domingo, 16 de setembro de 2012

UM ABRAÇO E MUITO MAIS...


O tempo escorre rápido como a areia entre os dedos das mãos. Os dias voejam como os pássaros em busca de abrigo antes da tempestade. Todos querem chegar primeiro para se abrigar dos ventos tempestuosos. Há, porém, certa ordem no pânico, e até os atropelos servem para arrumar as peças deste jogo da vida que não pode parar. Por isso o fruto traz dentro de si as sementes de muitas árvores e de novos frutos, e o peixe desova milhares de vidas nas águas do planeta. E o ciclo da vida segue independentemente de vontades isoladas e de quaisquer outros fatores impeditivos da evolução mineral, vegetal e animal que se dá pela transformação permanente da morte em vida e da vida em morte. E, se esta cadeia de vida se interrompesse, por exemplo, com a ausência da fotossíntese, o oxigênio não se renovaria e toda a vida seria morte. Daí o círculo virtuoso da vida girar como giram as galáxias, as estrelas, os planetas, os satélites, ou seja, giram num vórtice que comanda o inimaginável Universo. Hum, seria o vórtice a vida ou a morte? O Buraco Negro é início da vida ou seu sepultamento? Onde tudo começa e termina? Quem somos nós?...

Pode parecer tresvario, mas o que me interessa é aguçar a reflexão de todos para o tempo que gastamos em busca do que não sabemos exatamente o que seja. Buscamos o poder? Para quê? Buscamos o dinheiro? Para quê? Por que não buscamos a vida de tal modo que o tempo pare? Não! Fazemos exatamente o inverso: corremos ao lado do tempo tentando ultrapassá-lo. Ansiamos pela imortalidade por meio do esquecimento da morte. Ah, não adianta! Lembrada ou esquecida, a morte nos alcançará a nós um dia qualquer. Mas se esquecêssemos do tempo e lembrássemos a vida, ela surgiria diante de nossos olhos como um bem a ser desfrutado sem olharmos para trás, para frente ou para os lados. Devemos, sim, olhar para dentro de nós. Devemos buscar dentro do nosso corpo a resposta: a invisível energia que nos sustenta. A morte do corpo é a fuga da energia tal como fogem os pássaros da tempestade. Mas os pássaros alcançam seu destino e vivem o seu tempo naturalmente; nós, entretanto, deixamos nossa energia escapulir enquanto tentamos nos apoderar do tempo. E morremos enquanto o tempo vive e segue no infinito Universo de que somos ínfimas partículas. Como então vencer as vicissitudes da vida e aproveitar o tempo?...

Há muitas indagações sem resposta. Nada, nenhuma ciência, por exemplo, foi capaz de evitar a morte. O máximo que consegue é prolongar a vida, porém jamais vencendo o natural desgaste do corpo, que já nasce em entropia e não há homeostase que lhe baste. E o corpo baixa à sepultura tal como a estrela é sugada pelo Buraco Negro: não se sabe o depois... A não ser que creiamos em algo imaterial, metafísico, e nos enveredemos para dentro de nós mesmos até nos encontrarmos com o nosso ente espiritual. Porém, não é fácil ingressar neste processo de autoconhecimento, ele é doloroso, assustador, intrigante, misterioso. Conhecer-se a si mesmo, eis um desafio para o ser humano, porque se trata de processo íntimo, sem interferências exteriores, sem sugestões dogmáticas, filosóficas etc. Significa individualizar-se maximamente e entrar em comunhão total e absoluta como a nossa própria energia, para ampliá-la, até que possamos doar energia positiva para outrem, como, por exemplo, num abraço apertado.

Oh, um abraço!... E muito mais... Abraçar é simples, né?... Ou não? Ora, não é tão fácil abraçar, poupamo-nos desse sacrifício bem mais do que nos dispomos a ele. Abraçamos alguns amores e muitas dores, sim, mas abraçamos pouco. Somos seletivos ao abraçar e sentimos às vezes vergonha de nos abraçar a nós mesmos na solidão que nos cerca. Ora, abraçar é preciso! É bom trocar energias positivas pelo abraço, transformando assim nosso corpo em mais de dois corpos por sinergia a expandir energia além do somatório de dois corpos, fazendo-os três, ou quatro, ou mais... Eis o verdadeiro abraço, que é o abraço da mãe ao bebê e talvez não o seja o da mesma mãe ao mesmo filho crescido. Enfim, não é simples abraçar com entrega, demanda muita força de vontade, muita superação, muito amor a transbordar a luz dos espíritos unidos por laços de profundo afeto. Então... Por que apertamos as mãos e nos abraçamos mais nas igrejas do que em nossas casas?... Que tal partirmos por aí buscando receber abraços e abraçar conhecidos e desconhecidos?... Vamos assim, abraçando tudo e todos? Vamos esbanjar amor às plantas, aos animais e a nós mesmos?

Um comentário:

Paulo Xavier disse...

De uns oito anos para cá adquiri o hábito de alimentar pássaros na minha residência; são canários, rolas, pardais, pombos e uma ave que chamamos por aqui de pocaçu, que Luiz Gonzaga imortalizou na música Asa Branca, isso mesmo, através de pesquisa descobri que a asa branca de Gonzagão é o mesmo pocaçu que aparece por aqui aos bandos, vindos não sei de onde e se alimentam da canjiquinha, do milho e do arroz que eu jogo todos os dias no quintal.
Por diversas vezes sou obrigado a responder a algum curioso porque eu alimento pássaros se eles já encontram comida na natureza. Eu respondo de acordo com a cara do sujeito, ou simplesmente digo que faço isso porque me sinto bem ver os frágeis pássaros fazendo banquete no meu quintal.
Esse texto abriu a minha mente para um detalhe: Da próxima vez que alguém me preguntar qualquer coisa a respeito da alimentação dos pássaros, responderei que "estou abraçando a natureza e trazendo-a para dentro do meu quintal".
Certa vez li em algum lugar "Não corra atrás das borboletas, cultive um jardim e elas virão até você", talvez eu esteja fazendo isso, chamando a natureza atraindo os pássaros.
Bom... mais um belo texto para uma boa reflexão neste domingo de sol. Os jornais estão falando de assassinatos, corrupção e desgraça, mas hoje vou acolher e retribuir o abraço de quem chegar e também cuidar dos meus pássaros...soltos, todos soltos. Cel Larangeira e todos os leitores, recebam o meu afetuoso abraço neste domingo ensolarado. Paulo Xavier