para a arruaça e o
quebra-quebra. Isso é crime! E, mais uma vez, expresso a minha
curiosidade final: essa gente que acampa por dias na rua ou na Câmara
vive de quê? Quem paga as contas de água, luz, telefone, supermercado
? Seria uma burguesia rentista, que vive do que lhe propicia um gordo
patrimônio privado, ou, se formos verificar, constataremos que, no fim
das contas, todos eles vivem mesmo é do dinheiro público?"
Por Reinaldo Azevedo
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