quinta-feira, 8 de março de 2012

O CORDEL DA AME/RJ

Ponho aqui, exatamente como publicada, a Literatura de Cordel intitulada "O Belo e o Deputado", de autoria do cordelista João Batista Melo, ciceroneado pelo ilustre Cel PM Cícero (Cícero do Maranhão), um dos baluartes da chapa perdedora liderada pelo Excelentíssimo Senhor Deputado Estadual Paulo Ramos. Excelente! Grande ideia! Porém merece resposta (Obs.: fiz uma ligeira alteração do meu título depois da postagem, corrigindo um "ato falho" por mim cometido), o que farei na maior caradura logo a seguir, já que nas entrelinhas do cordel fui anotado, e sei quando um pingo é letra...


















































































































































O Belo e a Fera

1


A versão que ora conto
É moeda d’outro lado
É resposta ao cordelista
Competente no sarcasmo
Fingindo num elogio
A derrota recalcada
De perdedor chateado.

Não desmerece, entretanto,
O talento apurado
Do bom autor que verseja
Assumindo o lado fera
Da chapa toda animada
Que não contava a derrota
E culminou naufragada.

Talvez só por causa disso
De um verde amarelado
Diante do azul do céu
Do nosso Deus mui amado
Que deu vitória ao mais justo
E bem mais abalizado
Sem mandato deputado.

Coronel, apenas, sim,
O líder da chapa azul
Derrotou seus oponentes
Que estavam tocaiados
Fingindo todos de mortos
E depois muito apressados
Marchando de passo errado.

2
O artista bom de verso
Conta a prosa do seu jeito
O seu lado da moeda
Para o alto, arremessada
Perdendo seu preferido
O ilustre deputado
Uma eleição arretada.

O “final inesperado”
Segundo diz o cordel
A demonstrar um passado
Bem antigo e conhecido
Um salto de paraquedas
Em parafuso, fechado
Que tombo desengonçado!...

Por outro lado, porém,
Sem o foco na disputa
Emerge no cordelista
Uma verve de isenção
Ao refazer a história
Com maestria invulgar
Repleta de emoção.

A AME, sim, é verdade
Já viveu a sua glória
Num tempo muito passado
De sua invulgar história
De coragem e energia
De união e firmeza
Que hoje foi resgatado.

3
A vitória do mais simples
Ao enfrentar deputado
Cuidou da veracidade
Respeitando cada um
Dos seus mil associados
E mais cem e uns quebrados
Quase nada animados.

Assim é que do total
Desses tantos eleitores
Trezentos e dezenove
Atenderam aos clamores
De duas chapas partidas
Produzindo um resultado
Sem vencidos ou vencedores.

Não houve politiqueiros
Nem também politicagem
A correção do discurso
E a assertividade
Resumiram, é verdade
A deserção coletiva
Um dano à entidade.

Saiba senhor cordelista
Que o “coronel do blog”
Não foi nada “imprudente”
Apenas bateu pesado
Numa chapa enganadora
Que cantou vitória antes
Em tocaia indecente.

4
Devo dizer, entretanto,
Do divertido cordel
Lembrando a cobra coral
Enfiada na moitinha
Da catinga do cangaço
A se fingir inocente
Pra dar o bote fatal.

Os elogios rasgados
À chapa da oposição
Por amizade, sem dúvida
Ao irado perdedor
Que é gente boa, sim,
Mas do coração treme-terra
É pouco conhecedor.

Na verdade o “padim Ciço”
Que é “atleta sarado”
Desconhece treme-terra
Não conhece o outro lado
Daí a derrota feia
“Inesperada” por ele
E amarga como o Diabo.

Quem sabe não foi castigo
Do vice “santificado”
Nesta licença poética
Que não traduz a verdade
Dum “padim” muito zangado
Dando-lhe troco na urna
Tornando-o um derrotado.

5
Mas a dura realidade
Foi derrota de dois lados
Que se deveriam unir
Por laços bem apertados
A lembrar a entidade
Do tempo do Alexandrino
Coronel muito arretado.

De qualquer modo, porém,
Eu louvo o cordelista
Arguto como ninguém
Ao versejar sobre a AME
Caprichou no “vaivém”
Em ironia sagaz
Merece meus parabéns!

Porque como um bom cordel
Seus versos escorrem fáceis
Mangando no tempo certo
Ferindo como convém
A chapa azul, ganhadora,
Defendendo a chapa verde
Uma infeliz perdedora.

Coitado do bom Soares
Morreu triste, com certeza
A se ver esculhambado
Nesse cordel mui matreiro
De poeta experiente
A atacar sem perdão
Este homem muito honrado!

6
Mas é assim a disputa
É quase que futebol
Sem canelada é defeito
Até o apito final
Como também é a birra
De perdedor arrufado
Chorando mui arrasado.

Não se amofine, porém,
Cordelista genial
Que joga o jogo da vida
E põe corpo no varal
Pra receber a solina
E assim também se arriscar
A receber temporal.

Muitos vivas ao Guerrinha
Viva ao Dias e ao Monteiro
Vida longa pro Rangel
São todos grandes guerreiros
Dos quais a AME precisa
Pra que tenha um futuro
Deveras alvissareiro!

E também ao deputado
Que no futebol é craque
Como Neymar lá no Santos
Apanhando além da conta
Dos times adversários
A ele, que é gente boa,
Fica aqui o meu abraço!

7
Perdão também ao poeta
Que não deixo sem resposta
Embora nem tanto hábil
No versejar em cordel
Eu rimo de qualquer jeito
Mostro também meu pensar
Em poema irresponsável.

O cordel é uma delícia
Foge à minha competência
Sou um homem independente
Não cuido de saliência
Eu não sou “situação”
Nem tampouco oposição
Por questão de coerência.

Se não me gostam do estilo
Com que jogo na política
Não vivo contando história
Eu sou um associado
E escolho qualquer lado
E quando entro na guerra
Eu só penso na vitória.

Malhei na medida certa
Se mudem os incomodados
Não cheguei a ser “cavalo”
Do qual não guardo aparência
Entendi o seu recado
Isto sim é saliência
De algum desesperado.

8
De “manco” não tenho nada
Nem meto o pé no “batente”
Tenho feitos e feitios
E amor de muitas gentes
Sofro por isso a inveja
Pior de todos os males
Sou, porém, indiferente.

De tudo que se contou
No cordel impetuoso
Gravado em hora raivosa
De quem contou a história
Pra inspirar o poema
Ao estilo nordestino
Eis aí a minha glória!

Agradeço a citação
Do prezado cordelista
Abraçando ira alheia
De quem não sabe perder
E não pensa no amanhã
Gastou com certeza o tempo
Não logrando me ofender.

Não faz mal, tá tudo certo
Outras disputas virão
Que mudem eles de tática
Para aumentar o cordão
Dos votantes associados
Que marcaram a chapa azul
Tostando a verde na chapa.

Vou parando por aqui
Sem citar o meu rival
Que, pelo visto, afinal,
Não aprendeu a perder
E avançou o sinal
Em daltonismo vermelho
Viu o verde e se deu mal.

6 comentários:

Luiz Monnerat disse...

Amigo Larangeira,
se esta foi a sua primeira experiência como cordelista, fica até inacreditável o feito, pois vc botou no bolso o cordelista 'contratado'. Parabéns, continue a cultivar esse filão, pois 'a encomenda saiu melhor do que o soneto'!
Abs,
Monnerat

josé beltrão disse...

Larangeira,inteligente e oportuna sua investida na literatura de cordel,que retrata oa sabedoria e humor do povo nordestino.Não fique apenas nesta iniciação,continue nos brindando com sua inspiração.
Beltrão.

Luiz Monnerat disse...

Um irmão telefonou para apontar dois escorregões no meu breve comentário: o primeiro foi no "cultivar filão", eis que filão não se cultiva; o segundo, mais complicado, no uso da expressão incorreta "a encomenda saiu melhor do que o soneto", pois o certo é "a emenda saiu pior que o soneto". Confesso que concordo com o fato de que é não usual cultivar filão, pois feijão é que se cultivaf e que o melhor seria explorar o filão. Dou, assim, a mão à palmatória. No segundo, penso que inverti o sentido da expressão justamente para fazer contraponto ao ditado inicialmente cunhado, dizem, por Bocage. Caso o usasse estaria desmerecendo o trabalho ao qual desejava elogiar.
De qualquer forma, deixo expressa a intenção de que desejei afirmar que o Larangeira é um cordelista substantiva e adjetivamente apetrechado. Tenho dito e mais não adianto para passo dado não recuar. Amém.

Emir Larangeira disse...

Na verdade, irmão, a licença poética nos permite cultivar filão de qualquer coisa e feijão para alcançar os céus. Quanto ao vocábulo 'encomenda', aí sim a emenda ficou melhor que o soneto, pois o Cel Cícero decerto 'encomendou' o cordel ao artista amigo dele, que, em consideração à narrativa do acontecimento, teve o seu nome inserido na autoria do cordel. Ademais, você pôs a citação entre aspas, e mesmo se não o fizesse, o aforismo já é universalizado e com certeza ficou perfeito o vocábulo 'encomenda'. Bjs. no coração.

Cel Freire disse...

Cel Freire disse

Prezado amigo do repente que se mostrou competente rebatendo acusação,usando com maestria a forma nordestina de maneira
repentina pra rebater com coragem e razão. Larangeira li os dois textos e a mim me pareceu que você escondia mais esta sua
capacidade literária e que no momento certo eclodiu de uma forma fantástica. Maricá, não sei porque sempre me pareceu uma
cidade do nordeste. Será influência do ar? De qualquer forma, apesar da literatura de cordel ser usada para a narrativa de fatos
do cotidiano em versos e em linguagem popular, observa-se, comparando os dois textos,que não há pobreza nas palavras usa-
das por você. o que não acontece com o outro texto. Rima pobre não implica em linguagem pobre sem necessariamente en-
trarmos no campo da linguagem culta. Abraços. Freire

Emir Larangeira disse...

Valeu, Cel Freire! Mais uma aula profícua que recebo do meu eterno mestre da língua pátria dos tempos de cadete.