sexta-feira, 13 de abril de 2012

Niterói no foco da segurança pública




Vou pouco comentar sobre UPPs; e reitero não crer na migração de bandidos do Rio de Janeiro como principal causa do acirramento do crime em Niterói, como também não sei se apenas está havendo mais divulgação, pela mídia carioca, de fatos criminosos que ocorriam, ocorrem e ainda ocorrerão na “cidade-tristeza”, bem como nos demais municípios do antigo RJ. Para mim, a mídia visa a tranquilizar os turistas alienígenas e tupiniquins que têm na Cidade Maravilhosa a principal referência de hospedagem, diversão e descanso. As demais cidades, quando muito, recebem visitas rápidas e poucas permanências, com ressalva dos grandes feriados em que os cariocas avançam em massa para as Regiões Serrana e dos Lagos e para a Costa Verde. Enfim, o fechamento do comércio em locais com UPP é pura ilusão, que venham os turistas, os bandidos "não estão na Cidade Maravilhosa"!...
Relevo aqui a capacidade de mobilização e de rápida resposta da SSP às pressões por mais policiamento em Niterói, somada a algumas incursões policiais civis e militares em locais nevrálgicos de São Gonçalo. Claro que a velocidade de reação da polícia é fator preponderante para suprir o “cobertor curto” das polícias civil e militar, que trabalham em escala, deste modo diluindo o efetivo em quatro partes (escala 24hx72h ou 12hx48h ou algo que o valha), salvo algum erro superficial nesta minha avaliação. Nas duas instituições (mais na PMERJ e menos na PCERJ), há um indispensável efetivo de retaguarda nos quartéis e nas delegacias. Demais disso, devem ser consideradas as naturais baixas por férias, licenças-prêmio, afastamentos por doenças, restrições médicas ao serviço de rua, policiais sub judice impedidos de atuar, detenções e prisões disciplinares etc. Daí ser possível concluir que não é fácil fazer polícia sem recursos materiais e humanos suficientes. Também não é fácil determinar o efetivo ideal de policiais em vista da turbulência ambiental, que não mais permite o estacionamento perene de grandes efetivos, exceto nas UPPs, que vejo como espécie de policiamento complementar ou extraordinário tornado rotineiro.
Esses policiamentos complementares ou extraordinários são deveras úteis no policiamento de grandes eventos artísticos, religiosos e desportivos, dentre outros que ocorrem no cotidiano das sociedades cujos segmentos se manifestam nas ruas sem uma frequência de data-hora-local, o que obriga à polícia, em especial à PMERJ, agir rapidamente, para tanto possuindo planos emergenciais em vista de experiências anteriores. Deste modo, não é exagero afirmar que a pronta resposta em Niterói, como veiculada, atende ao princípio da rápida mobilização e do redirecionamento da tropa com o elemento de força nitidamente superior ao poderio dos bandidos. Também a escolha dos locais de Niterói para a ação (reação) foi perfeita sob o aspecto da demonstração de força onde sabidamente os traficantes-mores se concentram – suas fortalezas do tráfico citadas na matéria em destaque.
Tal como a UPP, que para mim é um DPO (Destacamento de Policiamento Ostensivo) em rótulo mais enfeitado, a ação concentrada de duas companhias somadas a outras frações de tropa especiais é modelo conhecido e pouco usado fora da capital. Pode ser, – depois dessa experiência, que, claro, depende bastante da atuação da coirmã na investigação criminal, assim como da inteligência policial de ambas as instituições integradas num só corpo de atuação, trocando informações, – pode ser que o modelo seja deslocado para qualquer município em ações semelhantes. Para tanto, é mais que óbvia a necessidade de bem diagnosticar o ambiente, de modo que as ações ostensivas e veladas tenham endereço certo: bandidos identificados e com prisões temporárias e/ou preventivas decretadas. Pois não há muita lógica numa ação aparatosa, como esta que ora assistimos, dependente apenas de eventuais e aleatórios flagrantes em homizios onde não é difícil ocultar armas e drogas antes da chegada da polícia. Ficam os marginais com “cara de paisagem”, enquanto a polícia rodopia sem saber quem é quem no tráfico da localidade aparatosamente ocupada.
Tudo bem. O importante é responder com demonstração de força e bastante mobilidade no terreno. No fim de contas, sabemos que nenhuma tropa regular, por mais poderosa que tenha sido, logrou vencer alguma guerra de guerrilha urbana ou rural mundo afora; e é assim que os ilustrados marginais se organizam e agem no terreno urbano: como guerrilheiros. Eles possuem todos os ingredientes da guerrilha urbana: ideologia do lucro, sigla conhecida e temida, tecnologia de ponta, carros velozes (furtados, roubados ou comprados), material bélico de alto poder destrutivo, dinheiro à vontade e capacidade de mobilização de novos membros para as quadrilhas nas próprias comunidades, com preferência para adolescentes e adultos jovens treinados pelas Forças Armadas. Somam-se a este aparato marginal os ex-policiais que ingressaram nas instituições estatais já bandidos formados ou que inverteram o rumo e se associaram ao crime. E um destaque especial à maldita corrupção policial que embola o Bem com o Mal...
Enfim, engana-se quem pensa vencer só com polícia uma criminalidade complexa como a que sentimos na carne. A questão é complicada e depende da participação de muitos organismos públicos, como dever, e de toda a sociedade, como responsabilidade. É como está na Carta Magna, e, portanto, ao cidadão não cabe apenas reclamar do caos sem sair de sua confortável poltrona a ver tudo pela tevê. Pois chegará o dia em que ele será dominado por facínoras armados dentro do seu lar, experiência que não almejo para ninguém, porquanto as que eu vivenciei enquanto no serviço ativo foram terríveis para as famílias atingidas. Daí não adiantarem muito essas manifestações de rua pedindo paz, com os participantes ávidos pelo almoço, sentindo-se dignos de aplauso pela “missão cumprida”, até o próximo assalto e a morte de alguns entrevistados antes felizes pelo minuto de fama na telinha da tevê, para alegria da família, que decerto gravará sua aparição para o repeteco festivo sem pensar na tristeza futura...

4 comentários:

Emir Larangeira disse...

Emir Larangeira disse...
faço eu mesmo o primeiro comentário em vista de matéria publicada no Jornal O GLOBO de hoje, 14 de abril. Trata-se de tentativa de invasão do morro do Palácio, no Ingá, por bandidos da Favela Nelson Mandela, de Manguinhos. Essas tentativas são antigas, e não me seria difícil listar exemplos. Cito um: a invasão do morro Souza Soares e parte do morro do Cavalão e sua retomada sangrenta, faz anos, com os favelados ocupando a Rua Mário Viana enquanto aguardavam o fim das escaramuças que culminaram com a reconquista do território pelos traficantes locais antes expulsos.
Há na matéria de hoje declaração do reitor da UFF, lembrando que "o entorno do campus vem sofrendo há anos com assaltos..." Não sem antes reforçar a ideia da migração, por impregnação psicológica, embora os bandidos não pertençam a nenhuma favela pacificada.
Ora, a verdade é que Niterói e São Gonçalo, tanto quanto Maricá e Itaboraí, são municípios dominados predominantemente pelo CV e menos pelo TC. Claro que escaramuças acontecem, assim como o processo de ocultamento de bandidos procurados (os de lá vindo para cá e vice-versa) faz parte da rotina deles. Mas isto, mais uma vez, não pode ser atribuído às UPPs, os fatos desmentem os discursos reducionistas.

14 de abril de 2012 05:06

Anônimo disse...

Queria que o mundo se acabasse logo, mas com fogo, porque com água "eles" ficariam vivos já que m.... não afunda.

Paulo Xavier disse...

O Brasil tem jeito, o seu povo é ordeiro e trabalhador, a mãe natureza é prodigiosa com nossa terra e nossa gente e temos tudo pra sermos chamados de primeiro mundo. O que está faltando? Onde está o erro?
O cidadão informado sabe as respostas, mas parece que está faltando coragem para se sair da teoria e por em prática o que os nossos governantes já sabem.
Parece que os nossos políticos tem medo de criar leis duras que vão minimizar o efeito da violência que nos atormenta.
Ninguém quer discutir pena de morte para crimes hediondos; menoridade penal e trabalhista a partir dos 16 anos; precisamos rever o nosso Código Penal e Código de Processo Penal ultrapassados; melhorar e muito o investimento em educação, ciência e tecnologia; precisamos de um choque na nossa cultura, onde a sensualidade e carinhas bonitinhas na tv é que está dando ibope e vai por aí a fora.
Aí o que vemos é a violência crescendo e o povo reclamando principalmente da polícia, que faz o que pode, já que a raiz do problema é mais lá embaixo, ou lá emcima , sei lá....

Consciência Política PM&BM disse...

Entenda que para conseguir mudar alguma coisa de interesse das corporações devemos saber que somente no Congresso é que poderemos, não digo que devemos esquecer as Câmaras Estaduais, não, mais devemos ter em mente que somente quando o Policial e Bombeiro Militar do Brasil quiser as mudanças preiteadas atendidas terá que ter uma bancada forte de deputados, assim teremos como muda a cara das PM e BM do Brasil, então temos que mudar o nosso foco, batalhar por reconhecimento, devemos ter em mente que somente assim conseguiremos as mudanças que queremos.

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