quinta-feira, 3 de maio de 2012

As chaminés e os gambás

Embora a autoridade seja um urso teimoso, muitas vezes, à vista de ouro, deixa-se conduzir pelo nariz. (William Shakespeare)


Hoje o eixo novacap-velhacap fede mais que gambá urbano. Há todos os odores e para todos os olfatos... E como os ratos, com os quais às vezes se confundem, os gambás se ocultam de dia e saem à noite para passear atrás de alimento. De repente, porém, a fuligem entupiu muitas chaminés e os gambás pularam fora em plena luz do dia, sujos de dar pena. Apavorados com a inadvertida vassourada dos faxineiros, os bichinhos estão a espalhar fedentina na novacap e na velhacap. E cercanias... São tantos gambás que muitos não serão capturados nem vistos pelos caçadores. Diga-se de passagem, caçadores propositadamente estrábicos, ou cegos, ou sem óculos, ou de lentes sujas, para não enxergarem os gambás graúdos que precisam ficar à solta para garantir a sobrevivência da espécie.


No fim de contas, sofrerão os filhotes, estes sim, incapazes de se ocultar ou se defender dos ataques desnorteados de inexperientes caçadores. Ou, em contrário, dos melhores caçadores, porém orientados a seguir uma trilha inversa à da caça que já passou e por ela jamais tornará... E assim os gambás graúdos ocuparão novas chaminés e ocultarão seus miasmas, até que vislumbrem nova oportunidade de saírem na escuridão a revirar o lixo urbano. E vencerão o tempo, resistirão ao desastre escondidos em suas tocas improvisadas, até que a bonança lhes retorne e seu principal alimento seja aos poucos resgatado: o suado dinheiro público a ser novamente surrupiado. Sim, estará nos cofres como se fora lixo inservível – mero alimento de gambás. Os gambás são os políticos, os empresários e semelhantes...

Claro que alguns gambás foram capturados e estão no espeto da churrasqueira. Em especial aqueles mais tenros e fáceis de deglutir. Os mais cascudos, porém, além de federem muito e contaminar o ambiente, poderão identificar outros gambás travestidos de caçadores, estes que um dia se tornarão caça, e caçadores, e caça, e caçadores, neste círculo vicioso que gira em eternidade planetária... Mas gambá velho tem carne dura. Melhor então dar-lhe fuga fingindo cegueira. Melhor que não soltem seus maus-cheiros de caminho. Que então sumam do mundo e nunca mais nele se apresentem para ameaçar a ninhada que permanece nas trevas do desconhecimento de suas trilhas e ninhos – as chaminés! Porque não limparão todas as chaminés, é demasiadamente arriscado...

Um comentário:

Paulo Xavier disse...

Quem sabe algum dia, um desses gambás não tome coragem e publique tudo num livro, como fez o ex-Delegado Claudio Guerra (Memórias de uma guerra suja) ou se arrependa e conte tudo para todos saberem o que muitos já sabem, inclusive os míopes, os cegos e os de óculos vencidos.
Como somos tolos, como somos enganados por essa corja que fede mais que os próprios gambás.