terça-feira, 8 de maio de 2012

A PMERJ e sua controvertida origem


É preciso coragem para crescer e tornar-se o que você realmente é.

(Edwad Estlin Cummings)



A criação das instituições PM



Em 13 de maio de 1809, D. João VI criou a Divisão Militar da Guarda Real da Polícia da Corte, atual PMDF, sediada em Brasília. Em 14 de abril de 1835, foi criada a Guarda Policial da Província do Rio de Janeiro, posteriormente designada PMRJ. Com a ida da Capital da República para Brasília, em 21 de abril de 1960, seguiu com ela a PMDF. Na mesma data foram criados o Estado da Guanabara e a PMEG. E, finalmente, mediante ato baixado em 15 de março de 1975, o regime militar fundiu o RJ com a GB, que se manteve Estado do Rio de Janeiro. Concomitantemente, foram extintas a PMEG e a PMRJ, dando lugar à PMERJ.

A Guerra do Paraguai


A Divisão Militar da Guarda Real de Polícia da Corte (PMDF) participou da Guerra do Paraguai formando o 31º de Voluntários da Pátria. A Guarda Policial da Província do Rio de Janeiro (PMRJ) participou da Guerra do Paraguai formando o 12º de Volutários da Pátria.


A realidade


Isto é coisa de treme-terra!

(frase predileta dos preconceituosos)


Neste ano de 2012, em 14 de abril, em fria solenidade comemorou-se mais um aniversário da extinta PMRJ. Se viva fosse, ela completaria 177 anos. Mas, na realidade, deveríamos prantear a sua morte ocorrida faz 37 anos. Enfim, não há mais o que comemorar na data de 14 de abril, mas tristemente lembrá-la em 15 de março...
Ora bem, desde a malsinada fusão predomina uma incômoda convivência intramuros da PMERJ entre “guanabarinos” (oficiais da extinta PMEG) e “treme-terras” (oficiais da extinta PMRJ). Esta tem sido a regra, embora haja exceções por conta de amizades pessoais neutralizando animosidades típicas de torcidas clubistas. O resto é fingimento...
Ressalvados os “bombeiros” apagando faíscas e fogueiras de ambos os lados (ou de todos os lados), a dissensão desde a fusão obrigava aos treme-terras sonhar com a isenção da futura oficialidade que nascia naquele novo âmbito institucional interno. Infelizmente, porém, não houve isenção alguma: a aversão dos “azulões” (PMEG) aos “treme-terras” ou “joões-de-barro” (PMRJ) penetrou o espírito dos novos da PMERJ e lá fez morada definitiva.
Em resposta ao latente preconceito, − muitas vezes tornado discriminação, − deve-se desde logo assegurar que os treme-terras (PMRJ) não sugeriram nenhuma fusão; e também os guanabarinos não ansiavam por ela, diga-se por amor à verdade. A fusão foi um ato de força que até hoje produz efeitos danosos nos quartéis militares estaduais. E o principal efeito desse dano é desconfiança e desunião em vista de qualquer fim institucional interno ou externo.
A dissensão de outrora e de agora é inegável. Talvez não seja insuportável devido ao bom senso das partes conflitantes ou porque a habilidade dos treme-terras lhes permitiu ocupar algumas vezes o comando da PMERJ, evitando a consolidação das más intenções dos guanabarinos no sentido de isolar e destruir treme-terras como se fossem bactérias malignas. Basta citar o manifesto interesse de alguns poderosos comandantes, chefes e diretores, num passado recente, em acabar com o HCPM/Niterói, − território sagrado de treme-terras, – transformando-o numa tal “Casa do Velho PM”, sem falar do seu sistemático esvaziamento em algumas épocas.
Malgrado o desastre, no início da fusão havia certo equilíbrio de forças, eis que os militares estaduais eram ainda fiscalizados pelo Exército Brasileiro, cujos representantes no comando-geral da nova PMERJ (se é que se pode chamar de nova a junção de coisas velhas) primavam pela impessoalidade no trato dos efetivos unificados como gado pé-duro num curral. Entretanto, a partir do primeiro governo Brizola (1983-1987) os egressos da antiga PMDF que permaneceram na PMEG assumiram o comando da corporação. E a turma nascida na PMEG e na PMERJ logo se abraçou aos “federais” na aversão aos treme-terras. Essa turma alardeava em mudez ou aos gritos que treme-terras nada mais eram que “herança maldita da fusão”. Daí às retaliações implícitas e explícitas foi um pulo...
Iniciou-se assim o conflito interno, resumindo-se na passagem do tempo a única esperança de paz da minoria treme-terra. Supunha esta que os oficiais formados na nova corporação, sem compromisso com dissidências anteriores, seriam imparciais quando alcançassem o posto de coronel e o comando-geral. Esse tempo era, porém, muito longo: eles, os novos, levariam anos para aplacar a histórica dissensão e até sepultá-la. Sim, os treme-terras criam nisso!... Ledo engano, os novos da PMERJ não aplacaram nada! Contaminados pelo cisma disseminado em salas de aula da Academia Dom João VI, muitos deles só fizeram aprofundar a ojeriza aos treme-terras.
Também por aversão à fusão, − e pelas razões aqui resumidas, − os treme-terras permanecem fiéis à sua história. Já aqueles oriundos da PMEG, nascida em 1960, abominam esta data, preferindo festejar 13 de maio (data de criação da PMDF, que se deslocou para Brasília levando-a nas algibeiras). Cabe-lhes, talvez, uma ponta de razão: havia na PMEG um pedaço da PMDF, porque alguns oficiais e praças exerceram o direito de retornar de Brasília.
A realidade é que no início a PMEG não era mais que “clonagem” da PMDF, razão de guanabarinos festejarem em caradura aniversário alheio, bem como os contaminados da PMERJ ainda o fazem, ou seja, exaltam 13 de maio, data que pertence à PMDF. Diferentemente deles, porém, o contingente treme-terra festeja em saudosismo a data de 14 de abril. Para tanto, nos dias de hoje, há a presença fingida (obrigatória) de oficiais nascidos na PMERJ. E assim a banda tocará até morrer o último treme-terra, sendo certo que ninguém mais se lembrará do Hino da PMRJ.
Com efeito, a PMRJ foi extinta, e só existe ou deveria existir como saudade. De uma forma ou de outra, porém, ela independe de abraçar feitos alheios. Por outro lado, a PMDF, criada em 1809, coexistiu com a PMRJ desde a criação desta, em 1835, sendo marco da união de ambas a Guerra do Paraguai (1865-1870), ocasião em que seus efetivos guerrearam como autênticos heróis. Enfim, a PMRJ sempre será o 12º Corpo de Voluntários da Pátria, assim como a PMDF sempre representará o 31º Corpo de Voluntários da Pátria, bem como o meu pai, falecido em 22 de fevereiro de 1957, sempre será meu pai, mas não vivo festejando a data aniversária dele e muito menos a sua morte. E ele continua vivo dentro de mim... Já a PMEG e a PMERJ nasceram sem pai nem mãe, são híbridas de origem...
Indo para Brasília a coirmã, em 1960, e ressalvados os federais que não viajaram para a Novacap, cá sobrou, na Velhacap, uma PMEG sem pai, mãe ou filho, sem heróis ou história, tal como a PMERJ, que nada pode contar anterior a 1975, o abominado ano de sua criação. Mas a oficialidade da PMERJ desde a fusão ignora a PMRJ. Erroneamente, acha-se resultante apenas da mudança de nomenclatura: “PMDF=PMEG=PMERJ”. Ou seja, uma aberrante falsa qualidade.
Nesse imbróglio, fica a PMERJ vazia de história. Porém, e como fazia a extinta PMEG, a atual instituição insiste em cultuar história pertencente à PMDF (compare o site da PMDF com o da PMERJ). E desdenha a PMRJ, e por esta é igualmente desdenhada, e, gostem ou não, é assim mesmo que funciona; com uma diferença: a PMRJ não precisa inventar história... Porque, tal como a PMDF, ela efetivamente a possui.
Sim, a PMRJ e a PMDF são lídimas proprietárias de história reais e imutáveis. Já a PMEG e a PMERJ são proprietárias de quê?... De nada! São usurpadoras!... Pois assim nasceram a PMEG e a PMERJ, frutos de teratogenia decorrente de dois estupros: um em 1960 e outro em 1975... Tal deformidade institucional talvez explique o fato de oficiais formados após a fusão intentarem ser o que não são: “herdeiros da PMDF-PMEG”. Daí cultuarem 13 de maio como data de criação da PMERJ. Parodiando Schopenhauer, em adaptação de sua “peruca do erudito puro”, essa oficialidade usa cabelo alheio para tentar ocultar uma inocultável careca...
Mas, por que será que alguns importantes nomes dessa nova oficialidade demonstram tanta esquivança pela PMRJ?... Vivem pelos corredores se referindo em viés aos treme-terras como se estes fossem intrusos. Fazem-no, sim, porém não lhes podem negar o direito de cultuar sua história, que não foi forjada por coadjuvantes, mas protagonizada por heróis desde 1835 até a sua extinção, em 15 de março de 1975. Com efeito, a indignação saudosista procede, não é invenção, mas reação aos preconceituosos que arrotam despeito por nascerem deformados. Porque eles, sim, abominam a paternidade original, que, no caso deles, não é o início nem o fim, mas um incômodo meio-termo...
Ora, não se entende por que essa nova safra não formou ninho próprio para gerar filhotes a partir do respeito às corporações extintas, sendo certo que a ida da PMDF para Brasília e o fim da PMEG nada têm a ver com treme-terras. Aliás, nem com federais ou guanabarinos, que, no fim de contas, não inventaram o Estado da Guanabara nem Brasília e muito menos a fusão. Portanto, que se manquem os preconceituosos da PMERJ! Que respeitem a corporação treme-terra! Gostem ou não, os desdenhosos devem manter as “perucas” até o fim de suas vidas; ou então que inventem remédio capilar assumindo a natalidade de 1975! É o que lhes resta fazer: assumir a “careca”.
Claro que muitos dos gerados no ventre da PMERJ (vítimas do segundo estupro da fusão) abominarão esta manifestação, tachando-a de tola, recalque treme-terra etc. Pode ser... Mas foi assim a história e é assim que ela se desenrola, e eles e elas terão de assumir que não apreciam treme-terras por dupla imitação: dos vazios de história da PMEG (nascida do primeiro estupro: criação da GB) e dos federais (PMDF), que, ao retornarem de Brasília à PMEG, produziram a primeira dissensão entre eles próprios e os guanabarinos. Isto antes da fusão, o que não é problema de treme-terras, estes que enfrentam a aversão de ambos, assim como sofrem o desdém de alguns novos da PMERJ que não desejam coisas boas na velha província fluminense, como, por exemplo, o HCPM/Niterói e o Colégio da PM. São, portanto, todos contra um, com ressalva de pouquíssimas exceções...
Ora bolas!... Não seria mais coerente fixar a data de 15 de março de 1975 como a da criação da PMERJ, para lembrar que todos os “com história” e “sem história” são vítimas de estupro político? Não seria melhor que todos se colocassem no mesmo saco e se olhassem com mais respeito?... Não seria mais conveniente abrir o diálogo?... Não seria óbvio respeitar o passado para forjar o futuro?... Afinal, até quando o micuim permanecerá coçando tantos narizes empinados?... Não seria útil aos oficiais da PMERJ alimentarem a coragem de ser o que realmente são assumindo principalmente o que não são?... Sim, este é o desabafo dum treme-terra que não engole as ironias de quando em quando expelidas do boquirroto de importantes agaloados usurpadores de feitos e feitios alheios.
Basta de preconceito dessas mentes ocas do andar de cima ao perceberem a histórica cabeleira dos treme-terras, esbranquiçada, sim, porém firme, eis que cultivada em honra de lutas passadas e recentes. Melhor seria que os oficiais recém-formados, principalmente, e os cadetes, reavaliassem esta deformada cultura institucional e finalmente identificassem um único valor corporativo: o da nova PMERJ.
Melhor seria somar histórias reais tornando-as uma só história e renovando-a em originalidade, em vez se continuar a absorver cultura cunhada em desavenças; melhor seria desvelar uma identidade própria e criar um mundo novo intramuros dos quartéis. Afinal, depois de abafado o recalque de federais, guanabarinos, treme-terras e usurpadores de si mesmos, qualquer data será boa para todos aniversariarem em fraternidade corporativa...
Neste ponto, e por questão de justiça, ressalto positivamente o Movimento dos “Coronéis Barbonos”, grupo formado por turma posterior à fusão (1976-1978), que tentou pela primeira vez assumir identidade própria, inclusive influenciando na escolha de um comandante-geral saído dessa primeira leva de posto máximo após a fusão: o ilustre Coronel PM Ubiratan de Oliveira Ângelo. Talvez o movimento entrasse para a história como um marco indelével se não esbarrasse em muitos abismos cavados anteriormente e ainda intransponíveis. Não sei o que faltou. Talvez (quem sabe?) faltasse uma tese capaz de garantir sua imediata legitimidade perante a tropa de oficiais e praças...
Sei, porém, que alguns egressos da PMEG e da PMRJ muito atrapalharam nos bastidores a luta franca do novo grupo em busca de representatividade isenta. Mas não importa, pelo menos hoje se pode dizer que pela primeira vez os novatos da PMERJ se assumiram, embora à custa do sacrifício de praticamente todos os “Coronéis Barbonos”. Eles tiveram suas carreiras encerradas a muque depois de amargar traições inesperadas. Não sei, todavia, se o movimento feneceu. Anseio sinceramente que não, pois, sob o aspecto histórico, o Movimento dos “Coronéis Barbonos”, que motivou a criação dos “40 da Evaristo”, numa alusão também ao QG da PMERJ, tinha tudo para vencer. Tivesse o movimento ido adiante, teríamos o renascimento da PMERJ. Não mais a consequente de estupro, mas a do redesenho de um destino corporativo independente e altaneiro, sem, entretanto, desmerecer os integrantes das corporações extintas, todos praticamente na inatividade, mas vivos e participativos no âmbito de suas verdades ou ilusões.
Quem sabe então os “Coronéis Barbonos” convoquem novamente os “40 da Evaristo” e todos mais que se agradaram do movimento para traçar uma nova rota de reconstrução da história da PMERJ a partir de 1975, ano que é, na verdade, apenas um marco no calendário?... Mas se, em vez da idéia de início ou fim de duas corporações, uma data fosse iluminada pelos holofotes do nascimento de uma nova PMERJ, sem mais meio-termo, todos nós, – federais, guanabarinos e treme-terras, – todos nós teríamos com quê e com quem nos orgulhar.
Eis como descansaríamos em paz: sabedores de que os novos finalmente se desvencilharam do passado e da subserviência como a seta se desvencilha do arco depois de disparada ao alvo. Se a seta não o acertou na primeira tentativa, que se dispare outra, mesmo a contragosto daqueles buropatas que preferem o servilismo e a “buropatia” ao amor corporativo conquistado a sangue, suor e lágrimas por seus antepassados.
Cá entre nós, só os “Coronéis Barbonos” (ativos e inativos) e os “40 da Evaristo” (ou algo que fisicamente os representem) estão aptos a liderar a reconstrução de uma nova PMERJ (quem outro Seminário sobre a polícia que nós queremos?). Quanto a nós, federais, guanabarinos e treme-terras, só almejamos respeito e consideração, como se fôssemos um Conselho Tribal diante do qual os jovens guerreiros se curvam em consideração à sabedoria dos velhos conselheiros, estes que, porém, não almejam o poder, mas a preservação da PMERJ fundamentada no amor corporativo unificado.
Urge, sim, refazer a história, para unir a PMERJ contra seus detratores que hoje vendem quartéis e anunciam a disposição de “acabar com o conceito de aquartelamento”. Essas vozes políticas, casuais, efêmeras, diferentemente do que aparentam, não são isoladas e podem eternizar suas loucuras. No fim de contas, elas fazem parte de um contexto ideológico defendido por extremistas que odeiam indistintamente os militares estaduais, sejam eles “Azulões”, “Treme-Terra”, “Federais”, “Guanabarinos” ou “Novatos”. Eles não almejam outra coisa a não ser destruir as bases históricas de corporações que se uniram contra a vontade, mas que trazem do passado muito sangue derramado em guerras, revoluções e combate ao crime. E os militares estaduais não podem fugir à luta, até que possam todos exclamar:



“Juntos somos fortes!”

Um comentário:

Anônimo disse...

Morte a Padrone...