terça-feira, 30 de outubro de 2012

O livro de Mário Sérgio


Como prometi, concluí a leitura do novo livro do Cel PM Mário Sérgio e exponho a minha impressão. Bem mais que da primeira vez, – refiro-me ao seu primeiro livro, – desta feita fui mais cauteloso na leitura, tal como creio ter sido o autor ao desenvolver o texto. Afinal, descortinar a grande operação de conquista do Complexo do Alemão sem comprometer o futuro deve ter sido sua (dele) preocupação constante. Porque muitas facetas da operação envolvendo militares federais e polícias estaduais não poderiam vir à tona sob o risco de comprometer uma série de variáveis estratégicas e táticas a serem revigoradas em novas frentes de ação contra o tráfico. Em vista disso, – e sempre com sua inegável habilidade em manusear a pena, a tinta e o papel, – o autor navegou no continente da questão sem muito se enfiar no conteúdo. Buscou apresentar o possível, em linguagem otimista, claro que frustrando alguns leitores mais exigentes, dentre os quais me incluo. Mesmo assim, creio que valeu seu esforço intelectual para deixar registrado um momento que, decerto em épocas futuras, lhe deverá exigir um terceiro livro alcançando o conteúdo da operação militar-policial no Complexo do Alemão. 

Do livro em si, já comentei o que considerei importante e aqui reitero: a informação da mobilização de inúmeros batalhões da capital e do interior. Provou-se com a mobilização e com a ação em si o valor da tropa da PMERJ em locais dominados por traficantes. Provou-se também, mais uma vez, a coragem dos militares federais e dos policiais militares e civis, demais da competência dos comandos em todos os seus níveis, todos integrados por eficiente coordenação. Enfim, valeu a pena a sociedade assistir à emblemática correria dos bandidos ante o avanço destemido e eficaz da indômita força conjunta. Porque, embora a imprensa tenha divulgado fragmentos da ação estatal, nada representou melhor a sua ação do que a correria dos bandidos. Ressalte-se ainda a observância de uma regra estratégica que vem de Zun Tzu: a tropa que avança deve sempre deixar uma rota de fuga para evitar derramamento desnecessário de sangue e, principalmente, evitar uma reação suicida do inimigo, que pode até se tornar vencedora. Provou-se, sim, tudo isso, mas também se confirmou a tese do “cobertor curto”, situação difícil de ser superada sem investimentos pesados no aumento do efetivo, especialmente agora em que as UPPs têm como regra a permanência nas favelas por tempo indeterminado, pondo uma grande quantidade de PMs em imobilidade em relação ao ambiente geral do RJ. 

Sabemos que a PMERJ ocupa todo o território estadual e mantém uma dinâmica de policiamento por meio do fracionamento do efetivo em escalas diversas e atuando na prevenção ao crime como regra e na repressão como exceção. A máxima frequência do patrulhamento responde pela inibição da oportunidade de o delinquente contumaz praticar seus crimes. Quanto à inibição da vontade do delinquente em praticar crimes, isto depende da investigação criminal, que cabe à coirmã PCERJ. Portanto, a PMERJ depende de muita mobilidade no terreno, sendo certo que tal consideração exclui o Batalhão de Choque e o BOPE, que atuam em condições diferentes. Mas, por outro lado, eles também ajudam nos grandes policiamentos e nas operações de grande porte como temos constatado na conquista de favelas para a implantação de UPPs. Claro, portanto, que a concentração de efetivos em caráter permanente culmina afetando o todo, crítica que o autor não assume, porém deixa transparecer ao se referir às unidades operacionais empenhadas momentaneamente na conquista do Complexo do Alemão, escusando-se de adentrar o mérito da ocupação em si por UPPs, não sem prejuízo do todo, como sempre afirmei e reafirmo. 

Bem, de qualquer forma, creio que valeu a pena a leitura do livro. Termino, pois, pedindo vênia aos meus críticos, que confundem um eventual governo político ou pessoas que detestam com a PMERJ e seus profissionais. Não é meu caso. Faço a crítica sem me deixar levar por esse tipo de emoção, embora até mesmo não esteja satisfeito aqui, ali e acolá com fulanos, beltranos e sicranos. Vejo essa questão como secundária e prefiro focar a obra bem mais que seus autores, dos quais muitas vezes discordo e nem por isso os deixo de admirar. No fim de contas, sei que é muito fácil ser plateia e dificílimo ser personagem no palco duma segurança pública cujo enredo não é controlado pelos Estados Federados. Sim, pois a estrutura da segurança pública pertence à ordem constitucional federal, embora a conta seja paga pelos cofres estaduais. Por conseguinte, não pode o Estado Federado mudar essa estrutura. Cabe-lhe apenas prover os meios necessários a uma eficiente e eficaz ação policial, dentre muitas outras ações não policiais que se inserem neste específico contexto. E como a forma segue a função, ou seja, a estrutura deve sempre se adaptar aos novos objetivos, na medida em que não se pode flexioná-la com liberdade, os arranjos estruturais acabam forçados e tendentes à entropia depois de um tempo. Espero que tal não ocorra com a PMERJ nesta nova fase das UPPs...

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